24 de nov. de 2019

“We’ll Never Walk Alone”

A estiva de cais em cais com vários idiomas  e ideologias   se encontraram no porto de  Lisboa
Cerca de 500 , estibadores,estivadores ,longshoreman e trabalhadores portuários de vários portos nos cinco continentes , representando os sindicatos vinculados à International Docker Work   IDC e pesquisadores  da beira do cais ,  compartilharam e discutiram  questões sobre a realidade dos  portos .

No encontro na capital portuguesa,  se realizou no Parque das Nações,com a presença de  estivadores  de os americanos do norte do ILA e ILWU ,Argentina, Austrália , Bélgica,Benin, Brasil, Canada, Chile, China ,Chipre, Colômbia, Costa do Marfim , Dinamarca ,Equador,El Salvador, Eslovênia, Espanha, França , Gambia, Ghana,Guatemala, Grécia, Itália, La Réunion , Malta, Mauritânia , Nicarágua ,Noruega ,Paraguay, Portugal, República Dominicana ,Reino Unido ,Senegal  , Suécia, Togo ,Uruguay  e Venezuela .

Nas questões mais importantes discutidas foram o impacto do crescimento da automação no uso de estivadores; segurança e saúde no trabalho, especialmente a bordo de navios e a luta contra a precariedade no emprego portuário .

 António Mariano e enquanto presidente do SEAL – Sindicato dos Estivadores e da Actividade Logística –,  saudou a presença em Lisboa do maior e mais importante Sindicatos do mundo no 8 congresso do IDC – International Dockworkers Council .

Quero agradecer a presença daqueles que se deslocaram 500 kms, como é o caso dos nuestros hermanos de Algeciras até our brothers australianos que percorreram 18.000 kms desde o lado de lá do planeta, incluindo neste agradecimento os delegados portugueses, de Leixões até Sines, desde a ilha da Madeira até à ilha Terceira, no Arquipélago dos Açores.
Envio também uma saudação, pelos delegados presentes, aos trabalhadores que representam e que em cada país se envolvem na vida sindical, garantindo a defesa da dignidade do trabalho portuário em todo o mundo.
Quero ainda saudar a presença da Dr.ª Lídia Sequeira, Presidente da Administração do Porto de Lisboa e da Associação dos Portos de Portugal.

De igual modo envio uma saudação aos convidados, aos pesquisadores presentes, sendo que alguns acompanham há anos e de perto, com empenho e prazer, todos os nossos processos de construção e luta.
Por último, um especial e muito solidário abraço ao nosso irmão Jordi por ter capitaneado o IDC durante este último período, particularmente desafiante para os estivadores de todo o mundo.

Aqui estamos, pois, sob a égide do primeiro porto comercial português, o porto de Lisboa cuja presença humana data da pré-história, tal a qualidade da sua situação geográfica e condições de acesso e navegabilidade. Um porto louvado por poetas e pintado por artistas de renome, o porto de Lisboa onde, e cito Fernando Pessoa na sua Ode Marítima:
«Nós os homens construímos/ Os nossos cais (.)» e atrevo-me a acrescentar: a nossa e a vossa casa.

Agora, direto ao assunto que aqui nos trouxe: ninguém ignora que o contexto político da Europa do Sul, onde nos incluímos, aponta para uma cada vez mais grave desregulação laboral. Os direitos fundamentais dos trabalhadores estão em risco. A crescente desvalorização salarial é agora a regra, ou antes, a desregra.

O setor portuário está totalmente nas mãos do capital privado, na sua maioria pertença de multinacionais sediadas em países fora da União Europeia.

Enfrentamos porventura os maiores desafios que nos foram colocados nas últimas décadas: desregulação da legislação laboral, perseguições sindicais, repressão generalizada, recuperação de formas de governo que se pensava estarem definitivamente superadas, recuperando práticas abjetas como o condicionamento ao sindicalismo, à cidadania, à vida democrática.

Certo é que este nosso recente governo socialista nos traz alguma expectativa. Mas nunca tomamos por garantidos o respeito pelos direitos dos trabalhadores. A nossa História assim nos tem ensinado.

É fundamental que este governo saiba exigir aos patrões anti sociais  o devido respeito pelos acordos que foram assumidos e posteriormente ignorados.

