Os acidentes sempre existiram e sempre existirão parte dos eventos ocorridos na beira do cais, e isto pode explicar, o porquê de considerá-los como um problema social. É verdade que os acidentes podem ocorrer em todos os lugares e em diversas circunstâncias, e derivar de múltiplas causas. Esta fatalidade social à qual todos estamos sujeitos depende dos riscos e dos perigos que corremos ao longo das nossas vidas.
Os acidentes são eventos que ocorrem de forma repentina,
mas às suas causas podem estar associados, simultaneamente, fatores sincrónicos
e diacrónicos. (Areosa e Dwyer 2010) Em sentido etimológico, o termo “acidente”
significa qualquer evento não planejado, fortuito, imprevisto e fruto do acaso.
Na beira do cais um acidente é entendido como algo impiedoso e que provoca
danos e prejuízos a família.
Marx e Engels foram dos primeiros autores a debater as
condições adversas para a saúde e segurança dos trabalhadores. A reflexão de
Marx (1966) incidiu sobre a questão da tecnologia devido a está poder gerar a
diminuição da necessidade de mão-de-obra. Após a emergência do taylorismo e da
organização científica do trabalho os operários não perderam apenas a sua
profissão, enquanto arte ou ofício, padeceu também o seu próprio estilo e ritmo
de trabalho, bem como o controlo sobre os seus movimentos. De certo modo, foram
transformados em colaboradores direcionados exclusivamente para maximizar a
produção.
Será este o problema enfrentado nos portos o sequestro da
cultura profissional do estivador.
Os acidentes de trabalho não são acontecimentos passíveis
de ocorrer numa espécie de “vácuo social”; pelo contrário, eles percorrem
globalmente no mundo do trabalho.
Os acidentes deixaram de ser concebidos apenas como
fenómenos fortuitos e individuais, passando também a ser integrados na sua
análise de fatores sociais e organizacionais (Hovden, Albrechtsen e Herrera,
2010). A história dos acidentes de trabalho tem demonstrado que, à medida que
se vão reduzindo certos tipos de acidentes, também vão emergindo novos tipos de
sinistralidade (Dwyer, 2000). Qualquer local de trabalho implica a presença de
determinados perigos, variáveis de organização para organização. Deste modo, os
acidentes de trabalho decorrem da presença de perigos e da exposição dos
trabalhadores aos riscos laborais (Areosa, 2003, 2005).
Qual e a visão sobre os níveis de risco entre quem organiza
o modelo de trabalho e os próprios trabalhadores que fazem e desfazem a
lingada? Se o operador portuário estipula um procedimento operacional como
seguro, mas os trabalhadores a consideram insegura, podemos entrar aqui na
polémica discussão entre as perspectivas de riscos “objetivos” e riscos
“subjetivos” (Sjoberg, 1999).
AREOSA, João (2003), “Riscos e acidentes de trabalho:
inevitável fatalidade ou gestão negligente?”, Sociedade e Trabalho, 19/20,
31-44.
AREOSA, João; DWYER, Tom. Acidentes de trabalho: uma
abordagem sociológica. Configurações. Revista Ciências Sociais, n. 7, p.
107-128, 2010.
DWYER, Tom (2000), “Novas fronteiras nos estudos do
trabalho”, in Encontro anual da ANPOCS, Petropólis, 1-24.
Marx, Karl (1966 [1867]), O Capital, São Paulo, Editora
Nova Cultural Ltda.
SJOBERG, Lennart (1999), “Risk perception by the public and
by experts: A dilemma in risk management”, Research in Human Ecology, 6, 1-9.
HOVDEN, Jan, ALBRECHTSEN, Eirik & HERRERA, Ivonne
(2010), “Is there a need for new theories, models and approaches to
occupational accidents prevention?”, Safety Science, 48, 950-965. DOI :
10.1016/j.ssci.2009.06.002
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