E uma reflexão sobre a integração
ensino e serviço
a partir das discussões de um grupo multiprofissional
de um
curso de especialização para ativação de mudanças na formação.
Além das
reflexões, o texto traz interlocuções com referenciais teóricos sobre aspectos que envolvem a integração ensino-serviço.
São abordadas as relações da
integração ensino-serviço com a formação de profissionais, com os modelos tecno-assistenciais, com a prática do cuidado em saúde, com o trabalho em equipe e com a educação
permanente.
Este estudo nasce da sensibilização para a
discussão de questões que envolvem a integração ensino-serviço no contexto dos
processos de mudança na formação dos profissionais.
Entende-se por integração ensino-serviço o trabalho
coletivo, pactuado e integrado de estudantes e professores com trabalhadores que compõem as equipes dos serviços, incluindo-se os gestores,
visando à
qualidade de atenção à saúde individual e coletiva, à qualidade da formação
profissional e ao desenvolvimento/satisfação dos trabalhadores dos serviços.
O grupo refletiu presencialmente e à distância
sobre sua própria prática, reconhecendo suas fronteiras de conhecimento,
formulando questões , buscando e analisando criticamente novas informações e
elaborando estratégias para enfrentar problemas
Buscou-se abordar a integração ensino-serviço e
sua
relação com a formação superior dos profissionais
com os modelos
tecnoassistenciais, com a prática do cuidado em saúde, com o trabalho em equipe
e com a educação permanente.
Diversas são as perspectivas de mudanças na
formação dos profissionais, as quais incluem a reflexão e transformação da
interface ensino/trabalho, ou seja,
das relações entre o ensino e os serviços e
tem-se visto movimentos na direção de transformações dos velhos modelos de
ensino para formação, os quais se mostram incapazes de responder adequadamente às necessidades apresentadas pela população.
Tais movimentos oscilaram, ao
longo das duas últimas décadas, na intensidade e na concentração nas diferentes
áreas profissionais.
Neste sentido, a formação e o trabalho dos profissionais
na América Latina vêm sendo decisivamente impactados pela reorganização dos sistemas, pelas pressões para a reforma da universidade e pelo processo de reforma e
descentralização político-administrativa do Estado.
As iniciativas
comprometidas com a relevância social da universidade e dos processos de
formação no campo têm historicamente procurado articular esses dois contextos,
aparentemente desconectados -
universidade e serviços , buscando ligar os
espaços de formação aos diferentes cenários da vida real
e de produção de
cuidados à saúde.
Considerando a experiência acumulada nos últimos
quarenta anos, particularmente no campo da educação e reconhecendo a inadequação dos modelos de
formação para enfrentar os desafios atuais da atenção à saúde se basea na relação de parceria entre a
universidade, os serviços locais e a
comunidade,
como o alicerce sobre o qual devem estar fundados
os processos de
transformação da educação dos profissionais.
Uma análise do Programa UNI permite observar aquela
que assume o processo é de construção e de desconstrução permanente. Nesse
caminho, são abordados os avanços inquestionavelmente alcançados, destacando-se
a conformação dos projetos enquanto espaços de construção democrática e a
conformação de sujeitos orientados por projetos coletivos que resgatam valores
como a solidariedade e a responsabilidade compartilhada.
Langaná, em 1986, já apontava, como um dos entraves
para a interação ensino-serviço, a metodologia baseada na transmissão de
conhecimentos, com maior ênfase no ensino do que na aprendizagem, ou seja, reforçando a ideia de que a universidade não tem outro papel e/ou compromisso com a sociedade a não ser o de criar, preservar ou transmitir o saber, deixando
de lado a missão de atuar na produção de serviços.
Olschowsky complementa, apontando as políticas e
estruturas dos serviços e de ensino como
outro fator dificultador dessa interação, já que, muitas vezes, impossibilitam
a participação mais efetiva tanto dos profissionais como dos docentes na
integração ensino-serviço.
Ganha destaque, nesta contextualização da
integração ensino-serviço, a discussão de redes como espaços de conformação de
um novo ator social.
No Brasil, a participação da Rede Unida no processo
de definição das diretrizes curriculares, promovido pelo Ministério da
Educação, exemplifica o potencial desta articulação.
Cabe ressaltar, ainda, que algumas políticas
públicas,
como as formuladas pela Secretaria de Gestão do Trabalho e da
Educação em Saúde (SGETS), do Ministério da Saúde, apresentaram recentemente
possibilidades que se abrem para um conjunto de debates que têm permitido avançar em reflexões e proposições, e que não raro geram novos desafios
para
continuarmos nossa luta para configurar,
nos serviços e nos cursos os ideais de sociedade justa, ética e
igualitária.
Os espaços onde se dá o diálogo entre o trabalho e
a educação assumem lugar privilegiado para a percepção que o estudante vai
desenvolvendo acerca do outro
no cotidiano do cuidado.
São espaços de
cidadania, onde profissionais do serviço e docentes, usuários e o próprio
estudante vão estabelecendo seus papéis sociais na confluência de seus saberes,
modos de ser e de ver o mundo.
Centrando a discussão nas relações entre ensino e
trabalho, há de se reconhecer que os espaços de interseção entre serviços e
ensino são de grande importância para a formação e para a consolidação do Sistema.
Neste
sentido, as consequências das práticas que transcendem os cenários de
aprendizagem.
O conhecimento ali construído, a partir da reflexão sobre o
vivido em um cenário de aprendizagem,
pode se difundir por intermédio dos
sujeitos que por ali passam como estudantes.
Desse modo, são espaços
privilegiados para a transformação e consolidação dos modelos de atenção à
saúde mas é neles onde também se explicitam conflitos, dificuldades, estratégias e táticas desencadeadas para a ocupação de espaços na rede
de
cuidados que vai sendo configurada.
Deparamo-nos com muitos conflitos decorrentes de
problemas e dificuldades na interseção desses dois mundos.
Há queixas que dizem
respeito, muitas vezes, ao fato de a universidade estar no serviço sem levar em
consideração os trabalhadores que lá estão.
Tal crítica se amplia quando entra
em cena a percepção
de que os objetivos acadêmicos estão definidos a
priori
e não podem se afastar da estrutura já estabelecida.
Ou, ainda, que não há participação do profissional do serviço, a não ser na supervisão do
estudante, feita em alguns casos de modo assistemático e solitário, sem uma
discussão ou presença mais efetiva do docente.
Por outro lado, há críticas à
diferença marcante entre a lógica da organização dos serviços, muito centrada
na produtividade de seus procedimentos técnico-operativos, e a lógica do
trabalho da instituição
formadora, muito centrada na produção de seus
conhecimentos teóricos e metodológicos dos campos pedagógicos e núcleos
específicos.
Fonte A integração ensino-serviço no contexto
dos processos de mudança na formação superior dos profissionais da saúde
Verônica S Albuquerque; Andréia
P Gomes; Carlos H A de Rezende; Marcelo X Sampaio;
Orlene V Dias; Regina M Lugarinho
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