A
Feminização no setor portuário
No setor portuário está ocorrendo uma lenta, mas constante,
feminização
do trabalho
como nos mostra os dados do Relatório Anual do Porto de Santos de
2012 dos trabalhadores.
A quantidade de mulheres, que em 2007 representava 7%,
em 2011
passou para 11,6% e em 2012, 13,2%, indicando que em 5 anos quase
dobrou o número da força de trabalho feminina.
Já a quantidade de trabalhadores
do gênero masculino diminui 2007
era de 93%, em 2011 baixou para 88,4% e em
2012 cai ainda mais atingindo 86,8% de um total de 1466 trabalhadores.
As
mulheres em diversos espaços laborais no Porto de Santos.
Por exemplo, na
empresa Tecondi Terminais de Contêineres da Margem Direita, há 9 mulheres
trabalhando em áreas operacionais
sendo 1 técnica de segurança do trabalho; 2
conferentes de armazém;
4 controladoras de gate; 1 conferente de costado e 1
operadora de máquina pequeno porte.
Na ELOG 2 operadoras de máquina pequeno porte e 1
operadora de gate . A Libra Terminais 1 ajudante operacional; 1 controladora de
gate;
2 monitoras de CCO – Centro de Controle Operacional .
A Santos Brasil veem
empregando cerca de 100 mulheres
distribuídas nas funções de: conferentes de
costado, operadoras de máquina pequeno e grande porte, motoristas de caminhão,
conferente de armazém e operadora de RTG .
Já e sentida um aumento da inserção da força
de trabalho feminina no setor portuário, num espaço que empregava
majoritariamente trabalhadores.
No entanto, essa feminização do trabalho no
Porto, não ocorre de maneira simples uma das consequências é o preconceito
muitas das trabalhadoras afirmam sofrer.
O preconceito da feminização no setor
portuário ocorre, tendencialmente, preconceito em relação à inserção da mulher
no trabalho.
Para Ana Helfstein,
que é
uma das 83 mulheres que trabalham no setor de operações
da Santos Brasil,
iniciou sua carreira como motorista de carreta e hoje atua como supervisora de
operações, afirma que, mesmo comandando uma equipe formada em sua maioria por
força de trabalho masculina,
atualmente não tem sofrido nenhuma forma de
preconceito.
No entanto, segundo Ana, ela sofreu sim muito preconceito no
início da carreira, quando atuava como motorista de carretas, mas afirma
“que o
carisma e o comprometimento foram as características que conquistaram o
respeito dos homens, seus colegas de trabalho”.
E complementa,
“no começo eles
(homens) se assustam e ficam analisando as mulheres, para ver se elas fazem o
trabalho direito, depois passam a respeitar”.
Já
Janete Marchioni de Oliveira, caminhoneira autônoma, que quando começou seu
trabalho no cais sofreu enorme preconceito e muita discriminação.
No começo,
sofri bastante, pois tinham poucas mulheres.
Éramos eu e mais três.
O Porto
ainda tinha um sistema antigo, só de homens.
Eles não achavam que éramos
trabalhadoras.
Nos confundiam com prostitutas.
Para poder usar o banheiro em um
bar, eu tinha que contar a minha vida para o guarda portuário.
Demoraram para
se acostumar.
Devido ao preconceito, eu tinha que trabalhar,
fazer muito melhor
que os homens para não ser vítima de gozação.
Então, as empresas sabiam que eu
era trabalhadora.
Atualmente, tem 30 motoristas que trabalham comigo.
Também
somos mais cuidadosas, atenciosas
e quebramos menos os caminhões.
Na opinião da
operadora de empilhadeiras Ana Cristina dos Santos, o preconceito masculino
está vinculado ao medo da concorrência.
Ela trabalha no terminal Marimex,
e que no início da sua carreira teve a ajuda
dos companheiros de trabalho, homens, para aprender o ofício.
Segundo ela “a
maioria me recebeu bem, me ajudou.
Mas percebo, sim, que eles têm medo de que a
gente aprenda e seja melhor do que eles.
O importante é mostrar que não existe
diferença,
que somos capazes de fazer o mesmo trabalho”.
