A desculturização Portuária.
As novas tecnologias tanto de base física como
organizacional exigem um trabalhador de formação mais abrangente, com especialização
em varias funções– o multifuncional.
A
estas condições dois conceitos são largamente associados a novos perfis
profissionais como condições para o
aumento da produtividade e da competitividade.
O saber-ser que já era presente no cotidiano dos
estivadores, agora ganha nova dimensão através do apelo à participação, à
cooperação e ao envolvimento em ambiente de multifuncionalidade e polivalência.
Esta nova realidade aponta para a superação do paradigma da polarização das
qualificações e a emergência de um modelo de competências.
A competência é expressão não só das mudanças organizacionais mas também nas relações
sociais.
As novas competências requeridas vão ao encontro de um trabalhador que
deve consciente e voluntariamente "liberar" a própria inteligência no
processo produtivo, para obter dele fidelidade e disponibilidade, e de levar a
cabo uma "mobilização total" que ative suas capacidades intelectuais
e seus resíduos de criatividade.
Trata-se, pois, de subjugar a empresa a
dimensão existencial, subjetiva, da força de trabalho , de fazer do
pertencimento à empresa a única subjetividade possível.
Ora, a experiência
vivida por esses trabalhadores, onde o sentido de pertencimento se dava a
partir de um trabalho do qual tinham a informação completa da operação, não
encontra espaço na nova estrutura, onde não se trata somente de ruptura da base
técnica, mas também das formas de controle social impostos pelas mudanças de
gestão portuária.
No passado, as próprias características de seu trabalho
ocasional, diversificado, e de diferentes tarefas, contribuíram para a
preservação da sua condição funcional, imobilizando-os na busca por outros
empregos e no aprimoramento educacional, o que os fragiliza hoje.
A luta contra
os movimentos Empresariais em busca do
novo espaço de apropriação do valor, não encontra ressonância nas instituições
que no passado estiveram ao seu lado.
O depoimento a seguir esclarece:
[...]
antigamente a agência valorizava o trabalhador, ele
remunerava bem, hoje eles sabem do nosso potencial, hoje ele só vê o seu lado,
eles querem modernizar o porto eles querem cumprir suas metas, mas não querem
valorizar o trabalhador, eles querem explorar, essa é a realidade hoje, a gente
não consegue negociar com quem tem o poder de negociar a gente pára no Sopesp, o que leva nós do sindicato
buscar solução através da articulação política, com os parlamentares com os
políticos da cidade, mas com muita sinceridade eu vou dizer que hoje tá muito
difícil!!!!![...] (PRIMEIRO SECRETÁRIO DO SINDICATO DOS ESTIVADORES DE SANTOS,
2007).
Esta é uma das dificuldades enfrentada pelo sindicato, a precarização do
emprego, as exclusões, a individualização proporcionada pela atomização
conspira contra a vida associativa.
Observa-se que a principal característica
da transformação é a fragmentação da base onde era possível construir as
representações individuais e o desenvolvimento das ações coletivas. O abandono
que hoje experimentam por parte das instituições indica que se não aceitarem os
desafios da renovação, irão aos poucos perdendo legitimidade e ficando cada vez
mais envolvidos com interesses neocorporativos.
Observa-se que as implicações
sociais da atual transformação não estão só inscritas no processo tecnológico
nem nas suas demandas por conhecimento, mas também nas relações sociais que presidem
a utilização da tecnologia.
Os homens que formaram esta classe são
trabalhadores educados e socializados na tradição do ofício que ajudou na
formação das suas identidades.
A presença de um novo conceito de produção com
base em operações mais enxutas onde tal especialização flexível é a tônica
eliminando do processo produtivo trabalhadores de baixa qualificação é um
momento de perplexidade, e os depoimentos conformam:
“[...] eu acho que a
multifuncionalidade vai eliminar o trabalhador que ficou obsoleto, que não
procurou se formar, ele não procurou se adequar ao tempo”.
(PRIMEIRO TESOUREIRO
DA ESTIVA DE SANTOS, 2007).
“[...] com a vinda da modernidade vai haver
redução, não tem jeito, redução de trabalhador vai ter.”
(PRIMEIRO SECRETÁRIO
DO SINDICATO DOS ESTIVADORES DE SANTOS, 2007).
“[....] o nosso padrão de vida
caiu muito, [...], o estivador é praticamente a única categoria que lida com
dez tipos de equipamentos diferentes e é remunerada como qualquer. Ele trabalha
com ponte rolante, trabalha com máquina de esteira, com tudo, com sheeploader,
ele faz tudo isso e não é valorizado”.
(SEGUNDO TESOUREIRO DO SINDICATO DOS
ESTIVADORES DE SANTOS, 2007).
As rigorosas avaliações nesses depoimentos
destacam as reais dificuldades dos estivadores e colocam em evidência que precarização e
empobrecimento se articula ações no sentido de reduzir o poder econômico dos
trabalhadores nas relações sociais.
Os
depoimentos põem às claras a ausência de projetos de qualificação que vão além
daqueles que partem da posição a ser ocupada no processo de trabalho, e os
trabalhadores, sujeitos no e do trabalho, não tendo a possibilidade de se
apropriarem crítica e construtivamente do conteúdo e do contexto de realização
do próprio trabalho, ficam impedidos de formular uma saída objetiva para sua
própria condição.
Fonte CULTURA PORTUÁRIA E REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA: O
CASO DOS ESTIVADORES DO PORTO DE SANTOS Autoria: João Carlos Gomes, Luciano
Prates Junqueira.
O jeitinho brasileiro sempre cobra um preço .No Brasil ausência de projetos que sigam as determinações da Covenção 137 e da Resolução 145 em 31de julho de 1.995, foi promulgada pelo Decreto nº 1.574/95. de qualificação que vão além daqueles que partem da posição a ser ocupada no processo de trabalho, PDP - Programa de Desenvolvimento do Trabalho Portuário utilizado para ensino dentro do território nacional, conforme memorando de entendimento estabelecido entre a Diretoria de Portos e Costas e a Organização Internacional do Trabalho em 15 de maio de 2001.
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