9 de nov. de 2014

Um laço da Historia do portuário de Paranaguá

Trabalhadores organizados em Paranaguá
A economia mundial, nacional e do Paraná em transformação fomenta o crescimento do porto de Paranaguá e seus trabalhadores têm um percurso ligado a essa condição histórica. 
Cidade e porto se nutrem. Falar da cidade é falar do porto. 
E falar do porto é falar dos trabalhadores nas docas. 
É uma história de organização, considerando que data de 1907 a primeira lei sindical no Brasil e, em 1912, já se tem registro de uma greve dos estivadores em Paranaguá.
 O Sindicato dos Estivadores foi fundado em 1903; o Sindicato da Estiva Marítima e Terrestre surge em 1919 e, dois anos depois nasce a 
União dos Estivadores de Paranaguá para a proteção dos portuários.

Na origem do sindicato estão traços de uma forte combatividade  que fez dos estivadores uma categoria emblemática. 
Jornais operários das primeiras décadas do século XX  relatam a forma inusitada de comunicação entre aqueles  que trabalhavam a bordo: 
eles escreviam suas reivindicações com carvão e giz nos porões dos navios e iam disseminando a organização dos trabalhadores por diferentes portos do mundo. 
Para aqueles que não sabiam ler havia sessões de leitura coletiva dos periódicos operários nos sindicatos. 
No contexto brasileiro dos anos 30, muitas leis trabalhistas – pensões, aposentadoria, jornada de trabalho de oito horas, proteção ao trabalho das mulheres etc. – foram promulgadas como resultado das lutas dos trabalhadores.

Com a organização do porto, em 1935, a Administração do Porto assume a Capataziamaquinistas, guindasteiros, ajudantes dos fiéis de armazéns,
 amarradores de navios e outros. 
Capatazes e estivadores reivindicam melhores condições de trabalho.
 A Caixa de Assistência e Previdência é de 1939 e os sindicatos únicos por categoria dessa época passam por inúmeras aglutinações e
desmembramentos ao longo das décadas. 
A peculiar dinâmica de trabalho dos portuários avulsos e a fragmentação da categoria apresentam-se como entraves à organização sindical.
Os processos trabalhistas dos anos 1930 consultados provam que os estivadores terrestres eram defendidos pelos sindicatos para poder receber o seu pagamento diário sem reconhecimento de trabalho extra.

No âmbito nacional, o processo de redemocratização de meados dos anos 40 fomenta a criação de partidos políticos, mas não altera a estrutura corporativa do sindicalismo.
 O movimento sindical busca autonomia e legitimação política, investindo em diversas correntes ideológicas. 
Em Paranaguá não é diferente e as entidades de classe que surgem nos anos 1950, como as dos ensacadores, dos portuários, dos condutores autônomos, refletem esse momento de estruturação sindical. 
Dentre esses, os estivadores têm sua liderança sindical ligada ao Partido Comunista, tendência dos trabalhadores organizados nos setores públicos
da economia nacional, como os ferroviários.
Período de crescimento econômico provocado pela industrialização e a inserção do país na divisão internacional do trabalho, esse foi o tom das questões trabalhistas nos anos 1940/60. 
Acrescente-se àquelas condições o desenvolvimento da indústria naval e tem-se o crescimento do Porto de Paranaguá.
 Navios especializados (graneleiros, porta contêineres, petroleiros) e o modo de carregá-los, como o sistema de operação de carga e descarga sobre
rodas ou esteiras, levam a movimentação de mercadorias a uma gestão portuária controladora da mão de obra, a qual se organizava para reivindicar seus direitos, dadas as condições instáveis de trabalho.

No início dos anos 1960, a Administração do Porto assina convênio para prestação de serviços e assistência aos associados, inclusive com fornecimento de gêneros alimentícios e produtos farmacêuticos e também é organizada a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). 
Além dos muros do porto, os trabalhadores aglutinam-se para fazer
prevalecer seus interesses e as entidades associativas se multiplicam: nascem a Associação dos Portuários de Paranaguá e a União dos Portuários de Paranaguá (UPP).

A conjuntura nacional de desenvolvimento econômico expõe a importância da
exportação do café para se compreender a atuação sindical. 
Paranaguá viveu, em 1962, uma experiência solidária dos trabalhadores da orla marítima, com a criação do Fórum Sindical de Debates do Litoral Paranaense, à semelhança do de Santos, uma entidade civil do movimento
sindical unificado. 
Os armazéns abarrotados de sacas de café para exportação, que atingiu naquele ano mais de 200 milhões de dólares em divisas, exigiam contínua atividade dos ensacadores, estivadores, conferentes, portuários e arrumadores. 

Organizados em setores estratégicos, eles desenvolvem mobilizações capazes de paralisar as atividades portuárias.
Parte significativa dos trabalhadores operava em condições adversas de demanda, jornada,remuneração e mesmo de competição. 
As razões dessa exploração do trabalho manual são múltiplas, incluindo o fato de o próprio sindicato administrar o trabalho do transporte do café ensacado.
 Eram reivindicações do Fórum:
 melhoria das condições de trabalho, taxa de insalubridade, diminuição das pilhas de sacas de café.
 Na década de 60, as ações trabalhistas interpostas na justiça contra agências marítimas e  a administração do porto reclamam a
ausência de vínculo empregatício a natureza eventual do trabalho,
 o pagamento por empreitada, demissões sem justa causa,  que retiram a condição de direitos aos trabalhadores ensacadores, arrumadores, estivadores

Fonte TRABALHADORES PORTUÁRIOS DE PARANAGUÁ

Silvia Maria de Araújo
Imagem João Renato 

Nenhum comentário:

Postar um comentário