O método de pesquisa-intervenção pressupõe uma
orientação do trabalho que não se faz de modo prescritivo, por regras já
prontas, nem com objetivos previamente estabelecidos. O desafio é o de realizar
uma reversão do sentido tradicional, mas primado no percurso. Discutir a
inseparabilidade entre conhecer e fazer, entre pesquisar e intervir: toda
pesquisa é intervenção.
A intervenção sempre se realiza por um mergulho na
experiência que agencia sujeito e objeto, teoria e prática, num mesmo plano de
produção ou de coemergência. Acompanhando os efeitos da investigação o objeto,
sujeito e conhecimento são efeitos do processo de pesquisar, não se pode
orientar a pesquisa pelo que se suporia saber de antemão acerca da realidade.
O
ponto de apoio é a experiência entendida como um saber que vem, que emerge do
fazer. Tal primado da experiência direciona o trabalho do saber fazer ao
fazer-saber, do saber na experiência à experiência do saber.
O
institucionalismo, tal como na França, acentua a dimensão política da pesquisa,
seja quando trata do tema da produção de conhecimento.
Na definição do “paradigma dos três Is” como
os três mosqueteiros, são quatro: Instituição, Institucionalização, Implicação
e Intervenção, sendo este o d’Artagnan, já que é ele que delimita o campo de
ação ou o plano da experiência.
A análise aqui se faz sem distanciamento, já
que está mergulhada na experiência coletiva em que tudo e todos estão
implicados.
É essa constatação que força o institucionalismo a colocar em
questão os ideais de objetividade, neutralidade, imparcialidade do
conhecimento.
Todo conhecimento se produz em um campo de implicações cruzadas,
estando necessariamente determinado neste jogo de forças: valores, interesses,
expectativas, compromissos, desejos, crenças, etc.
O conceito de implicação já
tomara o lugar dos conceitos de “transferência e contratransferência
institucionais”, radicalizando a crítica à neutralidade analítica e ao
objetivismo cientificista.
Não há neutralidade do conhecimento, pois toda pesquisa
intervém sobre a realidade mais do que apenas a representa ou constata com
evidências. No processo de produção de conhecimento, há que se colocar em
análise os atravessamentos que compõem um “campo” de pesquisa.
No campo, a
intervenção não se dá em um único sentido.
A partir da qual as existências se
atualizam, as instituições se organizam e as formas se impõem.
A individuação deve ser considerada como
resolução parcial e relativa que se manifesta em um sistema comportando
potenciais e guardando certa incompatibilidade em relação as forças de tensão,
assim como da impossibilidade de uma interação de termos de dimensões extremas
.
Mas, como pensar quando a problemática interior do vivo o obriga a
posicionar-se como elemento do problema através de sua ação, sendo essa a condição
que lhe confere a posição de sujeito.
Mas, como ultrapassar os seus próprios
limites, agora no coletivo.
O trabalho de pesquisa, assim como o trabalho de
intervenção sócio analítica, pressupõe uma forma de relação entre os termos que
aí interagem.
Como pensar uma dinâmica coletiva-institucional na qual toda a
realidade se coloca como vetores determinantes na cena de análise: sexo, idade,
raça e posição socioeconômica. O que interessa é o que se passa entre os
grupos, nos grupos, no que está para além e aquém da forma dos grupos, entre as
formas ou no atravessamento delas.
A rede conecta termos, dando consistência ao
espaço intermediário.
Os grupos, as instituições e as organizações são redes de
inter-relações, isto é, relações entre relações. Essa operação hierarquiza
opondo as diferenças (homem x mulher, adulto x criança, branco x negro,
heterossexual x homossexual, rico x pobre) e homogeneíza, seja criando um ideal
pelo rebatimento das variáveis maiores entre si
(homem-adulto-branco-heterossexual-rico), seja pela identifi cação e sujeição
dos “diferentes” do ideal (mulher submetida ao homem, criança ao adulto, negro
ao branco, homossexual ao heterossexual, pobre ao rico).
Por outro lado, os
fragmentos variáveis podem se conectar
gerando um desarranjo do sistema de organização da realidade. Nesse caso, as
variáveis menores se tornam o meio dotado de potência ou de diferenciação.
Restam sempre pistas metodológicas e a direção ético-política que avalia os
efeitos da experiência para daí extrair. Tal processo se dá por uma dinâmica de
propagação da força potencial que certos fragmentos da realidade trazem
consigo. Propagar é ampliar a força desses germens potenciais numa
desestabilização do padrão.
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