8 de dez. de 2015

As características da Saude no trabalho do estivador

 Fatores psicossociais e organizacionais devem ser relacionados com a ocorrência de Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT), pois para Rocha, Daniellou e Nascimento (2012) fatores de risco baseados unicamente em uma abordagem biomecânica do movimento são questionáveis. O questionário Nórdico tem sido amplamente utilizada para verificação de danos físicos a diferentes categorias profissionais, e é exatamente nesse aspecto que este estudo traz uma contribuição importante, ao correlacionar dados deste instrumento, com dados dos outros instrumentos aplicados, metodologia que possibilitou analisar a carga mental do trabalho dos estivadores, além da conhecida carga física dos mesmos.
 Os estivadores ao responderem o questionário Nórdico demonstram consciência da sensação corporal, mesmo se encaixando no estereótipo de força física, coragem e valentia, diferenciam bem as diferentes partes do corpo onde têm dor. 
Afora a relação de queixas com as cargas física e mental, também foi possível associar o risco de lombalgia às queixas osteomusculares. 
Os resultados obtidos pelo questionário Nórdico demonstram que os sujeitos classificados como pouco cansados ou cansados fisicamente ao final da jornada de trabalho sentiram dor na região inferior das costas nos últimos 12 meses e/ou nos últimos 7 dias. A dor lombar impediu os estivadores cansados mentalmente de trabalhar e/ou de realizar trabalhos domésticos e/ou de lazer nos últimos 12 meses. Contudo, nota-se que mesmo apresentando alto rico à lombalgia, esse não foi o motivo que os levou a procurar um profissional de saúde no último ano. 
O American College of Physicians e o American Pain Society recomendam que o médico considere os fatores de risco psicossociais no histórico do paciente, ao realizar o diagnóstico e o tratamento da dor lombar (CHOU et al., 2007).
 A dor, formigamento, dormência em diferentes regiões do corpo, sensação de cansaço físico ou mental relatada por esse grupo de estivadores, pode ser um importante indicador para orientar atividades de prevenção de futuras lesões musculoesqueléticas associadas às condições e/ou organização do trabalho e, com esta conduta, evitar maior desgaste e sofrimento mental dessa população. Autores como Loisel et al. (2001), Baena et al. (2011) e Santos et al. (2011) têm enfatizado a importância de se investir em programas de prevenção e de promoção em saúde do trabalhador.


Diante do exposto, foi possível concluir a existência de uma carga física no trabalho dos estivadores, que é percebida pelos mesmos na forma de cansaço e/ou queixas de dor ou desconforto em alguma região do corpo, sobretudo a região lombar, eles também percebem e relatam um cansaço mental, que pode impedi-los de trabalhar ou de realizar atividades rotineiras, de lazer e/ou domésticas.
 Ao final da jornada de trabalho, conseguem perceber não somente o cansaço físico, mas também a carga mental do trabalho, sendo que àqueles com alto risco de lombalgia são os mais afetados neste quesito. Àqueles que se sentem cansados fisicamente e/ou mentalmente também são os mesmos que apresentam mais queixas no questionário Nórdico, principalmente no que diz respeito ao relato de dor, formigamento e dormência nos últimos 12 meses.
 De acordo com relatos apresentados, não existe reconhecimento dos superiores quanto aos riscos a que estes trabalhadores se expõem, assim como não evidenciam o reconhecimento social de seu trabalho. 
A principal fonte de prazer para os estivadores reside no fazer o que gostam pelo grau de autonomia e liberdade que esta atividade lhes proporciona.
 A partir do estudo em um porto brasileiro, nota-se a interação entre as exigências físicas, cognitivas e psíquicas que constrangem o trabalho dos estivadores.
 É do conhecimento geral que estes trabalhadores desenvolvem um trabalho perigoso em condições muito desfavoráveis, em que a exigência mais evidente é a carga física do trabalho. Entretanto, os resultados aqui apresentados também demonstram relatos de carga mental, a qual pode estar associada ao fato da incerteza da garantia de trabalho, ao trabalho por turnos, à necessidade de uma articulação de trabalho em grupo e uma reconstrução permanente de equipes. 
Enfim, o conhecimento das características do trabalho do estivador o qual inclui, esforço físico elevado, posturas constrangedoras, movimentos repetitivos, atenção, concentração e responsabilidade, desenvolvidas em ambientes ergonomicamente inadequados, expostos aos mais variados riscos ocupacionais, a alterações meteorológicas, a ritmos de trabalho intensos (principalmente nas safras) e a turnos alternados, são aspectos importantes a serem divulgados no meio acadêmico, na mídia, para autoridades portuárias e para serviço de vigilância em saúde do trabalhador portuário, afim de mitigar o desgaste físico e mental desses trabalhadores. 
O compartilhamento destes resultados poderá apontar para mudanças em políticas públicas que dizem respeito à saúde e segurança dessa categoria e favorecer o estabelecimento de parcerias interinstitucionais que possam contribuir em prol dessa causa. 
Os resultados desta pesquisa, muito provavelmente não são específicos dos estivadores do Porto de Paranaguá, uma vez que as condições e organização do trabalho portuário são muito similares nos diversos portos brasileiros.
 Assim, foi importante analisar as diferentes dimensões da carga de trabalho de estivadores e discutir seus constrangimentos, o que permite refletir sobre novas possibilidades que visem tranformações da vida no trabalho.
Fonte O QUE ESTÁ À SOMBRA NA CARGA DE TRABALHO DE ESTIVADORES?
WHAT IS IN THE SHADOW OF THE LONGSHOREMEN´S WORK LOAD? 
Arlete Ana Motter,Marta Santos e Ana Tereza Bittencourt Guimarães
Revista Produção Online, Florianópolis, SC, v.15, n. 1, p. 321-344, jan./mar. 2015.

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