7 de dez. de 2015

CARGA de TRABALHO na ATIVIDADE do ESTIVADOR



Ao analisar as diferentes dimensões da carga de trabalho do estivador e sua influência nos processos de saúde/doença.
 O estudo se desenvolveu entre 2010 a 2013 em Paranaguá, Paraná.
A amostra foi composta por 300, estivadores , pertencentes ao OGMO  do Estado do Paraná, com uma média de 20 anos de experiência , numa atividade em que existem exigências físicas importantes, mas também exigências mentais não negligenciáveis.
Na área portuária as atividades de embarque das cargas dos navios, o transporte e armazenamento das mesmas são realizados pelos trabalhadores portuários avulsos TPA, que são inscritos no OGMO
No Brasil, o OGMO foi criado após a Lei n° 8.630/93 e responsável por administrar e regular a mão de-obra portuária, garantindo acesso regular ao trabalho, remuneração estável, treinamento multifuncional, a habilitação profissional. 
Estes trabalhadores desempenham um trabalho coletivo de vital importância na economia brasileira, somente ganham, quando trabalham. Desse modo, vivem na incerteza, variando de acordo com a sazonalidade de determinados produtos.
 O trabalho dos estivadores ocorre  no convés e nos porões dos navios, embarque e desembarque das cargas, apeação , arrumação,operam  guinchos,Pontes, trator e empilhadeiras. O estivador convive com velhos problemas, realizando operações braçais e pesadas no porto, em condições ambientais desfavoráveis, que os expõe a diferentes riscos ocupacionais, tais como, ruídos, vibrações, intempéries, contato com substâncias químicas.
Observa-se uma crescente depreciação da atividade de estivador, em razão de baixos investimentos em ações de melhoria no trabalho portuário, no ponto de vista do ambiente de trabalho, da remuneração, ou, ainda, do reconhecimento social. 
Tal quadro produz, invariavelmente, efeitos perversos sobre a saúde desses trabalhadores, que vão desde desgaste físico e mental, até acidentes de trabalho graves ou fatais.
O conceito de carga de trabalho, derivado dos estudos da psicologia do trabalho e da ergonomia da atividade, tem sido importante para esclarecer questões relacionadas à saúde física e mental do trabalhador. 

Quais  fatores nocivos e de risco ocupacionais aos quais os trabalhadores estão expostos e que são capazes de produzir complicações à saúde.
 A pressão temporal é um elemento fundamental de carga de trabalho e estresse do operador, prejudicando a consciência e a tomada de decisão e diminuindo a profundidade da compreensão do problema e o engajamento do operador para obter uma escolha eficaz. Estudos têm apontado para a existência de uma carga de trabalho importante no caso do trabalho do estivador, sendo que pode-se destacar: 
entre as cargas fisiológicas e psíquicas o trabalho em turnos resultando em distúrbios do ciclo sono-vigília e fadiga crônica; na carga cognitiva, a exigência de concentração, atenção, preocupação com a tarefa, com o ambiente e, principalmente, com os demais membros da equipe. 
A noção de risco ocupacional, associada à carga de trabalho, está muito presente no trabalho do estivador, o qual atribui os riscos à organização do trabalho e às condições muito heterogêneas sob as quais o trabalho é realizado. 
Relativamente às cargas físicas, químicas, biológicas e mecânicas os riscos inerentes ao trabalho de estiva contemplam ruídos, vibrações de corpo inteiro, exposição a intempéries, contato com substâncias químicas, levantamento manual irregular de carga e utilização de ferramentas inadequadas ; 
são referidos ainda os riscos no acesso aos navios, no convés, na descida aos porões; exposição ao calor nos porões,  possibilidade de desenvolvimento de doenças como as dermatoses profissionais, pelo contato com diferentes produtos e afecções respiratórias, pelo contato com poeiras das cargas a granel  e grande comprometimento dos  sistemas osteoarticular, mental e gastrointestinal. 
As doenças músculo esqueléticas são associadas a movimentos repetitivos a pressão ocasionada pelo processo de trabalho, o uso de ferramentas inadequadas, pausas inadequadas e horas extras, vibrações segmentares ou do corpo inteiro e exposição a temperaturas extremas, ou seja, no trabalho da estiva são evidentes constrangimentos temporais, posturais e ambientais. 
Dados do OGMO de Paranaguá revelam as regiões do corpo mais acometidas por acidentes de trabalhos: 
perna 54, 29%, cabeça 41, 23%, mão 28,15% e região lombar 17%. 
As patologias podem estar relacionadas ao processo de trabalho em si, ao ritmo, intensidade, condições físicas e ambientais; e aos hábitos de vida pessoais.