Juliana Sombra Melo
que também era motorista de carreta e hoje opera um RTG afirma que também sofreu preconceitos no
início de sua carreira e que atualmente isto não mais acontece.
Mas de certa
forma, contraditoriamente, ela também afirma que seu maior desafio é conciliar
o seu trabalho com as tarefas domésticas, pois embora seu marido a ajude ,
ainda é sua a responsabilidade com os afazeres de sua casa. Segundo Juliana,
“a
mulher pode trabalhar fora, quantas horas for, mas sempre vai ser cobrada por
fazer comida, cuidar da casa, dos filhos, não tem jeito.
Os homens só ajudam em
uma coisa ou outra,
mas a responsabilidade maior é da mulher”.
Muitas vezes
Juliana trabalha no turno da noite (madrugada) e conforme as palavras dela
“quando eu chego em casa, às 7h30 da manhã, não tem desculpa. Meu marido me
cobra para fazer o café da manhã para ele”.
Ou seja, trabalhar no espaço
produtivo, sem “preconceitos”,
a mulher pode, porém tem que dar conta das suas
“obrigações”
com o cuidado com a família.
Já
na visão das empresas do setor portuário o preconceito nas contratações
femininas não ocorre.
No terminal portuário Embraport, que fica localizado na
margem esquerda Guarujá do Porto de Santos, até este ano de 2014,
cerca de 30
mulheres trabalhadoras atuam em diversos setores da empresa. Elas se encontram
presentes nas operações de controle de gates, monitoramentos, planejamento,
vistoria e conferencia de cargas,
além de operar equipamentos de pequeno, médio
e grande portes.
Segundo Vitor Lousada,
gerente de operações da Santos Brasil,
“o trabalho exercido pelas mulheres nos
terminais portuários é diferenciado”. Ele comenta que as operadoras têm um
maior comprometimento com as suas obrigações laborais.
“São pequenas atitudes
no dia a dia que diferenciam o trabalho do homem e da mulher.
Foi uma grata
surpresa para a Santos Brasil o trabalho que começou a ser desempenhado por
mulheres há alguns anos”.
Ainda, conforme este gerente, a Santos Brasil está
sempre disponível para contratar mulheres.
“Nós avaliamos os currículos.
Independente de homem ou mulher, nós classificamos o candidato pela
qualificação.
Hoje não existe mais esse tipo de preconceito com o sexo feminino”.
O
Programa de Privatizações dos Serviços Portuários, se deu através do
arrendamento das áreas e instalações para particulares, mantendo o
governo como a autoridade portuária . Essa nova realidade reduziu o número de trabalhadores .
Ao analisar essa realidade dos
portuários, podemos identificar claras
características do toyotismo na reestruturação produtiva. Entre elas, a
exigência de uma maior qualificação e escolaridade, além da multifuncionalidade
que deve estar presente no perfil do trabalhador, uma vez que eles devem exercer funções de estiva, capatazia, conferência
de carga, conserto de carga, vigilância de embarcações e bloco.
Com isso os
trabalhadores podem ser deslocados para realizar qualquer serviço, dependendo
das necessidades e interesses dos responsáveis pelo porto.
Exigência esta introduzida pela Lei n. 8.630/1993.
Que estabelece
que a prestação de serviços por trabalhadores portuários deve buscar,
progressivamente, a multifuncionalidade do trabalho, visando adequá-lo aos
modernos processos de manipulação de cargas e aumentar sua produtividade num prazo de 5 anos.
E que atinja todas as
atividades das categorias avulsa, e que
seja estabelecida pelos contratos, convenções e acordos coletivos.
Essas
características, além de serem vinculadas à acumulação flexível e sugerem
características do trabalho feminino.
Essa incorporação do trabalho feminino
pelo capital pode ser uma das razões para estar ocorrendo uma maior inserção da
mulher no setor portuário e consequentemente surgindo uma nova divisão
sócio-sexual do trabalho.
Fonte
A DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO NO SETOR PORTUÁRIO
Imagens
João de JESUS
João Renato
Nenhum comentário:
Postar um comentário