“O Porto e a
Cidade”, a história do Rio de Janeiro se confunde com a história de seu Porto.
Durante algum tempo, os dois conviveram intimamente. O movimento da cidade era
o movimento do Porto: o embarque e desembarque de mercadorias era acompanhado
de perto pela cidade; o comércio de rua também era o ponto de comércio que
atendia às demandas do Porto. “O Porto emerge da história do Rio de Janeiro
como capítulo fundador. A cidade surge como monumento ao colonialismo, com seus
fortes, suas igrejas e seu Porto. O forte protegia o Porto militarmente e a
igreja o guardava espiritualmente. O Porto faz assim parte da história do medo:
medos dos inimigos da terra ou corsários, medo do mar e dos seus ventos e
correntezas. A cidade e suas instituições afirmavam o domínio colonial sobre as
terras da região da Baia de Guanabara no contexto da disputa colonial travada
entre franceses e portugueses no século XVI. A localização privilegiada da Baia
da Guanabara chamou a atenção dos primeiros portugueses que ali chegaram com a
expedição de Gaspar de Lemos, em 1502. A "cidade-porto" nasceria na
verdade da disputa entre Portugal e França e a partir de então o Rio de Janeiro
passaria a ocupar uma posição estratégica para os portugueses que pretendiam
assegurar seu domínio sobre a região.
Em 1565 que Estácio de Sá, trazendo
reforços para a luta contra os franceses, desembarcou junto à barra,
entrincheirou com seus homens numa faixa de terra entre os Morros Cara de Cão e
Pão de Açúcar, fundando em 1° de março a Cidade de São Sebastião do Rio de
Janeiro. Preocupado com a defesa da cidade, Men de Sá transferiu-a, por motivos
estratégicos, para o alto do Morro do Castelo. E foi ali, na faixa litorânea
junto ao Morro do Castelo, ao longo do que seria mais tarde a Rua da
Misericórdia, que as atividades portuárias do Rio começaram a dar seus
primeiros passos. Drenando charcos e pântanos, o Rio de Janeiro expandiu-se
para a área demarcada por seus quatro vértices: Morros do Castelo, São Bento,
Santo Antonio e Conceição. Da área na proximidade do Morro de São Bento, as
atividades ligadas ao embarque e desembarque de mercadorias cresceram
gradativamente com a construção de trapiches e depósitos na direção da Prainha
(atual Praça Mauá), do Valongo, da Praia da Saúde, do Saco da Gamboa, do Saco
do Alferes e da Praia Formosa.
Entre 1713 e 1760, a população do Rio passou de
12 mil para 30 mil pessoas, crescimento alimentado pelo comércio do ouro, que
também estimulou a vocação portuária de algumas áreas da cidade.
O bairro da
Misericórdia, junto ao Morro do Castelo, concentrou parte significativa do
comércio com trapiches e armazéns. Na Praia D. Manuel, ficava o cais de
desembarque, carregamento dos gêneros exportados.
O ritmo da vida do entorno do
Porto era ditado pelo horário de embarque e desembarque de mercadorias: entre
nove da manhã e duas da tarde.
O trabalho de carregamento das mercadorias
liberadas pela alfândega era feito pelos escravos. As sacas de café, pesando 70
quilos em 1870 era o produto responsável por mais da metade das exportações
brasileiras.
Foi ali
que surgiram e prosperaram os principais mercados da cidade. Aquela região,
conhecida como Terreiro do Ó, depois Largo do Carmo, Praça de D. Pedro II e atualmente
a Praça XV, era a porta da cidade .
Devido ao aumento das exportações brasileiras, vários projetos
começaram a ser propostos e discutidos, o que alteraria grande parte da orla.
O
engenheiro André Rebouças, foi quem trouxe os primeiros projetos de
modernização do Porto, mas suas idéias foram combatidas e poucas delas
conseguiram se realizar. Rebouças teve alguns planos ambiciosos, como o projeto
que iria desde o Arsenal da Marinha até o Arsenal de Guerra, no atual Aeroporto
Santos Dumont. Outro plano foi de construir uma estação marítima ligada à
Estrada de Ferro D. Pedro II, que atendia a boa parte do Vale do Paraíba
escoando a produção de café, com o apoio de D. Pedro II, conseguiu fazer apenas
160 metros de cais, entre o Beco da Pedra do Sal e a Praça Municipal. Com o fim
do tráfico de escravos, a maioria deles continuou ligada às atividades do Porto
e fixou residência nos bairros próximos da região Portuária coabitavam
brancos, negros, estrangeiros, operários, trabalhadores fabris e
comerciantes.
Em 1902, quando Rodrigues Alves assumiu a Presidência da
República, disposto a transformar o Rio em um grande centro , promoveu
uma série de reformas na cidade, como a avenida que acompanhava o Canal do
Mangue, a Avenida Central (hoje Rio Branco) e do Porto, todas feitas com
financiamento inglês. Foi formada uma comissão de obras do Porto no ano de
1903, que propôs a ocupação da área entre o Arsenal da Marinha, aos pés do
Morro de São Bento e a embocadura do Mangue, num total de 3.500 metros. A
construção do cais do Porto teve início em 1904, com cerca de 1.000 operários.
O começo das obras três dragas ,dois anos mais tarde seria inaugurado, o primeiro trecho do cais do Porto, com 500
metros de extensão. Em 1907, cerca de 1460 metros de cais já estavam prontos.
No litoral da Saúde e da Prainha, onde o movimento portuário era mais intenso,
as pontes de desembarque dos trapiches continuavam a ser utilizadas. Nos
últimos meses de 1908, o cais dispunha de 1.900 metros e cinco armazéns . Em 20/6/1910, a obra foi inaugurada, com 2700 metros de
extensão. Os 800 metros que faltavam correspondiam ao trecho entre as Docas
Nacionais e o Arsenal da Marinha, porém, é que dos 2700 metros concluídos,
apenas 800 metros tinham condições efetivas de funcionamento, carecendo o
restante de guindastes, armazéns, iluminação, linhas férreas, enfim, de toda a
infraestrutura de apoio. Levou ainda um ano para que o Porto pudesse funcionar
plenamente, com 18 armazéns internos, 96 externos e 90 guindastes elétricos. Em
1911 os serviços de exploração do Porto do Rio foram transferidos para um grupo
Frances e começou a ser feita a ampliação do cais do Mangue em direção ao Caju.
Em 1923, a administração do Porto do Rio passou às mãos de brasileiros, que
constituíram a Companhia Brasileira de Exploração de Portos. Em 1933 o Porto
passou para a alçada do recém-criado Ministério da Viação e Obras Públicas. Já
entre 1949 e 1952, seria construído o Píer Mauá, sobre um aterro de 33.200
metros quadrados. Em 9 de julho de 1973, pelo o Decreto nº 72.439, foi aprovada
a criação da Companhia Docas da Guanabara, atualmente Companhia Docas do Rio de
Janeiro.
Fonte AVALIAÇÃO DA MODERNIZAÇÃO PORTUÁRIA NO DESENVOLVIMENTO DA
CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário