Ao analisar
as diferentes dimensões da carga de trabalho do estivador e sua influência nos
processos de saúde/doença.
O estudo se desenvolveu entre 2010 a 2013 em
Paranaguá, Paraná.
A amostra foi composta por 300, estivadores ,
pertencentes ao OGMO do Estado do Paraná,
com uma média de 20 anos de experiência , numa atividade em que existem
exigências físicas importantes, mas também exigências mentais não
negligenciáveis.
Na área
portuária as atividades de embarque das cargas dos navios, o transporte e
armazenamento das mesmas são realizados pelos trabalhadores portuários avulsos TPA,
que são inscritos no OGMO.
No Brasil, o OGMO foi criado após a Lei n° 8.630/93 e responsável
por administrar e regular a mão de-obra portuária, garantindo acesso regular ao
trabalho, remuneração estável, treinamento multifuncional, a habilitação
profissional.
Estes trabalhadores desempenham um trabalho coletivo de vital
importância na economia brasileira, somente ganham, quando trabalham. Desse
modo, vivem na incerteza, variando de acordo com a sazonalidade de determinados
produtos.
O trabalho
dos estivadores ocorre no convés e nos
porões dos navios, embarque e desembarque das cargas, apeação , arrumação,operam
guinchos,Pontes, trator e empilhadeiras.
O estivador convive com velhos problemas, realizando operações braçais e
pesadas no porto, em condições ambientais desfavoráveis, que os expõe a diferentes
riscos ocupacionais, tais como, ruídos, vibrações, intempéries, contato com
substâncias químicas.
Observa-se uma crescente depreciação da atividade de
estivador, em razão de baixos investimentos em ações de melhoria no trabalho
portuário, no ponto de vista do ambiente de trabalho, da remuneração, ou,
ainda, do reconhecimento social.
Tal quadro produz, invariavelmente, efeitos
perversos sobre a saúde desses trabalhadores, que vão desde desgaste físico e
mental, até acidentes de trabalho graves ou fatais.
O conceito
de carga de trabalho, derivado dos estudos da psicologia do trabalho e da
ergonomia da atividade, tem sido importante para esclarecer questões
relacionadas à saúde física e mental do trabalhador.
Quais fatores nocivos e de risco ocupacionais aos
quais os trabalhadores estão expostos e que são capazes de produzir
complicações à saúde.
A pressão temporal é um elemento fundamental de carga de
trabalho e estresse do operador, prejudicando a consciência e a tomada de
decisão e diminuindo a profundidade da compreensão do problema e o engajamento
do operador para obter uma escolha eficaz. Estudos têm apontado para a
existência de uma carga de trabalho importante no caso do trabalho do
estivador, sendo que pode-se destacar:
entre as cargas fisiológicas e psíquicas
o trabalho em turnos resultando em distúrbios do ciclo sono-vigília e fadiga
crônica; na carga cognitiva, a exigência de concentração, atenção, preocupação
com a tarefa, com o ambiente e, principalmente, com os demais membros da
equipe.
A noção de risco ocupacional, associada à carga de trabalho, está muito
presente no trabalho do estivador, o qual atribui os riscos à organização do
trabalho e às condições muito heterogêneas sob as quais o trabalho é realizado.
Relativamente às cargas físicas, químicas, biológicas e mecânicas os riscos
inerentes ao trabalho de estiva contemplam ruídos, vibrações de corpo inteiro,
exposição a intempéries, contato com substâncias químicas, levantamento manual
irregular de carga e utilização de ferramentas inadequadas ;
são referidos
ainda os riscos no acesso aos navios, no convés, na descida aos porões;
exposição ao calor nos porões, possibilidade de desenvolvimento de doenças
como as dermatoses profissionais, pelo contato com diferentes produtos e
afecções respiratórias, pelo contato com poeiras das cargas a granel e grande comprometimento dos sistemas osteoarticular, mental e
gastrointestinal.
