31 de jan. de 2015

O suor do Estivador de Paranagua

Um marco na história portuária brasileira 
São os Estivadores. 
Alias em Paranagua não e diferente de outras cidades portuárias mundo a fora , mas possui sua peculiaridade .O porto e a cidade desenvolveram-se para atender a economia exportadora de produtos primários. 
Nos embarcadouros incipientes de uma Paranaguá fundada em 1648, circulava o ouro das minas e, em 1890, o povoado atingia cerca de 12 mil habitantes. Entre 1935 e 1950, as importações através do porto eram de combustíveis, arame, sal, açúcar, enquanto a tradicional produção de madeira, erva-mate, milho, cereais e o café em grãos respondia pelas exportações. 
O café começou a ser exportado, em1929, e atingiu mais de 6 milhões de sacas, quando o porto conquistou o título de maior exportador de café do mundo, em 1965.5 A economia mundial tem fomentado o crescimento dos portos, mas não ativado a demanda por trabalhadores. Há movimento de expansão, retração e organização da força de trabalho portuária, em diferentes conjunturas. 
O que vem acontecendo com os estivadores, uma categoria cuja imagem simbólica e real é emblemática no movimento sindical do país e do mundo? Com base em documentos públicos de ações trabalhistas interpostas na Justiça do Trabalho do Paraná, são tecidas as considerações sobre os trabalhadores portuários. Falar dos trabalhadores nas docas é desvendar uma história de organização ligada ao crescimento do Porto de Paranaguá pautado pela economia. 
O Sindicato dos Estivadores, fundado em 1903, antecede a primeira lei sindical no país, que data de 1907. Há registro de uma greve em Paranaguá, em 1912. O Sindicato da Estiva Marítima e Terrestre surge em 1919 e, dois anos depois, nasce a União dos Estivadores de Paranaguá. São traços da combatividade na origem dos primeiros sindicatos. Jornais operários das primeiras décadas do século XX relatam a forma inusitada de comunicação entre os que trabalhavam a bordo: os trabalhadores escreviam suas reivindicações com carvão e giz nos porões dos navios e iam disseminando a organização dos trabalhadores por diferentes portos do mundo.
 Havia até mesmo sessões de leitura coletiva dos periódicos operários nos sindicatos. Com a organização do Porto de Paranaguá, em 1935, a administração do porto assume a capatazia dos maquinistas, guindasteiros, ajudantes dos fiéis de armazéns, amarradores de navios e outros. Capatazes e estivadores reivindicam melhores condições de trabalho. 
Embora muitas leis trabalhistas – pensões, aposentadoria, jornada de trabalho de oito horas, proteção ao trabalho das mulheres etc. – tenham resultado das lutas dos trabalhadores nos anos 1930, a peculiar dinâmica de trabalho dos portuários avulsos e a fragmentação da categoria apresentam entraves à organização sindical, como provam os processos trabalhistas dos anos 1930, nos quais os estivadores terrestres eram defendidos pelos sindicatos para receber o seu pagamento diário sem reconhecimento de trabalho extra. O processo de redemocratização de meados dos anos 1940 fomenta a criação de partidos políticos, mas não altera a estrutura corporativa do sindicalismo no país. O movimento sindical busca autonomia e legitimação política, investindo em diversas correntes ideológicas. As entidades de classe que surgem nos anos 1950 . 
Entre os estivadores, a liderança sindical está ligada ao Partido Comunista, tendência dos trabalhadores organizados nos setores públicos da economia nacional, como os ferroviários. Período de crescimento econômico provocado pela industrialização e a inserção do país na divisão internacional do trabalho, esse foi o tom das questões trabalhistas até a década de 1960. Acrescente-se àquelas condi- ções, o desenvolvimento da indústria naval e tem-se o crescimento dos portos. Navios especializados (graneleiros, portacontêineres, petroleiros) e o modo de carregá-los, como o sistema de operação de carga e descarga sobre rodas ou esteiras, levam a movimentação de mercadorias a uma gestão portuária controladora da mão de obra. Essa se organiza para reivindicar seus direitos, diante das condições instáveis de trabalho. 
A conjuntura nacional de desenvolvimento econômico expõe a importância da exportação do café para se compreender a atuação sindical. Paranaguá viveu, em 1962, uma experiência solidária dos trabalhadores da orla marítima, com a criação do Fórum Sindical de Debates do Litoral Paranaense, à semelhança do de Santos, uma entidade civil do movimento sindical unificado. Os armazéns abarrotados de sacas de café para exportação, que atingiu naquele ano mais de US$ 200 milhões em divisas, exigiam contínua atividade dos ensacadores, estivadores, conferentes, portuários e arrumadores. 
Organizados em setores estratégicos, eles desenvolvem mobilizações capazes de paralisar as atividades portuárias. Parte significativa dos trabalhadores operava em condições adversas de demanda, jornada, remuneração e mesmo de competição e as razões dessa exploração do trabalho manual incluíam o fato de o próprio sindicato administrar o trabalho do transporte do café ensacado. Eram reivindicações do fórum: melhoria das condições de trabalho, taxa de insalubridade, diminuição das pilhas de café
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Nos processos interpostos na Justiça contra agências marítimas e a administração do porto, nos anos 1960, os trabalhadores reclamam a ausência de vínculo empregatício, a natureza eventual do trabalho, o pagamento por empreitada, as demissões sem justa causa, que retiram a condição de direitos aos ensacadores, arrumadores, estivadores.
Fonte 
Da precarização do trabalhador portuário avulso a uma teoria da precariedade do trabalho
Imagem João Renato S nunes 

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