Praticagem nega
manobra
A recusa da Praticagem de São Paulo para orientar a manobra de entrada
do navioTasman no Porto de Santos, por conta do risco de contágio
pelo vírus ebola, foi motivada por um acordo firmado com a Secretaria de Portos
(SEP), em outubro do ano passado.
Em uma reunião que debateu os planos para evitar a entrada da doença no
País pelo complexo santista, foi proposto que as equipes da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) iriam a bordo de embarcações procedentes de
regiões endêmicas antes da certificação da Livre Prática.
Conforme o acordo, as embarcações que passaram por países onde há casos
de ebola fundeariam na área nº 2 (de inspeção) da Bacia de Santos, onde o cargueiro
pode fundear sem a necessidade da orientação dos práticos. Em seguida, o fiscal
da Anvisa entrevistaria o comandante do cargueiro e faria uma vistoria do
local.
Em caso de conformidade,o agente concederia a Livre Prática e permitiria
o embarque do prático para iniciar a manobra de atracação. Caso fosse
constatada a existência de caso suspeito, o plano incluía o acionamento do
Grupo de Resgate e Atendimento às Urgências (Grau) para a remoção.
O plano foi proposto pelo diretor
de Revitalização e Modernização Portuária da SEP, Antonio Maurício Ferreira Netto, que, também era presidente do CAP de Santos.
Os Práticos admitem que a proposta da SEP ainda seria levada às
instâncias superiores da Anvisa pela representante local. A ideia era avaliar
as medidas em relação aos demais portos.
Sobre as críticas do diretor-presidente da
Anvisa, “Os Práticos refutam veementemente quaisquer insinuações de recusa
precipitada ou sem base técnica, reafirmando que, no caso do navio Tasman,
cumpriu rigorosamente o procedimento acordado na reunião do dia 16 de outubro
de 2014, procedimento este que, com certeza, evita a repetição da importação de
doenças, tal como em setembro de 2014, com o navio Naess Resolut,
que recebeu a livre prática, embora vários tripulantes estivessem com malária.
Um risco real, quando os interesses comerciais individuais são colocados acima
dos interesses da comunidade”.
A possibilidade de uma exposição ao vírus ebola
fez a Praticagem de São Paulo se recusar a subir a bordo do navio Tasman, que
havia passado pela Guiné (país considerado o marco zero da doença na África)
semanas antes e aguardava para entrar no Porto de Santos.
A partir de uma
consulta por rádio, o posto da Anvisa em Santos tinha liberado a atracação do
cargueiro. A medida, prevista em lei, foi criticada pelos práticos, que
defendem inspeções presenciais nas embarcações procedentes de regiões
endêmicas.
Como a Autoridade
Sanitária manteve que não era necessário ir a bordo para liberar o navio, a
saída encontrada pela agência de navegação foi o envio de um médico para
atestar as condições sanitárias do Tasman.
Somente então, os práticos foram a
bordo e orientaram sua entrada.
A postura da Praticagem, porém, foi contestada
pelo diretor-presidente da Anvisa,
Jaime Cesar de Moura Oliveira , defende as
decisões do posto local do órgão e pede que o caso seja investigado pela
Marinha do Brasil.
Qual sua avaliação sobre a exigência da
Praticagem de a Anvisa ir a bordo do
navio?
Nós vemos essa questão,
primeiramente, com preocupação e também como um indicativo da necessidade de
uma atuação mais rigorosa dos órgãos que fiscalizam a Praticagem, a Marinha. O
Brasil, assim como vários países, adotou uma série de providências de prevenção
em relação aos riscos de transmissão do ebola. Essas providências que foram
tomadas são baseadas em orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do
regulamento sanitário internacional. Essas orientações têm por base a não
criação de obstáculos ao trânsito internacional de pessoas e de bens, a menos
que haja um justo motivo pra isso. Neste caso, não há justificativa técnica
nenhuma para que o navio tendo recebido a Livre Prática da Anvisa desde 25 de
março, não possa continuar os seus procedimentos de atracação e as operações
que ele tem que fazer no Porto de Santos.
Como o sr. analisa a atuação da Praticagem no episódio?
Eu acho que foi uma
atitude sem base técnica, precipitada e que traz prejuízos à operação do Porto.
Traz sinalizações inadequadas para a comunidade internacional a respeito de
como o Brasil vem tratando a prevenção contra o ebola.
A solução que foi adotada, de levar um médico a bordo, afeta, de
alguma forma, a credibilidade da Anvisa?
Não, de forma alguma
afeta a credibilidade da Anvisa. Eu acho que ela desperta críticas a respeito
da própria postura dos práticos em relação às orientações e determinações das
autoridades nacionais na área de saúde – não só da Anvisa como do Ministério da
Saúde. Mais do que isso, a providência adotada a respeito de levar um médico a
bordo do navio em nada acrescenta ou diminui a avaliação de riscos. Não tem
nenhum tripulante a bordo que se enquadre no conceito de caso suspeito. A
informação passada pelo comandante do navio era de que não havia nenhuma pessoa
com febre na tripulação, nenhuma pessoa com qualquer tipo de hemorragia,
nenhuma pessoa apresentando sinais de infecção, seja por essa ou por qualquer
outra doença.
Durante a elaboração do plano de contingência do ebola, um dos
questionamentos da comunidade portuária era o motivo pelo qual a Anvisa não
fazia as inspeções presenciais. Por que a Anvisa não vai a bordo dos navios
procedentes de regiões endêmicas? Há alguma chance de uma mudança de procedimento
ou não há necessidade disso?
Não. Não há necessidade
de mudança nesse procedimento. E o melhor indicativo disso é que as ações de
prevenção adotadas pelo Governo Federal em relação ao ebola tiveram apenas
resultados positivos até o momento, sem nenhum caso detectado no País. Uma
outra razão é que a Anvisa irá a bordo em qualquer momento em que forem
identificados fatores que justifiquem a presença da autoridade sanitária a
bordo. Mas ela nunca irá a bordo em situações como essa, em que nenhum desses
fatores está presente.
Quais são os fatores que levariam técnicos da Anvisa a bordo de
navios?
A comunicação de algum
caso suspeito ou algum tripulante apresentando sintoma que o caracterize com
suspeita de ebola. Você tem tripulantes que, às vezes, estão com outros tipos
de sintomas, mas sequer são caracterizados como casos suspeitos porque, por
exemplo, nunca estiveram em países onde tem surto. Então não é qualquer
situação de bordo que justifica. Tem uma definição técnica para caso suspeito.
A Anvisa só vai a bordo onde houver risco que justifique, por exemplo, um caso
suspeito ou uma situação não caracterizada que pode representar risco
sanitário. Não sendo essas situações, não existe motivo nenhum para a presença
da autoridade sanitária a bordo.
Qual será o posicionamento da Anvisa se voltar a ocorrer a
recusa da manobra de navios procedentes de áreas endêmicas?
Nós vamos reiterar esse
mesmo posicionamento que estamos tendo e vamos reiterar que a Marinha, que é
responsável pela atividade de praticagem, adote providências no sentido de
apurar se a atuação dos práticos está sendo desenvolvida de forma correta e
adequada dentro da legislação do País.
O que foi feito depois da elaboração do plano de contingência do
ebola? Houve continuidade?
Houve o estabelecimento
do plano de contingências não só para portos como para aeroportos. Houve a
implantação do plano de contingência. Houve simulados realizados em vários
portos e aeroportos. E continua toda a vigilância sanitária com medidas de
monitoramento dos viajantes e dos meios de transporte e orientação, quando se
busca algum tipo de informação a respeito do ebola.
Fonte Atribuna
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