21 de abr. de 2015

A Feminização no Setor Portuario


A Feminização no setor portuário
 No setor portuário  está ocorrendo uma lenta, mas constante, 
feminização do trabalho
 como nos mostra os dados do Relatório Anual do Porto de Santos de 2012 dos trabalhadores.
 A quantidade de mulheres, que em 2007 representava 7%, em 2011
 passou para 11,6% e em 2012, 13,2%, indicando que em 5 anos quase dobrou o número da força de trabalho feminina. 
Já a quantidade de trabalhadores do gênero masculino diminui 2007
 era de 93%, em 2011 baixou para 88,4% e em 2012 cai ainda mais atingindo 86,8% de um total de 1466 trabalhadores.
As mulheres em diversos espaços laborais no Porto de Santos. 
Por exemplo, na empresa Tecondi  Terminais de Contêineres da Margem Direita, há 9 mulheres trabalhando em áreas operacionais 
sendo 1 técnica de segurança do trabalho; 2 conferentes de armazém;
 4 controladoras de gate; 1 conferente de costado e 1 operadora de máquina pequeno porte. 
Na ELOG  2 operadoras de máquina pequeno porte e 1 operadora de gate . A Libra Terminais 1 ajudante operacional; 1 controladora de gate; 
2 monitoras de CCO – Centro de Controle Operacional .
 A Santos Brasil veem empregando cerca de 100 mulheres 
distribuídas nas funções de: conferentes de costado, operadoras de máquina pequeno e grande porte, motoristas de caminhão,
 conferente de armazém e operadora de RTG .

 Já e sentida um aumento da inserção da força de trabalho feminina no setor portuário, num espaço que empregava majoritariamente trabalhadores. 
No entanto, essa feminização do trabalho no Porto, não ocorre de maneira simples uma das consequências é o preconceito muitas das trabalhadoras afirmam sofrer.
 O preconceito da feminização no setor portuário ocorre, tendencialmente, preconceito em relação à inserção da mulher no trabalho.
 Para  Ana Helfstein, 
que é uma das 83 mulheres que trabalham no setor de operações 
da Santos Brasil, iniciou sua carreira como motorista de carreta e hoje atua como supervisora de operações, afirma que, mesmo comandando uma equipe formada em sua maioria por força de trabalho masculina,
atualmente não tem sofrido nenhuma forma de preconceito. 
No entanto, segundo Ana, ela sofreu sim muito preconceito no início da carreira, quando atuava como motorista de carretas, mas afirma 
“que o carisma e o comprometimento foram as características que conquistaram o respeito dos homens, seus colegas de trabalho”.
 E complementa,
 “no começo eles (homens) se assustam e ficam analisando as mulheres, para ver se elas fazem o trabalho direito, depois passam a respeitar”.

Já Janete Marchioni de Oliveira, caminhoneira autônoma, que quando começou seu trabalho no cais sofreu enorme preconceito e muita discriminação. 
No começo, sofri bastante, pois tinham poucas mulheres.
 Éramos eu e mais três.
 O Porto ainda tinha um sistema antigo, só de homens.
 Eles não achavam que éramos trabalhadoras. 
Nos confundiam com prostitutas.
 Para poder usar o banheiro em um bar, eu tinha que contar a minha vida para o guarda portuário. 
Demoraram para se acostumar.
 Devido ao preconceito, eu tinha que trabalhar,
 fazer muito melhor que os homens para não ser vítima de gozação.
 Então, as empresas sabiam que eu era trabalhadora. 
Atualmente, tem 30 motoristas que trabalham comigo. 
Também somos mais cuidadosas, atenciosas 
e quebramos menos os caminhões. 

Na opinião da operadora de empilhadeiras Ana Cristina dos Santos, o preconceito masculino está vinculado ao medo da concorrência. 
Ela trabalha no terminal Marimex,
e que no início da sua carreira teve a ajuda dos companheiros de trabalho, homens, para aprender o ofício.
 Segundo ela “a maioria me recebeu bem, me ajudou.
 Mas percebo, sim, que eles têm medo de que a gente aprenda e seja melhor do que eles. 
O importante é mostrar que não existe diferença,
 que somos capazes de fazer o mesmo trabalho”. 

