15 de abr. de 2015

Os obstaculos do TPA

 A desculturização Portuária.
  As novas tecnologias tanto de base física como organizacional exigem um trabalhador de formação mais abrangente, com especialização em varias  funções– o multifuncional. 
A estas condições dois conceitos são largamente associados a novos perfis profissionais como condições para o  aumento da produtividade e da competitividade.
 O saber-ser  que já era presente no cotidiano dos estivadores, agora ganha nova dimensão através do apelo à participação, à cooperação e ao envolvimento em ambiente de multifuncionalidade e polivalência
Esta nova realidade aponta para a superação do paradigma da polarização das qualificações e a emergência de um modelo de competências.
 A competência é expressão não só das mudanças organizacionais mas também nas relações sociais. 
As novas competências requeridas vão ao encontro de um trabalhador que deve consciente e voluntariamente "liberar" a própria inteligência no processo produtivo, para obter dele fidelidade e disponibilidade, e de levar a cabo uma "mobilização total" que ative suas capacidades intelectuais e seus resíduos de criatividade. 
Trata-se, pois, de subjugar a empresa a dimensão existencial, subjetiva, da força de trabalho , de fazer do pertencimento à empresa a única subjetividade possível. 
Ora, a experiência vivida por esses trabalhadores, onde o sentido de pertencimento se dava a partir de um trabalho do qual tinham a informação completa da operação, não encontra espaço na nova estrutura, onde não se trata somente de ruptura da base técnica, mas também das formas de controle social impostos pelas mudanças de gestão portuária.
 No passado, as próprias características de seu trabalho ocasional, diversificado, e de diferentes tarefas, contribuíram para a preservação da sua condição funcional, imobilizando-os na busca por outros empregos e no aprimoramento educacional, o que os fragiliza hoje. 
A luta contra os movimentos Empresariais  em busca do novo espaço de apropriação do valor, não encontra ressonância nas instituições que no passado estiveram ao seu lado. 
O depoimento a seguir esclarece: 
[...] antigamente a agência valorizava o trabalhador, ele remunerava bem, hoje eles sabem do nosso potencial, hoje ele só vê o seu lado, eles querem modernizar o porto eles querem cumprir suas metas, mas não querem valorizar o trabalhador, eles querem explorar, essa é a realidade hoje, a gente não consegue negociar com quem tem o poder de negociar a gente pára no Sopesp, o que leva nós do sindicato buscar solução através da articulação política, com os parlamentares com os políticos da cidade, mas com muita sinceridade eu vou dizer que hoje tá muito difícil!!!!![...] (PRIMEIRO SECRETÁRIO DO SINDICATO DOS ESTIVADORES DE SANTOS, 2007).

Esta é uma das dificuldades enfrentada pelo sindicato, a precarização do emprego, as exclusões, a individualização proporcionada pela atomização conspira contra a vida associativa. 
Observa-se que a principal característica da transformação é a fragmentação da base onde era possível construir as representações individuais e o desenvolvimento das ações coletivas. O abandono que hoje experimentam por parte das instituições indica que se não aceitarem os desafios da renovação, irão aos poucos perdendo legitimidade e ficando cada vez mais envolvidos com interesses neocorporativos. 
Observa-se que as implicações sociais da atual transformação não estão só inscritas no processo tecnológico nem nas suas demandas por conhecimento, mas também nas relações sociais que presidem a utilização da tecnologia. 
Os homens que formaram esta classe são trabalhadores educados e socializados na tradição do ofício que ajudou na formação das suas identidades. 
A presença de um novo conceito de produção com base em operações mais enxutas onde tal especialização flexível é a tônica eliminando do processo produtivo trabalhadores de baixa qualificação é um momento de perplexidade, e os depoimentos conformam:
 “[...] eu acho que a multifuncionalidade vai eliminar o trabalhador que ficou obsoleto, que não procurou se formar, ele não procurou se adequar ao tempo”.
 (PRIMEIRO TESOUREIRO DA ESTIVA DE SANTOS, 2007).
 “[...] com a vinda da modernidade vai haver redução, não tem jeito, redução de trabalhador vai ter.”
 (PRIMEIRO SECRETÁRIO DO SINDICATO DOS ESTIVADORES DE SANTOS, 2007).
 “[....] o nosso padrão de vida caiu muito, [...], o estivador é praticamente a única categoria que lida com dez tipos de equipamentos diferentes e é remunerada como qualquer. Ele trabalha com ponte rolante, trabalha com máquina de esteira, com tudo, com sheeploader, ele faz tudo isso e não é valorizado”.
 (SEGUNDO TESOUREIRO DO SINDICATO DOS ESTIVADORES DE SANTOS, 2007). 

As rigorosas avaliações nesses depoimentos destacam as reais dificuldades dos estivadores  e colocam em evidência que precarização e empobrecimento se articula ações no sentido de reduzir o poder econômico dos trabalhadores  nas relações sociais.
 Os depoimentos põem às claras a ausência de projetos de qualificação que vão além daqueles que partem da posição a ser ocupada no processo de trabalho, e os trabalhadores, sujeitos no e do trabalho, não tendo a possibilidade de se apropriarem crítica e construtivamente do conteúdo e do contexto de realização do próprio trabalho, ficam impedidos de formular uma saída objetiva para sua própria condição.
Fonte CULTURA PORTUÁRIA E REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA: O CASO DOS ESTIVADORES DO PORTO DE SANTOS Autoria: João Carlos Gomes, Luciano Prates Junqueira.
O jeitinho brasileiro sempre cobra um preço .No Brasil  ausência de projetos que sigam as determinações da Covenção 137 e da Resolução 145 em 31de julho de 1.995, foi promulgada pelo Decreto nº 1.574/95. de qualificação que vão além daqueles que partem da posição a ser ocupada no processo de trabalho, PDP - Programa de Desenvolvimento do Trabalho Portuário utilizado para ensino dentro do território nacional, conforme memorando de entendimento estabelecido entre a Diretoria de Portos e Costas e a Organização Internacional do Trabalho em 15 de maio de 2001.

O Programa de Desenvolvimento do Trabalho Portuário  PDP é um projeto da Organização Internacional do Trabalho OIT,cuja filosofia é o aperfeiçoamento da mão-de-obra  dos portos com  terminais de contêineres. E permitir aos governos  de países em desenvolvimento estabelecer  treinamentos efetivos e sistemáticos, projetados para melhorar o desempenho no manuseio de carga, das condições e práticas de trabalho, segurança, eficiência e bem estar dos trabalhadores portuários nos terminais de contêiner.Fora  o obstáculo ao acesso a qualificação tem o  perfil que distante a modernidade e a rotulação de colaboradores busca cada vês mais pessoas individualizadas sem preocupação coletiva e social , diferente ao trabalhador portuário antes da lei 8630  de 1993 que tem como perfil.

Característico as  relações sociais, capacidade política de ação e intervenção no procedimento operacional ,  além de um conjunto de habilidades exigidas pela multifuncionalidade operacional que um porto esta sujeito , realidade diaria do Cais Santista em seus diversos navios atracados ao logo do maior porto do Brasil.

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