É fundamental que este governo consiga dirimir o retrocesso salarial e laboral e introduza as alterações legislativas que permitam inverter a tendência para a precariedade que atualmente existe.
É para isso que aqui estamos, com toda a vontade do mundo, com toda a energia que nos dão os avanços alcançados. Mas, a verdade, é que temos a consciência de nos encontrarmos numa encruzilhada. Ou os direitos que defendemos e conquistamos ganham raízes ou mergulharemos num poço sem fundo em que, repito, a precarização será a regra.

Estivadores, não podemos recuar. Temos que lutar, unidos, pela dignidade  do trabalho portuário.

Nos últimos anos conseguimos em Portugal vitórias que importa recordar:

Lutamos e ganhamos na luta pelo início do fim da precariedade extrema que dominava a arquitetura laboral no porto de Setúbal, onde a contratação de trabalhadores à jorna começava a ser regra;
Lutamos e impedimos dois despedimentos coletivos no porto de Lisboa, onde se alcançou um acordo, sem precedentes, de atualização salarial, de divisão e salvaguarda do trabalho suplementar, bem como a progressiva contenção da precariedade;
Ao fim de uma década de luta abrimos caminho à paz social na Madeira onde tudo se encaminha para o entendimento sobre um novo CCT e estamos a iniciar um processo de negociação coletiva nos Açores;
Importa por isso continuar a combater com todas as nossas forças, em união, todas as práticas anti-sindicais, desde o assédio moral passando pela ilegalidade dos sindicatos na hora de iniciativa patronal até às perseguições motivadas pela opção sindical.

Unidos, temos que acabar com a política de baixos salários, como ainda se verifica num conjunto alargado em alguns portos , fruto da ganância dos empresários portuários. Não descansaremos enquanto não devolvermos a dignidade a todos os trabalhadores do gate ao porão do navio .

Nunca aceitaremos a subcontratação ilegal de trabalhadores precários nem a precariedade como forma de vida para qualquer trabalhador portuário.

Queria aqui deixar uma nota sobre a ameaça da crescente automação do trabalho em Portugal que se situa entre os países onde se regista um elevado potencial nesta matéria. Este fato deve merecer-nos a maior atenção e cuidado, sobretudo no que respeita aos terminais portuários de maior dimensão, atuais e futuros, onde o capital se prepara para destruir postos de trabalho sem qualquer contemplação. 
Segundo um recente estudo do Instituto McKinsey  “daqui a 11 anos, 50% do tempo despendido em tarefas laborais é susceptível sera automatizada” e até 2030 “Há cerca de 1,1 milhões de postos de trabalho em risco, em Portugal”.

Esta realidade não nos pode apanhar desprevenidos. É fundamental fazer valer os nossos direitos. E se é um fato que a lei estatui que cabe aos patrões provar que não há forma de manter o trabalhador, não é menos verdade que ao dar-se um suposto aumento de competitividade, assim pensa o patronato, teremos de lutar para assegurar a empregabilidade e chamar os governos e patrões a participar nas soluções para o futuro dos trabalhadores que forem afetados pela revolução tecnológica.

Camaradas, a nossa capacidade de defender o setor portuário num contexto tão adverso, está mais do que nunca dependente da capacidade de mantermos a nossa unidade, a nossa ação combativa e corajosa como tão bem têm demonstrado os companheiros chilenos, que no seu país encabeçam os protestos em defesa de uma vida melhor.

A consolidação e o crescimento do IDC, a par da manutenção da sua combatividade e da resistência ao sindicalismo acomodado, burocrático e institucional, é outra das tarefas fundamentais que devemos continuar a abraçar com convicção e empenho.

Em nome do SEAL, quero deixar claro o orgulho de sermos pela primeira vez os anfitriões da Assembleia Mundial do IDC, fazemos votos que os trabalhos sejam produtivos, e que após estes três dias os 300 delegados presentes regressem aos seus países e portos de origem, dotados de um Conselho Internacional mais forte, mais capaz de reforçar globalmente as lutas que individualmente travamos.

Sabemos de onde vimos e sabemos para onde queremos ir. Se nos mantivermos unidos, é impossível falhar.Unidos caminharemos sem deixar ninguém para trás nesta luta que se adivinha uma das mais árduas.
Todos Por Todos  
Proud2BeDocker 
#Nem Um Passo Atras

“You’ll Never Walk Alone”

“We’ll Never Walk Alone”

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