As doenças músculo esqueléticas são associadas a movimentos
repetitivos a pressão ocasionada pelo processo de trabalho, o uso de
ferramentas inadequadas, pausas inadequadas e horas extras, vibrações
segmentares ou do corpo inteiro e exposição a temperaturas extremas, ou seja,
no trabalho da estiva são evidentes constrangimentos temporais, posturais e
ambientais.
Dados do OGMO de Paranaguá revelam as regiões do corpo mais
acometidas por acidentes de trabalhos:
perna 54, 29%, cabeça 41, 23%, mão 28,15%
e região lombar 17%.
As patologias podem estar relacionadas ao processo de
trabalho em si, ao ritmo, intensidade, condições físicas e ambientais; e aos
hábitos de vida pessoais.
No Porto de
Paranaguá operam cerca de 1.350 estivadores , os quais se revezam em quatro
turnos de trabalho; manhã, tarde, noite e madrugada, sucedidos de 18 horas de
folga após cada trabalho.
Neste porto e
demais portos brasileiros, aconteceram profundas transformações na organização
do trabalho a partir de 1993, com a Lei 8630 .
O trabalho é reconhecido como
“modernizado”, mas na transformação novas formas de exposição dos trabalhadores
a fatores de adoecimento podem estar sendo geradas .
O trabalho é diversificado
e definido como nobre e não nobre.
A preferência e madeira, contêineres ou peças, pois além de
ser melhor remunerada, existe o recurso de maquinário,a escala não nobre adubo,
cevada, trigo, entre outros, a obrigação de esforço físico. Mas podem não
conseguir vaga, pelo que os estivadores vivem em tensão constante ante o risco
de não conseguirem trabalho. Isso traz sentimentos de medo, receio e pressão,
gerados pela indefinição e pela falta de garantias quanto a ter ou não um
trabalho no dia seguinte.
Quando se habilitam para o trabalho, fazem-no às mais
variadas funções de acordo com a capacitação que possuem (Porão, Geral, Conexo,
mestre, Guincho, Pá carregadeira, Empilhadeira, Motorista, Retro Escavadeira, Ponte Rolante, Joystick).
Quando são escalados e o navio não atracar, quebra de equipamento, mau tempo, a
remuneração é menor. Existem salários fixos por jornadas de seis horas e os
valores são variáveis dependendo do tipo de carga, devido as taxas por produção
e os adicionais . A equipe de trabalho e
designada terno, que varia de 2 ao
máximo 11 componentes. Dependendo da quantidade de porões do navio, pode haver
várias equipes trabalhando simultaneamente.
Os cargos de chefia: o contra
mestre geral, o contra mestre de porão e o fiscal.
O trabalho do estivador na
carga e descarga de produtos dentro dos navios requer também planejamento e
antecipação, quanto à disposição dos produtos a granel e à produtos ensacados.
A atividade
também requer rapidez na tomada de decisão.
Velhos problemas relacionados às
condições de trabalho persistem: há riscos de acidentes no “cilão”, onde a
visibilidade é muito baixa devido à quantidade de poeira no local. Há riscos de
acidentes fatais em contêiner:
“Sei que vou entrar no porto para trabalhar, mas
não sei se vou sair e que horas vou sair. Mas esse é o risco que a gente assume
para levar o pão pra casa” diz outro estivador.
Relatos que fazem refletir
quanto ao nível de tensão emocional que faz parte dos ‘ modos de andar a vida’
desses trabalhadores.
Fonte O QUE ESTÁ À SOMBRA NA CARGA DE TRABALHO DE ESTIVADORES?
WHAT IS IN THE SHADOW OF THE LONGSHOREMEN´S WORK
LOAD?Arlete Ana Motter,Marta Santos e Ana Tereza Bittencourt Guimarães
Revista Produção Online, Florianópolis, SC, v.15, n. 1, p. 321-344, jan./mar. 2015.
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