31 de dez. de 2010

Virou uma favela , um grande porto de pequenos terminais III

Antunes conta que esse escândalo vazou,
para a imprensa local,
no justo dia do passeio pelo porto por pura maldade
do advogado e ex-deputado federal João Cunha (PMDB),
consultor da empresa Fubras.
A Codesp contratou a Fubras para recuperar tributos e contribuições
a que eventualmente tivesse direitos.
Contrato de êxito, ou seja:
só ganha a comissão se efetivamente resgatar os supostos créditos.
A tantas, a Fubras considerou que a Codesp lhe devia R$ 17 milhões.
Cunha foi à luta,
ameaçou tornar público o que sabia sobre o acordo com os empreiteiros.
Vianna não cedeu - e o escândalo que Roso já apurava foi parar nos jornais.
Antunes reclama, até, dos vereadores que defendem a Codesp.
Afirma que alguns deles vão lá, na cara dura,
pedir propina ou facilidades em troca do apoio.
Não dá nomes - mas situa que os mais desembaraçados
são aqueles que já foram empregados da Codesp.
A irracionalidade do porto
volta a aparecer quando o carro da presidência passa em frente
ao Terminal de Açúcar, o Teaçu.
O contrato de concessão determina que ali
só se movimente açúcar em sacos e produtos vegetais em sacos -
o que resulta, durante o ano, em uma ociosidade de 65%.

Há mais.
São quatro armazéns, em paralelo, a partir do cais.
O Teaçu arrendou os três últimos.
O primeiro, na beira do cais, está abandonado.
"Esse armazém solto não tem sentido", diz Vianna.
E por que não licitaram os quatro? "Não sei", responde.
E vai ser licitado o que sobrou? "Agora ficou difícil.
Se eu licitar esse, e outra empresa ganhar, vai atrapalhar a operação do Teaçu".
A solução seria o próprio Teaçu incorporar o armazém ocioso -
mas aí também há o problema do contrato.
Um dos setores mais nobres e modernizados do porto
está nos quatro terminais de suco de laranja -
onde destacam-se a Cargill e a Citrosuco.
Vianna elogia os investimentos em tecnologia,
mas acha um absurdo que sejam tantos os terminais.
"Deveria ser um terminal único, público,
para toda a movimentação do suco de laranja.
O aproveitamento seria muito maior - tanto dos berços (onde os navios atracam),
quanto dos equipamentos e das áreas.
A relação capital/produto seria muito melhor.
Do jeito que está, cada empresa só opera quando existe a sua carga.
Nós ficamos com os berços e os terminais parados.
O porto como um todo perde."
Desperdícios
- A impressão, durante a visita,
é que Vianna e Antunes, ambos diretores desde abril de 99,
nunca tiveram nada a ver com a Codesp ou
com todo esse samba-do-crioulo-doido que estão a mostrar.
Ou, então, que a Codesp,
eterna caixa-preta só agora investigada mais a fundo
pelo TCU e pelo Ministério Público,
paire acima do caos e dos escândalos
que ainda caracterizam grande parte do porto.
"Nenhum escândalo ocorreu na minha gestão, muito pelo contrário",
diz o atual presidente da estatal.
Para rever o maior deles - o do Tecon 2,
obra superfaturada que torrou U$ 250 milhões -
Vianna, já sem Antunes,
embarca na lancha em direção à margem esquerda do porto.
Já é Vicente de Carvalho,
distrito paupérrimo de Guarujá, como dá mostra a favela
"Vai encarar", espraiada pelo mangue.
O que se vê, à subida no pier precário, é um imenso cais vazio.
Prontinho, com capacidade para 150 mil containers por ano,
mas absolutamente deserto.
Vianna vai falando:
"Custou uma nota preta,
foi feito em quase dez anos, e está aí, completamente inútil.
Dinheiro jogado fora."
É obra de propriedade da Codesp,
feito com dinheiro público e financiamento japonês, do Fundo Nakasone.
Custou 10 vezes mais do que deveria -
US$ 250 milhões, segundo Vianna -
e deixou os japoneses de cabelo em pé,
até hoje arredios com empreitadas do gênero.
Há processos no TCU, no Ministério Público,
na Justiça mas até hoje ninguém foi responsabilizado.
O desperdício toma ares kafkianos quando se vê, ao lado do Tecon 2,
o terminal de containers moderníssimo da Santos Brasil, o Tecon 1.
Fonte O estado de São Paulo

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