A privatização só é interessante para grupo econômico, e não é interessante a
indicação política, afirma o senador Roberto Requião PMDB.
Os portos, que são a porta de entrada e de saída do País,
têm que ser públicos, afirma o senador Roberto Requião, ao detalhar o combate ao projeto de
privatização dos portos, apresentado pela senadora Kátia Abreu PSD, que é
presidente da CNA. Os portos podem ser operados privativamente num determinado
momento, mas, se não funcionar, você tira o operador.
Por que você vai alienar o patrimônio público?, questiona
a autora da proposta. Ela quer privatizar para favorecer o Eike Batista, porque
ela tem um porto, mas, não pode operar, porque ele não tem carga. Requião vai
para essa e para outras lutas, revigorado, depois de ter comandado o movimento
contra a recondução de Bernardo Figueiredo para o cargo de diretor-geral da
ANTT.
DCI – O senhor também fez um pronunciamento a respeito
daquele projeto que privatiza os portos, combatendo a idéia.
RR – Nós temos concessão, temos permissão, temos
autorização e nós temos a possibilidade de portos privados no
Brasil, temos dois, já temos o da Vale e o da Petrobras, mas, para os seus
próprios produtos. O que ela propôs é que os portos
fossem privatizados para servirem a terceiros, concorrendo com portos públicos
e dominando a porta de entrada e de saída do País, ou seja, ela está alienando
o patrimônio público, e só pode haver porto privado para
transportar as próprias cargas, majoritárias e um pouco às vezes de carga bruta
autorizada.
Ela quer privatizar para favorecer o Eike Batista, porque
ele tem um porto, mas, não pode operar, porque ele não tem carga.
DCI – Ela defendeu muito porque seriam investimentos
novos.
RR – Investimentos novos com o dinheiro do BNDES; ela mesmo
disse que só tem capacidade financeira para montar um porto no
Brasil a Vale e a Petrobras, então investimentos novos com o dinheiro do BNDS,
subsidiado e pago pelo porto funcionando.
DCI – Não são para novos portos?
RR – São para vender, comprar, mas, novos portos com
dinheiro público, ninguém tem dinheiro para fazer um novo porto no
Brasil. Os Estados Unidos não têm nenhum porto privado, são autoridades
portuárias, município, União e estados, o porto é a
porta de entrada e de saída.
Fui para o Paraná, assumi o governo; os grandes
graneleiros estavam dominando o porto de Paranaguá. Qual a
conclusão? A economia do estado não respirava mais, ela não tinha como
importar, nem exportar, porque o porto só se dedicava a
exportar grãos do interesse das grandes empresas. Mesmo os pequenos produtores
tinham que vender para as grandes porque não tinha lugar no porto para
exportar, tive que estabelecer cotas, criei e recriei, a exportação das
multicargas, porque a economia precisa respirar e tem setores da economia, que
começam a crescer, e não têm um volume brutal para um porto, mas,
eles precisam exportar para crescer, se o porto fecha,
estrangula a economia.
A porta de entrada e de saída do País tem que ser
pública, ela pode ser operada privativamente num determinado momento, mas se
não funcionar, você tira o operador, porque que você vai alienar o patrimônio.
DCI – Foi falado muito que o porto de
Paranaguá estava um pouco estrangulado.
RR – O porto de Paranaguá é o melhor
porto do Brasil, não tem fila, a fila do Paranaguá, é uma fila do Governo. Há
dez anos, quando usavam o porto como mercado, o pessoal fazia a
safra, mandava o caminhão para a estrada e ficava esperando vender a soja e
usava a estrada como silo, esperando um negócio e o caminhoneiro feito bobo,
sem privada, sem comida, sem nada.
Eu acabei com isso, exigi um agendamento, só podia passar
na estrada o cara que tivesse vendido a carga, então estava o navio agendado, o
navio ia chegar dia tal, acabou a fila.
A Globo colocou a Miriam Leitão no ar dizendo que as
nossas medidas tinham dado prejuízo a 264 milhões de tons ao porto de
Paranaguá.
O mundo não produz 264 milhões de tons de
soja, o Brasil inteiro produz 54 milhões de tons e o Paraná produzia 10 milhões
de tons, está produzindo 12 milhões de tons hoje, daí o Bial vai e mostra uma
fila de quarenta quilômetros, dez anos atrás, é a pressão da privatização.
DCI – O Eike Batista tem interesse nessa privatização?
RR – Ele tem um porto, o porto dele
não pode funcionar porque não tem carga, ele quer colocar o porto dele
concorrendo com um porto público. O problema não é a concorrência,
é que se você privatiza não pode planejar economia, o cara só exporta o que
tiver ligado ao meu negócio, acabou, não tem concorrência possível, até porque,
não tem portos assim no Brasil, no sentido de profundidade são locais
especiais, o cara fica eternamente, nós três aqui, jamais poderemos ter um porto,porque
eles terão comprados todos os espaços. Só existe porto privado
em dois países no mundo: Margareth Tratcher fez um em Londres, na Inglaterra, e
a Nova Zelândia tem um.
DCI – O porto de Paranaguá é lucrativo,
rentável?
RR – Altamente rentável, eu saí do governo e deixei 650
milhões em caixa.
DCI – E essa denúncia de que não tem infraestrutura,
logística, isso atrapalha o País.
RR – O governo de Fernando Henrique acabou com o
investimento, começa a sucatear, dizer que não funciona e vender. Por exemplo,
nós tínhamos um contrato lá com uma drágea que era um troço de 700 milhões de
dólares, sabe quanto custa uma drágea? Custa 40 milhões de dólares. Agora o
contrato da dragagem custa 160 milhões de reais por seis meses. Uma drágea
custa 40 milhões de dólares, é claro que essa drágea vai ter que ter a
tripulação, combustível, mas ela funciona por dez, quinze anos, ela pode dragar
Paranaguá e prestar serviços em todo o Brasil.
Eu não consegui comprar a drágea, fiz licitação, um grupo
ganhou por 44 milhões de reais. Estavam ganhando comissão.
Imagina se alguém ia vender uma drágea para o Estado para
perder dinheiro.
O grupo comprou na China entrou numa licitação. Pagar R$
60 milhões por seis meses pode, comprar por US$ 40 milhões, não. Na época do
Fernando Henrique, que proibia os portos de comprarem drágeas,
e proibia de alugar drágea estrangeira, tinha que alugar só nesse monopólio.
DCI – A privatização pode ser interessante para o porto de
Santos?
RR – Não, privatização é interessante para o grupo
econômico, não é interessante para ninguém, agora também não é interessante a
politização e a indicação política da administração portuária; colocar
um sujeito que de técnico de futebol vira administrador de um porto.
Fonte DCI
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