O
problema da comunicação de muitas empresas do Porto está entrelaçado à mistura
das culturas empresarial e portuária que se confrontam na junção do presente ao
passado.
Muitos trabalhadores ainda estão presos às raízes portuárias que
cultivam os movimentos trabalhistas.
A mecanização, a terceirização movimentam
o pensamento neoliberal que está direcionado às novas formas de gestão, aos
programas de qualidade total e às certificações.
A linguagem, hoje utilizada
pelas empresas, foge do campo de compreensão dos trabalhadores que ainda
visualizam seus interesses como os únicos a serem seguidos.
A comunicação no
trabalho portuário precisa ter uma lógica ligada aos trabalhadores e não
somente à produtividade. Mais do que nunca, a transparência se faz necessária
para que os funcionários percebam o porquê das mudanças e como elas estão
acontecendo. Diante desse conflito, cabe ao comunicador elaborar propostas de
políticas internas, conhecer os agentes
sociais envolvidos e a identidade cultural; reunir a prática com as teorias e
desenvolver novas perspectivas ,gerenciar e planejar os
processos comunicativos; fazer diagnósticos e assessorar a alta administração
nesse conflito interno que prejudica as relações do trabalho Portuário e a aderência aos
programas da companhia.
“Esse profissional Comunicador é aquele capaz de
cumprir seu papel de mediador, utilizando-se com o mesmo peso, da sensibilidade
e da técnica.”
A
resistência pode ser definida como a oposição a um sistema de forças ou a
capacidade de lutar em defesa de algo e de fazer frente aos mecanismos de
repressão em que se enfrente uma luta ideológica, que adota uma definição de cultura popular
como elemento que age no íntimo da cultura dominante, refutando-a ou não. Nas
manifestações que existem em função da cultura dominante, seja assimilando-a
numa atitude conformista, seja recusando-a através de atitudes de resistência.
Suas práticas e vivências culturais surgem das relações de conformismo e
resistência, sem considerar outras relações possíveis como a troca ou a
influência do popular sobre o dominante.
Na busca de um espaço de
contradominação, propõe-se a elaboração de uma cultura alternativa enraizada à
cultura da classe operária, que representa uma radical ruptura, entrando em
choque com a cultura dominante. Hoje, nas empresas do segmento portuário, as
formas de comunicação e as mudanças culturais são claramente influenciadas pelo
acúmulo dos lucros, desfavorecendo o relacionamento entre empresários e
trabalhadores.
Para compreender o problema, foi ouvido os trabalhadores . Ao
relatar suas experiências e opiniões, os trabalhadores reafirmam o orgulho que
têm de trabalhar no Porto; no entanto, mostram-se decepcionados com a distância
que se criou diante das novas perspectivas e formas de gestão. Além disso, foi
comentado que as empresas não aproveitam seus talentos, preferindo contratar
pessoas jovens pouco experientes para funções que poderiam ser ocupadas pelos portuários atuais. O medo do desconhecido fica evidente entre os
entrevistados, as novas tecnologias geram mais vontade de aprender e estudar.
Esse novo perfil é uma novidade na cultura portuária, pois os próprios
trabalhadores estão buscando qualificação. Antes o saber era algo proveniente
da prática; hoje, os trabalhadores complementam essa afirmação com a graduação.
Os entrevistados apontam a falta de transparência das empresas nos processos de seleção e que os
programas são impostos aos trabalhadores, sem explicações.
Cabe ressaltar que através da pesquisa foi possível perceber
que os trabalhadores vivem um conflito por não compreenderem a mudança na forma
de trabalho do Porto. A autoestima profissional dos entrevistados apresenta-se,
aparentemente, baixa. Muitos afirmam que se sentem mais um número de crachá e
que não enxergam perspectiva de crescimento dentro da empresa. Parte desse
descontentamento estava relacionado à falta de políticas e regras claras, a
superiores ausentes e salário defasado. Nas relações de trabalho, foi destacada
a amizade entre os colegas de trabalho e a dificuldade de interação com as
chefias. Trabalhadores do mesmo nível hierárquico não enfrentam tantos
problemas, mas na relação chefe e subordinado há um desgaste atribuído à falta
de comunicação e respeito. Mesmo com todos os problemas, os trabalhadores
revelaram grande orgulho de fazer parte da família portuária e contam várias
histórias de suas famílias que também trabalharam no Porto. Muitos
entrevistados expuseram que não se sentem pertencentes às empresas onde
trabalham ao passo que as companhias crescem. Além disso, o foco nos novos
projetos e nas tecnologias ofuscou a figura do trabalhador, outrora valorizada.
Através da peculiar linguagem portuária, de momentos históricos e depoimentos
vivenciados durante o trabalho no Porto, acreditamos ser possível retomar a
participação dos funcionários nos futuros projetos da companhia. A memória diz
respeito a algo que não podemos modificar, pois pertence ao passado.
No
entanto, ela é imprescindível para conhecer, preservar e determinar nossa relação
com o mundo e escrever nossa própria história. Essa afinidade envolve suas
significações e suas contradições, a construção política e histórica do Porto,
os impasses criados pela tecnologia. Embora se diga que as mídias,
particularmente a internet, estão ao alcance de todos, sua utilização exige um
paciente diálogo entre a nova tecnologia e a cultura da empresa que pretende
adotá-la. Especificamente nos terminais portuários, há uma grande preocupação
em fazer com que os trabalhadores adquiram familiaridade com o meio
tecnológico, uma vez que os novos equipamentos, cada vez mais, utilizam
sistemas digitais para seu funcionamento. É imprescindível que o empresariado
estruture seus projetos coletando sugestões e ideias dos trabalhadores, pois
eles atuam no dia a dia dos problemas e vivenciam o mecanismo do Porto.
A
abertura de capitais, a chegada de investidores tornou o trabalhador alheio ao
próprio trabalho. Com a real mudança
política do Porto, esse trabalhador perdeu seu papel dentro da cadeia produtiva
e sua importância foi ficando abaixo da gestão. Com a ampliação do contato
empresa superando o Porto muito devido a
impotência da Autoridade Portuária.O trabalhador se vê cada vez mais num
ambiente individualizado onde o maior bem e a busca de ganho liquido para
empresa contrapondo o ganho coletivo e social da comunidade Portuaria.
Fonte Porto de Santos: o
surgimento da cultura de resistência à globalização
Katherine Realle Nóbrega de Andrade
Katherine Realle Nóbrega de Andrade
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