7 de dez. de 2015

Os constrangimentos físicos do Estivador

O que se conhece do trabalho quanto aos constrangimentos físicos
O trabalho da estiva no Porto de Paranaguá é desenvolvido exclusivamente por homens. A maioria entre 40 e 49 anos (n=198), embora façam parte trabalhadores com idade entre 30 e 71 anos. O grau de escolaridade ensino médio completo 42,3%. Quanto ao estado civil, casados 70,3%. São trabalhadores com  20 + 4 anos (média + desvio padrão).
A postura para o trabalho é predominantemente em pé 43% ou posturas alternadas 46,3%. Em terreno, que não há lugar próximo para se sentar e se sentar, podem comprometer a segurança das operações. 
O trabalho manual envolve transporte e levantamento de carga, sacaria ( 50 kg), trabalho realizado em dupla com  movimentos repetitivos que envolvem flexões, inclinações e rotações de coluna vertebral.
 O  risco de lombalgia, os resultados apontam para altíssimo risco 74,7%.
 Os trabalhadores com idade mais avançada evitam se candidatar ao trabalho na sacaria, o que ajuda a lhes preservar fisicamente, prolongando a atividade na estiva por longos anos, fato que pode explicar como apesar dos efeitos deletérios do envelhecimento, se mantém ativos por tanto tempo.
 Os sintomas e/ou doenças relatados pelos trabalhadores foram divididos em macrogrupos, que definiram sistemas corpóreos afetados, quais sejam: 
cardiovascular e/ou circulatório, dermatológico, metabólico, gastrointestinal, genitourinário, mental, neurológico, osteomuscular, respiratório e reumático. Neste estudo, o sistema corpóreo mais atingido foi o osteomuscular 64,9%, sistemas cardiovascular/circulatório 20,4%, gastrintestinal 12,3%, respiratório 6,3%, diabetes 5,6%, dermatológico 2,8%, reumático e neurológico 1,1%, mental 0,7% e genito-urinário 0,4%. 

Em todas as classes etárias, o principal sistema corpóreo atingido foi o osteomuscular, o que vai de encontro ao elevado risco de lombalgia. Com efeito, o osteomuscular é o mais evidente, ou seja, o mais visível, dos constrangimentos dos estivadores, como já mostraram outros estudos: Cavalcante et al., (2005) encontraram 45% de problemas na coluna e 28% de agravos nas articulações. Cezar-vaz et al., (2010) encontraram 71,90% distúrbios osteoarticulares.
 Contudo a realização desta atividade não compromete apenas o sistema osteomuscular,pois  existem importantes exigências mentais impostas diariamente a esses trabalhadores, tanto é que ao serem questionados sobre como se sentem ao final da jornada de trabalho, conseguem perceber não somente o cansaço físico, mas também a carga mental do trabalho.
A exigência de atenção e concentração na movimentação de diferentes tipos de mercadorias, na coordenação das ações entre os diferentes membros da equipe, o trabalho em turnos resultando em distúrbios sono-vigília, a angústia pela incerteza quanto a ter trabalho a legislação e os confrontos de tercerização. 
Os resultados indicam que a maioria dos estivadores deste porto não percebem o reconhecimento por parte de seus superiores hierárquicos, ou seja, o julgamento de utilidade (DEJOURS, 1999). 
Como aponta um estivador
“os trabalhadores são subestimados, descartados como copinho de café”.
 Outro depoimento que se segue essa dinâmica: 
“Só nos procuram em época de eleição por sermos em grande número de pessoas, prometem coisas e depois que vencem as eleições nos esquecem”
Esses resultados ajudam a demostrar o impacto do trabalho na saúde e equilíbrio emocional dos estivadores
No que se refere ao reconhecimento social, a maior parte dos estivadores se sentem desvalorizados, social e profissionalmente, em relação ao trabalho que executam. 
Essa desvalorização parece estar associada à conjuntura socieeconômica e cultural, na qual está inserida a categoria de estivador
Como descreve um trabalhador:
“ o estivador em Paranaguá é uma classe desvalorizada, é o ‘casca grossa’
A mídia desvaloriza também. A cidade pensa que o estivador é drogado, briguento, mulherengo”
Por outro lado, mesmo diante de situações nocivas à saúde, observou-se que a atividade do estivador favorece a construção de uma forte identidade profissional, pois gostam do trabalho que realizam, contribuindo para a produção de sentido e de prazer no trabalho e considera “a liberdade, as amizades, o trabalho em equipe, o companheirismo, flexibilidade de horários, trabalho diversificado”, como aspectos positivos da atividade, fazendo com que esses trabalhadores ainda permaneçam trabalhando.

Pois 79% se sentem bem fisicamente ao final do trabalho também se sentem bem mentalmente. Mas nem todos os trabalhadores que referem um cansaço físico o associam a um cansaço mental . 
Diante de tal fato, justifica-se a necessidade de relatar evidências de alterações nas diferentes porções do corpo e sintomas em função das diferentes sensações relatadas pelos portuários
O mesmo é válido para a condição mental, sendo que estivadores com alto risco de lombalgia apresentam maior freqüência em se sentirem pelo menos um pouco cansados 22,7% e cansados 30,7%. 
De acordo com Athayde e Figueiredo (2010) no trabalho não existe uma mente e um corpo separados que se relacionam, mas o tempo todo há um corpo si, que não é fragmentado em parte psíquica e biológica.
 Assim, compreende-se os resultados obtidos, pois na atividade a mobilização é de todo um corpo si e não apenas de parte dele. 
Frequência relativa da condição mental dos estivadores ao final da jornada de trabalho no Porto de Paranaguá em função do risco à lombalgia (n=300), foi possível verificar que as regiões do corpo mais referidas com dor, fomigamentos/dormência nos últimos 12 meses foram: parte inferior das costas 56,3%, parte superior das costas 44,3%, joelhos 36,7% e ombros 36,0%.
Fonte  O QUE ESTÁ À SOMBRA NA CARGA DE TRABALHO DE ESTIVADORES?
WHAT IS IN THE SHADOW OF THE LONGSHOREMEN´S WORK LOAD?
 Arlete Ana Motter,Marta Santos e Ana Tereza Bittencourt Guimarães
Revista Produção Online, Florianópolis, SC, v.15, n. 1, p. 321-344, jan./mar. 2015.

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