Fatores
psicossociais e organizacionais devem ser relacionados com a ocorrência de
Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao
Trabalho (LER/DORT), pois para Rocha, Daniellou e Nascimento (2012) fatores de
risco baseados unicamente em uma abordagem biomecânica do movimento são
questionáveis. O questionário Nórdico tem sido amplamente utilizada para
verificação de danos físicos a diferentes categorias profissionais, e é
exatamente nesse aspecto que este estudo traz uma contribuição importante, ao
correlacionar dados deste instrumento, com dados dos outros instrumentos
aplicados, metodologia que possibilitou analisar a carga mental do trabalho dos
estivadores, além da conhecida carga física dos mesmos.
Os estivadores ao
responderem o questionário Nórdico demonstram consciência da sensação corporal,
mesmo se encaixando no estereótipo de força física, coragem e valentia,
diferenciam bem as diferentes partes do corpo onde têm dor.
Afora a relação de
queixas com as cargas física e mental, também foi possível associar o risco de
lombalgia às queixas osteomusculares.
Os resultados obtidos pelo questionário
Nórdico demonstram que os sujeitos classificados como pouco cansados ou
cansados fisicamente ao final da jornada de trabalho sentiram dor na região
inferior das costas nos últimos 12 meses e/ou nos últimos 7 dias. A dor lombar
impediu os estivadores cansados mentalmente de trabalhar e/ou de realizar
trabalhos domésticos e/ou de lazer nos últimos 12 meses. Contudo, nota-se que
mesmo apresentando alto rico à lombalgia, esse não foi o motivo que os levou a
procurar um profissional de saúde no último ano.
O American College of
Physicians e o American Pain Society recomendam que o médico considere os
fatores de risco psicossociais no histórico do paciente, ao realizar o
diagnóstico e o tratamento da dor lombar (CHOU et al., 2007).
A dor,
formigamento, dormência em diferentes regiões do corpo, sensação de cansaço
físico ou mental relatada por esse grupo de estivadores, pode ser um importante
indicador para orientar atividades de prevenção de futuras lesões
musculoesqueléticas associadas às condições e/ou organização do trabalho e, com
esta conduta, evitar maior desgaste e sofrimento mental dessa população.
Autores como Loisel et al. (2001), Baena et al. (2011) e Santos et al. (2011)
têm enfatizado a importância de se investir em programas de prevenção e de
promoção em saúde do trabalhador.
Diante do
exposto, foi possível concluir a existência de uma carga física no trabalho dos
estivadores, que é percebida pelos mesmos na forma de cansaço e/ou queixas de
dor ou desconforto em alguma região do corpo, sobretudo a região lombar, eles
também percebem e relatam um cansaço mental, que pode impedi-los de trabalhar
ou de realizar atividades rotineiras, de lazer e/ou domésticas.
Ao final da
jornada de trabalho, conseguem perceber não somente o cansaço físico, mas também
a carga mental do trabalho, sendo que àqueles com alto risco de lombalgia são
os mais afetados neste quesito. Àqueles que se sentem cansados fisicamente e/ou
mentalmente também são os mesmos que apresentam mais queixas no questionário
Nórdico, principalmente no que diz respeito ao relato de dor, formigamento e
dormência nos últimos 12 meses.
De acordo com relatos apresentados, não existe
reconhecimento dos superiores quanto aos riscos a que estes trabalhadores se
expõem, assim como não evidenciam o reconhecimento social de seu trabalho.
A
principal fonte de prazer para os estivadores reside no fazer o que gostam pelo
grau de autonomia e liberdade que esta atividade lhes proporciona.
A partir do
estudo em um porto brasileiro, nota-se a interação entre as exigências físicas,
cognitivas e psíquicas que constrangem o trabalho dos estivadores.
É do
conhecimento geral que estes trabalhadores desenvolvem um trabalho perigoso em
condições muito desfavoráveis, em que a exigência mais evidente é a carga
física do trabalho. Entretanto, os resultados aqui apresentados também
demonstram relatos de carga mental, a qual pode estar associada ao fato da
incerteza da garantia de trabalho, ao trabalho por turnos, à necessidade de uma
articulação de trabalho em grupo e uma reconstrução permanente de equipes.
Enfim, o conhecimento das características do trabalho do estivador o qual
inclui, esforço físico elevado, posturas constrangedoras, movimentos
repetitivos, atenção, concentração e responsabilidade, desenvolvidas em ambientes
ergonomicamente inadequados, expostos aos mais variados riscos ocupacionais, a
alterações meteorológicas, a ritmos de trabalho intensos (principalmente nas
safras) e a turnos alternados, são aspectos importantes a serem divulgados no
meio acadêmico, na mídia, para autoridades portuárias e para serviço de
vigilância em saúde do trabalhador portuário, afim de mitigar o desgaste físico
e mental desses trabalhadores.
O compartilhamento destes resultados poderá
apontar para mudanças em políticas públicas que dizem respeito à saúde e
segurança dessa categoria e favorecer o estabelecimento de parcerias
interinstitucionais que possam contribuir em prol dessa causa.
Os resultados
desta pesquisa, muito provavelmente não são específicos dos estivadores do
Porto de Paranaguá, uma vez que as condições e organização do trabalho
portuário são muito similares nos diversos portos brasileiros.
Assim, foi
importante analisar as diferentes dimensões da carga de trabalho de estivadores
e discutir seus constrangimentos, o que permite refletir sobre novas
possibilidades que visem tranformações da vida no trabalho.
Fonte O QUE ESTÁ À SOMBRA NA CARGA DE TRABALHO DE ESTIVADORES?
WHAT IS IN THE SHADOW OF THE LONGSHOREMEN´S WORK
LOAD?
Arlete
Ana Motter,Marta
Santos e Ana
Tereza Bittencourt Guimarães
Revista Produção Online, Florianópolis, SC, v.15, n. 1, p. 321-344, jan./mar. 2015.
Revista Produção Online, Florianópolis, SC, v.15, n. 1, p. 321-344, jan./mar. 2015.
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