Governo planeja construir 27 eclusas
A lista das eclusas envolve barragens ligadas a seis grandes rios do país: Araguaia, Parnaíba, Tapajós, Teles Pires, Tietê e Tocantins. Dos 27 projetos desenhados pelo ministério, nove são planejados para a estrutura de usinas que já estão em operação.
É o caso, por exemplo, da hidrelétrica de Estreito, no rio Tocantins; de Barra Bonita, no Tietê; e de Boa Esperança, no Parnaíba.
Sempre houve muito desgaste entre o Ministério dos Transportes e o de Minas e Energia MME sobre quem bancaria o custo dessas obras, uma vez que a função do MME é explorar o recurso energético do rio, e não a sua vocação logística.
Para pôr um ponto final na história, a pasta dos Transportes decidiu assumir a fatura. "Acabamos com essa discussão. Nós vamos assumir todo o ônus de custear as eclusas", diz Marcelo Perrupato, secretário de Política Nacional de Transportes do ministério.
A proposta é que os recursos dos Transportes destinados às eclusas sejam repassados para o MME.
Em contrapartida, o gabinete de Minas e Energia deverá impor ao empreendedor da usina que - sempre que orientado pelo Ministério dos Transportes - faça a construção da eclusa simultaneamente à da barragem.
Para viabilizar a proposta, Perrupato afirma que o ministério deve criar um tipo de "fundo garantidor" das eclusas, onde os recursos para bancar as obras serão depositados pelo ministério.
O custo já foi estimado. Entre 2012 e 2015, a previsão é de que aproximadamente R$ 7,9 bilhões sejam injetados nos 27 projetos.
Até 2018, quando todas as obras estariam concluídas, o gasto alcançaria R$ 11,6 bilhões.
"Não é muito dinheiro, se comparado ao benefício que esses projetos podem gerar ao país.
Veja que só o Dnit tem R$ 25 bilhões por ano para gastar com rodovias. Está na hora de olharmos mais para os rios", comenta Perrupato.
Ao ajustar o cronograma das eclusas à construção de novas barragens de hidrelétricas, o Ministério dos Transportes quer evitar erros do passado.
Um dos casos mais emblemáticos é a construção de Itaipu.
"Do ponto de vista logístico, é um dos grandes pecados que cometemos. Se a barragem de Itaipu tivesse contemplado uma eclusa, teríamos viabilizado uma hidrovia internacional hoje poderia atingir 5,5 mil quilômetros de extensão", diz Adalberto Tokarski, superintendente de Navegação Interior da Antaq.
Outros rios importantes do país -como Iguaçu PR, Paranapanema PR-SP, Rio Grande SP-MG e Paranaíba GO-MG- estão com boa parte de sua navegabilidade comprometida por terem barragens sem eclusas, comenta Tokarski. A situação é a mesma em casos mais recentes, como o do rio Madeira, em Porto Velho RO, onde as usinas de Jirau e Santo Antônio foram erguidas sem a construção de eclusas. "Hoje pagamos a conta de erros históricos.
Dar prioridade a esses 27 projetos pode ajudar a reverter essa situação."
Entre as prioridades do Ministério dos Transportes, a situação considerada mais delicada é a do rio Tapajós, no Pará - porta de entrada para a Amazônia, onde está prevista a instalação de uma série de usinas - e do rio Teles Pires, no Mato Grosso, onde já há duas usinas em construção Teles Pires e Colíder e outras três projetadas para começarem no próximo ano.
"Todas as usinas do Teles Pires terão eclusas", garante Marcelo Perrupato, dos Transportes. "Pode ser que elas não sejam construídas ao mesmo tempo que a barragem, mas o projeto de engenharia terá que contemplar essas obras."
A empreitada de erguer novas eclusas pelo país traz uma lufada de ânimo para um setor que há tempos é ignorado pelo governo. Um grande pacote de obras para hidrovias era prometido pelo Palácio do Planalto para este ano. Haveria ações de dragagem, sinalização e balizamento nas principais bacias hidrográficas do país. O plano foi simplesmenteretirado do PAC.
Segundo Marcelo Perrupato, o governo não desistiu de nada. Uma licitação internacional para contratar o "plano hidroviário estratégico" está em fase de assinatura. O estudo, que será realizado durante dois meses, prevê ações específicas nas hidrovias do Amazonas, Madeira e seus afluentes.
As águas do Araguaia/Tocantins,Teles Pires/Tapajós, Parnaíba, São Francisco, Tietê/Paraná, Paraguai e Taquari/Jacuí também estão na lista.
O Brasil tem hoje 63 mil quilômetros de rios, lagos e lagoas, dos quais 20 mil não são navegáveis.
Dos 43 mil quilômetros com potencial de navegação, apenas 15,5 mil são utilizados comercialmente.
Isso significa que 27,5 mil quilômetros de hidrovia permanecem inexplorados.
Na matriz nacional de transporte de cargas, os rios respondem por apenas 4% do que é movimentado, enquanto as estradas suportam 63% do total.
O Ministério dos Transportes estima que 45 milhões de toneladas de carga trafegam pelas hidrovias todos os anos, quando o potencial mínimo seria de pelo menos 180 milhões de toneladas.
Autor: Jornal Valor Economico
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