9 de fev. de 2015

Novas formas para a realidade portuaria

 Os modelos educativos vêm sofrendo alterações ao longo do tempo, passando de um modelo pedagógico tradicional, baseado na exposição de conteúdos e prescrição comportamental sem levar em conta os saberes existentes, as motivações, crenças culturais e necessidades, apresentando consequentemente resultados insatisfatórios, para um modelo baseado na interação entre educador educando, profissional-usuário. Neste modelo estão envolvidos os pressupostos da horizontalidade , a humanização e a articulação entre os saberes científico e popular. 
As práticas de educação têm focalizado historicamente as mudanças no comportamento do indivíduo.
 Na visão de Paulo Freire, o ser humano deve ser concebido como um ser histórico, devendo preceder no processo ensino-aprendizagem uma reflexão que produza no educando a capacidade de provocar mudanças na sua realidade social, permitindo que o homem chega a ser sujeito, construindo-se como pessoa, transformando o mundo e estabelecendo relações de reciprocidade com outros sujeitos e com o seu ambiente, construindo cultura e história. Tais pressupostos não ficaram restritos à pedagogia, mas foram incorporados por outras áreas do conhecimento, para superar a imposição de comportamentos a serem adotados pelos indivíduos para uma relação dialógica, em que os usuários reflitam sobre suas condições e repensem os melhores e mais adequados caminhos para modificar os seus padrões, com base na reflexão, consciência e autonomia.


O modelo tradicional de ensino-aprendizagem é criticado por Paulo Freire como sendo educação bancária, tendo em vista que neste método o educador apenas deposita conhecimentos aos educandos e estes apenas os guardam e arquivam. 
Transpondo isto, o trabalhador dessa área atua no processo de ensino-aprendizagem como o detentor do conhecimento absoluto. Nesta concepção, a educação é um instrumento de dominação e de responsabilização dos indivíduos pela redução dos riscos. Esta iniciativa objetiva trabalhar com os profissionais, colocando o cotidiano da prática no processo de formação, levando-os à problematização, à reflexão para agir em prol da mudança em parceria com a comunidade, à transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho, tomando como referência as necessidades do trabalhador e tendo em vista que as mudanças no processo de educar só poderiam ocorrer com um novo olhar dos profissionais que executam as atividades nos portos . 
Dessa forma, a educação pode funcionar como instrumento de transformação social que coloca a cultura no centro de seu processo, possibilitando atuar sobre a representação da comunidade, para sobre ela agir. Nesse modelo busca-se propiciar aos profissionais os recursos para conhecer, compreender e agir na sociedade para que se emancipem. 
Um dos elementos fundamentais do método de Freire consiste em utilizar o saber anterior do educando como ponto de partida do processo pedagógico. A educação permanente propõe a agregação entre aprendizado, reflexão  e crítica sobre o trabalho. Esta tem como eixos norteadores a relação entre educação e trabalho, a mudança nas políticas de formação e nas práticas de produção e a disseminação do conhecimento.
 A proposta de educação permanente foi desenvolvida como estratégia para se alcançar o desenvolvimento da relação entre o trabalho e a educação. Parte do pressuposto de que o conhecimento se origina na identificação das necessidades e na busca de solução para os problemas encontrados, sendo válidos na solução dos problemas . Nessa perspectiva, a atividade do trabalhador pode ser o ponto de partida de seu saber real, determinando, dessa maneira, sua aprendizagem subsequente. 
Essa política objetiva uma educação contínua, tendo como ponto de partida o seu trabalho, o cotidiano de suas atividades, em que o aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano das organizações e ao trabalho, para por meio de situações encontradas em cada realidade serem problematizados os conteúdos, com base na reflexão, na criticidade e no agir em prol da mudança, retomando os conceitos da pedagogia de Freire.
 Considerando a atenção como prioritária para o desenvolvimento das ações , tendo como instrumento a educação, esta se configura como um ambiente propício para a consolidação de ações educativas que abordem não somente o processo saúde-doença, mas conceitos de cidadania e participação e desenvolvimento. 
Apesar do conhecido potencial da educação como prática de mobilização da comunidade. Aliadas a esse processo de educação permanente dos trabalhadores, têm sido propostas mudanças concomitantes na formação dos profissionais, por meio de metodologias ativas de ensino-aprendizagem, que superam o depósito e transferência de conhecimentos, tendo em vista que a utilização das metodologias ativas pode favorecer a atuação. 
A metodologia da problematização oferece subsídios para uma aprendizagem significativa por descoberta, valorizando o aprender a aprender, sendo os conteúdos trabalhados na forma de problemas, cujas relações são analisadas e interpretadas, e o conhecimento é criado/recriado numa relação dialógica entre educandos e educadores, em um movimento tensionador entre o saber anterior e a experiência presente.
 Verifica-se similarmente que as metodologias ativas de ensino-aprendizagem deverão levar em conta os conhecimentos prévios , cultura, a disposição para aprender e a abertura interior para modificar a sua realidade, sendo necessária, além da própria formação dos profissionais, a abertura de canais de comunicação com os gestores para dispor de tempo e espaços apropriados para tais atividades, as quais demandam tempo, recursos humanos, motivação dos sujeitos envolvidos e continuidade para a produção de resultados a curto, médio e longo prazos. Assim, as mudanças no sistema baseadas em princípios de integralidade, equidade, participação, saúde, sem prejuízo das operações. No que se refere à qualificação, verifica-se também que esse profissional não tem contado com ferramentas de ensino-aprendizagem que aliem o conhecimento pratico com o conhecimento técnico-científico, indispensável para a apropriação de práticas operacionais. 
Por esse prisma, vislumbra-se o uso de metodologias ativas nos processos de formação dos trabalhadores, tendo em vista as potencialidades dessas metodologias para a construção de conhecimentos que subsidiem uma prática  educativa continuada.

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