7 de nov. de 2017

A Estiva de Itajaí

A importância do Sindicato dos Estivadores para a história do trabalho em Itajaí e no Brasil remete aos alvores do associativismo reivindicatório.
 Foi a primeira entidade sindical no estado de Santa Catarina a ter um negro como presidente; devido à convivência com vários povos através do porto teve a possibilidade de ter contato com as “idéias novas” vindas da Europa nos anos 10 e 20 como o socialismo e o comunismo. 
Finalmente, foi e continua sendo em grande maioria uma instituição formada por uma classe operária com uma cultura única, que os mantém unidos e coesos na luta diária contra a exploração do trabalho, a cultura operária “papa-siri”.
 As relações do Sindicato dos Estivadores com a sociedade sempre inspiraram diversos sentimentos.
 A visão de pessoas brutas, ignorantes, analfabetas e vadias prosperou e existe em parte até os dias de hoje na mente daqueles que não conhecem a fundo a história desses trabalhadores, que têm sido fundamentais para o crescimento econômico, político e social da cidade. 
As lutas e as conquistas históricas e recentes do movimento sindical vindo do porto foram e continuam sendo diferenciais desta categoria com relação a outras entidades sindicais no estado e no país. E isto se deve à concepção compartilhada de coesão em torno dos problemas que envolvem a categoria. 

É fundada,em 1906 a Sociedade Beneficente XV de Novembro, que abrigava exclusivamente os trabalhadores portuários. 
 Dentre as funções ligadas ao caráter assistencial da Sociedade XV de Novembro estavam: prover auxílio pecuniário aos associados quando enfermos ou inválidos e auxílio funeral aos sócios. As funções ligadas ao trabalho incluíam a regulação dos horários de trabalho e o estabelecimento de salários. A sazonalidade dos serviços portuários na época e as dificuldades operacionais do porto, não permitindo que embarcações maiores atracassem no cais em virtude do pequeno calado, justificava a existência de caixas assistenciais nas épocas de pouco serviço.
 O que chama a atenção no comportamento da Sociedade XV de Novembro em seus primeiros anos, apesar das dificuldades encontradas pelos portuários para sobreviver, é o constante tom de apelo dado aos anúncios da entidade. Entre as principais reivindicações estavam a reserva de mercado de mão-de-obra pra os trabalhadores locais e associados a XV de Novembro e aumento de salários em virtude das altas constantes de preço de um modo geral.
 As súplicas da Sociedade XV de Novembro eram publicadas nos jornais da época, como “O Pharol”, “Novidades”, “O Commércio”, e “Itajahy”. 
Um apelo aos Srs. Patrões e feitores. Os sócios da Sociedade Beneficente XV de Novembro, de acordo com sua diretoria, vem, perante os Srs. Patrões e feitores, suplicar respeitosamente que não aceitem, em seu serviço, trabalhador algum que não faça parte da referida associação. Em se tratando de uma sociedade puramente humanitária como é a XV de Novembro, é de se esperar que os Srs. Patrões e feitores não ponham obstáculos em satisfazer tão justo pedido.
Em 1922 é fundada a Sociedade União Beneficente dos Estivadores, o que ocasionou a existência de mais de uma entidade de organização dos trabalhadores portuários. As funções da nova entidade eram muito similares  A presença das “novas idéias” vindas da Europa e Estados Unidos foi importantíssima para que houvesse uma mudança significativa  e foi marcada pelas diferenças de comportamento diante das dificuldades do trabalho e da sociedade, com relação aos métodos da XV de Novembro.
 A atitude mais politizada e a falta de apoio e reconhecimento dos armadores e empresários tornaram esta entidade singular e foi responsável por sua conversão em uma das congregações de trabalhadores mais importantes de Itajaí até os dias de hoje.A “década vermelha” segue com a deflagração de uma greve iniciada em 11 de novembro de 1934, sendo uma das maiores ocorridas no porto até então. O acontecimento foi noticiado exaustivamente nos jornais locais da época, tendo os mais variados reflexos na sociedade itajaiense. As reivindicações da greve eram em virtude de um aumento de salários oferecido pelos armadores que estava muito abaixo do almejado pelos trabalhadores. A assembléia que decidiu pela greve teve a participação de 86 sócios do Sindicato dos Estivadores e de representantes de outras organizações sindicais, como o Sindicato dos Trapiches e Armazéns  . A solidariedade da classe trabalhadora fez-se presente quando a greve alastrouse no porto de São Francisco do Sul. A greve iniciada em 11 de novembro de 1934 durou até o dia 28 do mesmo mês, sendo o impasse solucionado por intervenção do governador Nereu Ramos.Em 1937 a Sociedade foi oficialmente convertida em Sindicato União dos Operários Estivadores de Itajaí. A nova lei de Sindicalização do governo Vargas tornou ainda mais complexo o processo de escolha da nova diretoria. A presença de autoridades do Estado como o Capitão dos Portos e o Inspetor do Trabalho fazia parte das novas diretrizes.
Fonte O MOVIMENTO SINDICAL DOS ESTIVADORES DE ITAJAÍ: DA SOCIEDADE BENEFICENTE XV DE NOVEMBRO AO PERÍODO DO NOVO SINDICALISMO BRASILEIRO Jefferson Augusto Guimarães de Farias Guillermo Alfredo Johnson

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