13 de nov. de 2020

A estratégia na beira do cais

 Para se desvincular do acordo coletivo sem ter que passar por um processo de negociação em que não tenham força suficiente para ganhar suas reivindicações, as estivadoras parecem ter encontrado seu trunfo estratégico.

Assim como fizeram com o Partido Popular em nível estadual, as empresas que promoveram a reforma mais prejudicial para os estivadores dos últimos 30 anos, Bergé Maritima e (CSP cosco), seguidas por SLP e Toro e Betolaza, superdimensionam os efeitos de uma greve que os trabalhadores consideram induzida, dado o percurso negocial do ano passado.

A estratégia não é nova e pode-se sentir a mão de Juan Aguirre e Elías García, que podem ter vontade de explorar trabalhadores submissos.

O porto de Bilbao conta com um Ogmo com  100 bagrinhos há 12 anos, que se encarregam continuamente das tarefas de engate, limpeza e peação  delimitadas no grupo 1 do acordo. Com uma média de 15 engajamentos  mensais, ninguém podia classificar o seu trabalho como avulso, ainda mais considerando que os apelos diários dos últimos anos evidenciavam que os atuais quadros da CPE (empresa auxiliar criada entre as quatro centros de mão de obra  para distribuir trabalhadores todos os dias, dependendo das necessidades diárias de cada um) não conseguia dar conta.

Vale ressaltar que, diante dessa necessidade de pessoal, a decisão delas nesta greve é ​​de deixar de engaja-los. Se antes da greve demorava (e muito) o atendimento às tarefas de carga e descarga, podia-se entender que em situação de greve e dado que a Capitania dos Portos fixa - de forma sistemática e sem negociação, seja qual for o formato da greve apresentado - um serviço mínimo de 50% do desempenho em relação ao ano anterior, seria necessário que esses trabalhadores fossem engajados.

Mas a interpretação que os estivadores fazem dos serviços mínimos tem mudado ao longo deste mês, para acomodar sua estratégia.

No início da greve, geravam encomendas diárias para o dobro do pessoal necessário (embora não houvesse pessoal suficiente na mão-de-obra, nem meios mecânicos para cobrir) com o objetivo de que 50% do que era solicitado fosse 100% da sua necessidade real. Isso foi efetivo quando as paradas previstas pelos trabalhadores foram breves (horas) ou em dias únicos.

Mas, como eu dizia, uma vez que ficou claro para eles que a única solução possível para se safar era a intervenção política ou a arbitragem não negociada, eles abandonaram a ideia de minimizar os efeitos da greve e partiram para o contrário. Eles pararam de escalar os 100  bagrinhos e empregaram pessoal da pior forma possível para aumentar as filas de caminhões nas proximidades do porto e fora de estoque para empresas que dependem de abastecimento de carga geral.

Quando normalmente são utilizados 14 rtgs, nos turnos matutino e vespertino (14 + 14) para atender ao tráfego de contêineres sobre rodas, a CSP (Cosco) está solicitando 7 e apenas no turno matutino. Quando normalmente abre vários gates para a entrada de caminhões no terminal, houve dias em que apenas um deles estava operacional.

Nos turnos noturno e fim de semana, o pessoal não é solicitado ou o pessoal está organizado de tal forma que não pode ser coberto.

Mas onde a falta dos 100 bagrinhos é realmente sentida é nos navios que os ternos  ficam incompletos por falta de pessoal. Barcos que devem esperar ancorados ou atracados e não recebem manutenção. E em meio a todo esse descontrole, eles se dão ao luxo de acusar o pessoal de não cobrir os serviços mínimos.

Na liberação das mercadorias, as empresas  decidiram pular o acordo firmado em 2019 e subcontratar essas tarefas comerciais com empreiteiras (com pessoal insuficiente e inexperiente), constituindo um dos principais ataques à estabilidade do setor no Porto de Bilbao, Principalmente quando a decisão de rasgar o acordo veio com a mesa de negociações aberta e quando a comissão de trabalhadores solicitou um dimensionamento da força de trabalho que reduziria o caráter temporário da força de trabalho.

É claro que os trabalhadores convocaram uma greve para dar a conhecer seu protesto diante das agressões e da grosseria dos patrões, mas o objetivo da greve não é causar danos irreparáveis ​​à economia do porto ou a qualquer de seus agentes. No entanto, as empresas mostram seu lado mais psicótico ao ignorar as consequências de bloquear as negociações em busca de uma solução política.

As greves foram convocadas de forma progressiva e espaçadas no tempo para deixar espaço para diálogo e negociação. Mas eles decidiram não se sentar, eles não estão interessados. Eles querem uma mão amiga para fazer o trabalho que não podem fazer na negociação. Que alguma arbitragem política ou alguma intervenção das instituições lhes dê o que não podem ganhar negociando com os trabalhadores.

A denúncia de quebra de acordo segue em andamento, mas até que chegue a data do julgamento, as empresas continuam operando tarefas  com furas greves e com  segurança  policial. Os bagrinhos continuam sendo despedidos de suas casas, navios permanecem sem vigilância e milhares de caminhões e seus motoristas permanecem reféns da ambição de quatro empresas que viram sua oportunidade de ouro na crise. 

https://www.elsaltodiario.com/el-blog-de-el-salto/empresas-estibadoras-maniobran-sobredimensionar-efectos-huelga-puerto-bilbao?fbclid=IwAR3-jvvwXRlvLrjRylzcy9zUUSdjZHjmPi5PRDATQALNQfIkiapJr9tOm-I

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