Juliana Sombra Melo 
que também era motorista de carreta e hoje opera um RTG  afirma que também sofreu preconceitos no início de sua carreira e que atualmente isto não mais acontece. 
Mas de certa forma, contraditoriamente, ela também afirma que seu maior desafio é conciliar o seu trabalho com as tarefas domésticas, pois embora seu marido a ajude , ainda é sua a responsabilidade com os afazeres de sua casa. Segundo Juliana,
 “a mulher pode trabalhar fora, quantas horas for, mas sempre vai ser cobrada por fazer comida, cuidar da casa, dos filhos, não tem jeito. 
Os homens só ajudam em uma coisa ou outra,
 mas a responsabilidade maior é da mulher”. 
Muitas vezes Juliana trabalha no turno da noite (madrugada) e conforme as palavras dela “quando eu chego em casa, às 7h30 da manhã, não tem desculpa. Meu marido me cobra para fazer o café da manhã para ele”. 
Ou seja, trabalhar no espaço produtivo, sem “preconceitos”, 
a mulher pode, porém tem que dar conta das suas “obrigações” 
com o cuidado com a família.

Já na visão das empresas do setor portuário o preconceito nas contratações femininas não ocorre. 
No terminal portuário Embraport, que fica localizado na margem esquerda Guarujá do Porto de Santos, até este ano de 2014, 
cerca de 30 mulheres trabalhadoras atuam em diversos setores da empresa. Elas se encontram presentes nas operações de controle de gates, monitoramentos, planejamento, vistoria e conferencia de cargas, 
além de operar equipamentos de pequeno, médio e grande portes. 

 Segundo Vitor Lousada, gerente de operações da Santos Brasil, 
“o trabalho exercido pelas mulheres nos terminais portuários é diferenciado”. Ele comenta que as operadoras têm um maior comprometimento com as suas obrigações laborais. 
“São pequenas atitudes no dia a dia que diferenciam o trabalho do homem e da mulher. 
Foi uma grata surpresa para a Santos Brasil o trabalho que começou a ser desempenhado por mulheres há alguns anos”.
 Ainda, conforme este gerente, a Santos Brasil está sempre disponível para contratar mulheres. 
“Nós avaliamos os currículos. Independente de homem ou mulher, nós classificamos o candidato pela qualificação. 
Hoje não existe mais esse tipo de preconceito com o sexo feminino”.


O Programa de Privatizações dos Serviços Portuários, se deu através do arrendamento das áreas e instalações para particulares, mantendo o governo como a autoridade portuária . Essa nova realidade reduziu o número de  trabalhadores . 
Ao analisar essa realidade dos portuários,  podemos identificar claras características do toyotismo na reestruturação produtiva. Entre elas, a exigência de uma maior qualificação e escolaridade, além da multifuncionalidade que deve estar presente no perfil do trabalhador, uma vez que eles devem  exercer funções de estiva,  capatazia, conferência de carga, conserto de carga, vigilância de embarcações e bloco. 


Com isso os trabalhadores podem ser deslocados para realizar qualquer serviço, dependendo das necessidades e interesses dos responsáveis pelo porto.
 Exigência esta  introduzida pela Lei n. 8.630/1993.
 Que estabelece que a prestação de serviços por trabalhadores portuários deve buscar, progressivamente, a multifuncionalidade do trabalho, visando adequá-lo aos modernos processos de manipulação de cargas e aumentar sua produtividade num  prazo de 5 anos.
 E que atinja todas as atividades das  categorias avulsa, e que seja estabelecida pelos contratos, convenções e acordos coletivos. 
Essas características, além de serem vinculadas à acumulação flexível e sugerem características do trabalho feminino. 
Essa incorporação do trabalho feminino pelo capital pode ser uma das razões para estar ocorrendo uma maior inserção da mulher no setor portuário e consequentemente surgindo uma nova divisão sócio-sexual do trabalho.
Fonte
A DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO NO SETOR PORTUÁRIO
Imagens
 João de JESUS
    João Renato 

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