22 de jun. de 2015

Da qualificação à competência


O silêncio e a fragmentação de tarefas dão lugar à comunicação e à interatividade. Identifica-se a definição de um novo patamar de qualificação, vinculado ao savoir-faire  dos trabalhadores e ao ambiente subjetivo do sujeito: abstração, criatividade, dinamismo, comunicação .
As organizações conectadas aos setores da economia mantêm em seu núcleo trabalhadores qualificados, aos quais são oferecidas condições e oportunidades .
A centralização de recursos em uma parcela dos trabalhadores faz com que a qualificação tenda a se orientar de forma seletiva, privilegiando setores e trabalhadores considerados estratégicos. Essas políticas marginalizam os trabalhadores dos Ogmos e tendem a reproduzir situações de exclusão social. 
A perda desses trabalhadores não se limita à restrição de sua mobilidade socioeconômica, mas a um processo de exclusão do conhecimento, num momento em que o mundo do trabalho passa a cultuar a capacidade do sujeito em mobilizar sua vivência profissional, pessoal e sociocultural de forma a agregar conhecimento ao trabalho.
 Esta perda é potencializada pelo fato de que a retração se destaque não como um elemento de maior qualificação do posto de trabalho, mas sim de seleção para o emprego.
 Como conseqüência, os laços entre qualificação profissional e salário se enfraquecem, as descrições de cargos se tornam mais genéricas, calcadas em qualificações tácitas do que em conhecimentos sedimentados pela qualificação profissional. 
As organizações passam a adotar estratégias que viabilizem a absorção do conhecimento tácito dos trabalhadores, assim como políticas de remuneração e treinamento que incentivem a educação continuada e o aperfeiçoamento permanente do processo de trabalho.
O modelo educacional alemão e  japonês são paradigmas de sucesso em função de um projeto societário negociado entre o Estado, trabalhadores e  Empresarios.
O reconhecimento da competência dos trabalhadores alemães é o elemento determinante de sua classificação profissional e de sua remuneração, o que se deve à confiabilidade nos certificados e diplomas. 
O investimento em educação é dividido entre o Estado e o setor privado. 
Tal divisão na  formação os saberes teóricos são desenvolvidos na escola e os saberes práticos na empresa, de onde advém sua característica dual.
 No sistema de formação profissional, a qualificação no modelo alemão é do trabalhador e não da empresa, o que lhe proporciona mobilidade e evita sua desqualificação
Já no Japão a qualificação está relacionada à empresa e não ao sistema educacional.
 A profissionalização e a qualificação do trabalhador japonês ocorrem na empresa, em função dos objetivos e da estratégia corporativa, sem nenhuma certificação que lhe possibilite comprovar e articular seu conhecimento fora da organização.
 Mas longe de depreciar o padrão escolar, o modelo de qualificação japonês se estrutura sobre uma hierarquização que remonta ao desempenho estudantil para refletir-se na possibilidade de contratação do indivíduo por uma das grandes empresas japonesas ao término do ciclo de estudos.
O sucesso na escola é um fator determinante, para o sucesso profissional, pois ser absorvido por uma empresa que ofereça perspectivas de desenvolvimento profissional e emprego permanente está vinculada ao desempenho escolar.
Projetos e programas voltados para o aperfeiçoamento, reciclagem ou requalificação profissional.

