SOJA PELO NORTE
Mas o país real não para e dá motivos para se acreditar no futuro.
Em
viagem ao Japão, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu,
falou a
empresários da poderosa Keidanren -
confederação de indústria e comércio -
sobre o escoamento de soja pelos portos do Norte do país.
Isso dará
vantagem em relação aos custos para se exportar
o produto do Centro-Oeste
por Santos e Paranaguá.
Na verdade,
56% da soja brasileira é produzida na
parte superior do Brasil
é levada em caminhões para Sul e Sudeste.
Os novos
portos visados são Itaqui MA e Vila do Conde PA.
Kátia exortou os japoneses a investirem em "Matopiba",
que vem a
ser uma fronteira agrícola quase virgem,
que reúne terras de Maranhão,
Tocantins, Piauí e Bahia.
Se quer estimular a cabotagem, o Governo poderia cortar
a burocracia e diminuir
os controles da Receita
sobre cargas operadas entre portos nacionais.
Hoje,
a Receita examina um container
que circula entre Rio e Santos
como um que
chega de Cingapura para Santos.
ERRO: ANTAQ NA SEP
O advogado Osvaldo Agripino descobriu o óbvio,
mas que até agora todos
aceitavam sem pestanejar.
A Antaq
teria de continuar subordinada ao
Ministério dos Transportes
e não à SEP. É que o Ministério dos Transportes
-
embora não tenha feito o menor esforço nesse rumo -
teria condições de
estabelecer uma politica de transportes
soberana para o país. Já uma
entidade portuária - a SEP -
não tem o mínimo de condições de criar uma
política de transportes
, pois precisa tratar de algo muito mais restrito,
que é a política portuária nacional.
Segundo Agripino, os Estados Unidos,
sempre usados como modelo no Brasil,
têm sua agência de navegação ligada ao
Ministério dos Transportes
- para traçar política.
- O Brasil é a sétima potência mundial.
Pode até não ter frota própria em
porta-containeres,
mas precisa saber dados sobre as companhias estrangeiras
que levam 100% de suas exportações e importações -
diz Agripino.
Cita que,
em 1960,
o Brasil era responsável por 1,2% do comércio mundial
e hoje está
restrito a menos de 1%.
Segundo Agripino, há denúncias de cobranças de até 20 itens
acoplados aos
fretes, como "demourrage"
- atrasos causados pelos portos -
exagerado.
Quanto a Terminal Handling Charges (THC) -
uma taxa de estiva -
diz Agripino
que o armador recebe indevidamente esse valor,
paga uma parte
aos terminais e fica com a sobra,
indevidamente e sem declarar o lucro às
autoridades.
Acentua Agripino que, como os americanos fazem há 60 anos,
o Brasil precisa
saber detalhes inclusive
o valor cobrado como frete.
Para Agripino, a quebra da empresa nacional Maestra,
na cabotagem, com
perda de R$ 150 milhões,
é prova clara de que os grandes grupos
internacionais
não querem concorrência, mesmo na cabotagem.
Afirma Agripino que estudou 15 modelos e
que não há saída exceto a
regulação.
No Brasil, mesmo que o Governo não crie política de transporte,
Agripino acha que o Cade tem a obrigação de agir contra
o que chama de
cartel dos transportadores internacionais.
- Temos debilidade institucional,
o que causa preços altos e baixa
qualidade de serviço
dos gigantes mundiais da navegação - frisa.
Lembra Agripino que, de seus contatos com a Antaq,
ficou a impressão de que
a agência teme que
tais armadores abandonem o Brasil e deixem o país
sem
ter como exportar e importar.
Garante que em nenhum país a regulação
afastou
os armadores internacionais,
que estão à cata apenas de lucros.
Para Agripino, o transporte é "indústria de rede", ou seja,
armadores e terminais se entendem bem, e, em certos casos,
pertencem a
mesmo grupo econômico.
"Isso é ruim para o usuário", assevera.
Cita nota da Folha de São Paulo e 21 de maio de 2013,
informando 18
empresas que dispõem de terminais
contribuíram com R$ 121,5 mlhões para
campanhas eleitorais,
de 2000 a 2012.
- Acho incrível que, para aumentar a THC, armadores estrangeiros apenas
avisem o fato aos clientes brasileiros. Isso é típico da falta de
regulação.
De acordo com Agripino, em cinco anos, a Prefeitura de Santos perdeu R$ 700
milhões em sonegação referente à cobrança estranha e sem tributação de THC. Na China, quem faz essa cobrança é o terminal e não o armador.
Destaca que,
em 2013, o TCP (PR) elevou em 509% suas tarifas,
o que, mesmo que tenha
ocorrido defasagem, é inaceitável.
" O Brasil está totalmente
dependente de armadores estrangeiros no comércio externo", frisa.
Agripino criticou a cobrança de armazenagem pelos terminais, frisando que
uma carga que fique dois dias no local tem de pagar taxa referente a uma
quinzena.
Garante que foi descoberta cobrança abusiva de "demourrage", no
valor de R$ 3,9 milhões e que o Brasil é líder mundial em pagamento de
"demourrage" e em ações na justiça contra tais cobranças.
Frisa
que os juízes, em geral, não têm conhecimento para discernir isentamente
sobre a questão.
Como prova de abuso, Agripino cita que, para poder exportar, a gigante
Brasil Foods foi obrigada a aceitar cláusula pela qual qualquer multa
cobrada
aos armadores teria de ser paga pela gigante nacional de
alimentação.
" O Brasil está na mão dos estrangeiros", repete.
Afirma que a Antaq pune terminais, que repassam os valores para os
clientes,
mas nunca puniu armadores estrangeiros.
Em breve, Agripino
lançará seu livro Direito Portuário e a Nova Regulação,
com a tese de que
custos não serão reduzidos se não houver regulação das
companhias
estrangeiras de navegação.
Reduzir custos era a meta da lei dos portos, a
12, 853.
Conclui Agripino:
" O dono de um terreno deve cercar sua propriedade para dissuadir invasores. O Brasil tem de regular a navegação para evitar
sobrepreço,
fraude fiscal e até contrabando.
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