No Porto de Paranaguá operam cerca de 1.350 estivadores , os quais se revezam em quatro turnos de trabalho; manhã, tarde, noite e madrugada, sucedidos de 18 horas de folga após cada  trabalho. 
Neste porto e demais portos brasileiros, aconteceram profundas transformações na organização do trabalho a partir de 1993, com a Lei 8630 .
 O trabalho é reconhecido como “modernizado”, mas na transformação novas formas de exposição dos trabalhadores a fatores de adoecimento podem estar sendo geradas .
 O trabalho é diversificado e definido como nobre e não nobre. 
A preferência  e madeira, contêineres ou peças, pois além de ser melhor remunerada, existe o recurso de maquinário,a escala não nobre adubo, cevada, trigo, entre outros, a obrigação de esforço físico. Mas podem não conseguir vaga, pelo que os estivadores vivem em tensão constante ante o risco de não conseguirem trabalho. Isso traz sentimentos de medo, receio e pressão, gerados pela indefinição e pela falta de garantias quanto a ter ou não um trabalho no dia seguinte. 
Quando se habilitam para o trabalho, fazem-no às mais variadas funções de acordo com a capacitação que possuem (Porão, Geral, Conexo, mestre, Guincho, Pá carregadeira, Empilhadeira, Motorista,  Retro Escavadeira, Ponte Rolante, Joystick). Quando são escalados e o navio não atracar, quebra de equipamento, mau tempo, a remuneração é menor. Existem salários fixos por jornadas de seis horas e os valores são variáveis dependendo do tipo de carga, devido as taxas por produção e os adicionais . A equipe  de trabalho e designada terno, que varia de 2  ao máximo 11 componentes. Dependendo da quantidade de porões do navio, pode haver várias equipes trabalhando simultaneamente. 
Os cargos de chefia: o contra mestre geral, o contra mestre de porão e o fiscal. 
O trabalho do estivador na carga e descarga de produtos dentro dos navios requer também planejamento e antecipação, quanto à disposição dos produtos  a granel e à produtos ensacados.
 A atividade também requer rapidez na tomada de decisão. 
Velhos problemas relacionados às condições de trabalho persistem: há riscos de acidentes no “cilão”, onde a visibilidade é muito baixa devido à quantidade de poeira no local. Há riscos de acidentes fatais em contêiner: 
“Sei que vou entrar no porto para trabalhar, mas não sei se vou sair e que horas vou sair. Mas esse é o risco que a gente assume para levar o pão pra casa” diz outro estivador
Relatos que fazem refletir quanto ao nível de tensão emocional que faz parte dos ‘ modos de andar a vida’ desses trabalhadores
Fonte O QUE ESTÁ À SOMBRA NA CARGA DE TRABALHO DE ESTIVADORES?
WHAT IS IN THE SHADOW OF THE LONGSHOREMEN´S WORK LOAD?
 Arlete Ana Motter,Marta Santos e Ana Tereza Bittencourt Guimarães
Revista Produção Online, Florianópolis, SC, v.15, n. 1, p. 321-344, jan./mar. 2015.

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