Países como Inglaterra e França vêm reformulando seu sistema educacional visando, aumentar o nível de escolaridade da população, ampliar as oportunidades de educação continuada e  qualificação.
Para o governo inglês educação e um recurso estratégico para a competitividade e desenvolvimento econômico do país, por isso arca com o investimento e destina amplos subsídios para a educação superior, ações para o aumento da escolaridade da população, com metas de ampliação do número de diplomados de nível superior e incentivo à os estudantes, em tempo integral, no ensino complementar e na educação continuada e em sua concepção de requalificação.
A obtenção da certificação no modelo inglês não está relacionada unicamente às competências oriundas de uma formação profissional formal ou da vivência profissional, mas também à capacidade do indivíduo em comprovar sua competência na ação do trabalho, o que abre possibilidades para a afirmação e valorização de espaços educativos alternativos, como o aprendizado autônomo e a experiência profissional .
A educação básica francesa contempla as diferenças individuais, possibilitando ao indivíduo desenvolver-se de acordo com sua capacidade e seu ritmo.
 Contudo é o desempenho escolar do indivíduo durante o ensino obrigatório  que vai determinar suas possibilidades de acesso ao ensino superior.
O governo francês vem implementando ações buscando melhorar a imagem do ensino profissional junto a população, a fim de elevar a qualificação dos indivíduos, encontrar soluções para a inserção dos jovens no mercado de trabalho e promover a requalificação dos trabalhadores.
As reformas inglesa e francesa reconhecem a importância de uma educação sólida para a articulação na formação de indivíduos aptos à educação continuada, ao aprendizado autônomo e a otimizarem seu potencial de aprendizagem.
Os dois sistemas educacionais contemplam em sua dinâmica a requalificação dos trabalhadores
A legislação trabalhista francesa permite ao trabalhador uma licença individual de formação, oportunidade de se qualificar mantendo os laços empregatícios.
 Além disso o governo francês articula, junto ao setor privado, através de subsídios e isenções tributárias, programas de qualificação e requalificação profissional para jovens e trabalhadores.
A partir da tese da requalificação para adequação de trabalhadores ao novo modelo econômico, surge o modelo da competência que, ao contrário do modelo de qualificações, seria mais adequado ao novo padrão produtivo que valoriza a atuação individual.
 O termo competência teria origem em estudos econômicos e históricos sobre trabalhadores para, mais tarde, ser apropriado pelas empresas de acordo com suas políticas de recrutamento, seleção, treinamento e de organização do processo de trabalho.
A empregabilidade e competência são termos que se centram no indivíduo e em suas qualificações.
 Entretanto, a empregabilidade estaria vinculada a uma responsabilização do trabalhador por não conseguir emprego, na medida em que este não teria efetuado as escolhas corretas para sua capacitação ou teria uma qualificação inadequada, cabendo-lhe portanto o ônus pela sua exclusão do mundo do trabalho e da vida social.
Mas enquanto a qualificação remete ao posto de trabalho, ao salário, às tarefas, a competência remete à subjetividade, à multifuncionalidade, à imprecisão.
 O modelo da competência possibilita os instrumentos necessários para efetuar ao trabalhador à sua capacidade de realizar as tarefas que lhe são destinadas.
 E a ação, realização, movimento, velocidade representa na valorização da experiência profissional, oriundo da vivência pessoal, da experiência no trabalho e das atitudes comportamentais em contraposição ao saber adquirido na escola.
Nesse sentido a requalificação se daria na  absorção dos trabalhadores não mais por sua qualificação profissional, mas por sua capacidade em mobilizar o conjunto de suas competências no processo de trabalho.
As práticas da competência estariam mais relacionadas à mobilidade do trabalhador do que ao conteúdo das atividades e ao conhecimento formal que este requer.
 Os saberes não profissionais: comunicação, criatividade, capacidade de inovação  e sinalizaria em direção à valorização de comportamentos úteis . 
Sendo um terreno fértil para a sedimentação de saberes.
Voltando a realidade, mas enquanto os primeiros TPas lutam para se manterem competitivos no porto, os empresários parecem calcar suas contratações em perfis cada vez mais abstratos. 
Apesar da pressão exercida pela  lei o setor  , privilegia, no recrutamento e seleção,juventude e inexperiência  sem  conhecimento profissional.
O investimento em educação e no aprimoramento de qualificações representa aos trabalhadores a manutenção competitiva do seu mundo portuário.
 Contudo, paradoxalmente essa valorização ocorre em um momento em que o trabalho como vínculo empregatício, firmado com base no compromisso capital/trabalho, parece se esvair.
Fonte Qualificação Versus Competência 

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