31 de dez. de 2013

A integração ensino-serviço no processo de mudança

E uma reflexão sobre a integração ensino e serviço
 a partir das discussões de um grupo multiprofissional 
de um curso de especialização para ativação de mudanças na formação. 
Além das reflexões, o texto traz interlocuções com referenciais teóricos sobre aspectos  que envolvem a integração ensino-serviço.
 São abordadas as relações da integração ensino-serviço com a formação de profissionais, com os modelos tecno-assistenciais, com a prática do cuidado em saúde, com o trabalho em equipe e com a educação permanente.

Este estudo nasce da sensibilização para a discussão de questões que envolvem a integração ensino-serviço no contexto  dos processos de mudança na formação dos profissionais.
Entende-se por integração ensino-serviço o trabalho coletivo, pactuado e integrado de estudantes e professores com trabalhadores que compõem as equipes dos serviços, incluindo-se os gestores, 
visando à qualidade de atenção à saúde individual e coletiva, à qualidade da formação profissional e ao desenvolvimento/satisfação  dos trabalhadores dos serviços.
O grupo refletiu presencialmente e à distância sobre sua própria prática, reconhecendo suas fronteiras de conhecimento, formulando questões , buscando e analisando criticamente novas informações e elaborando  estratégias para enfrentar problemas
Buscou-se abordar a integração ensino-serviço e
 sua relação com a formação superior dos profissionais
 com os modelos tecnoassistenciais, com a prática do cuidado em saúde, com o trabalho em equipe e com a educação permanente.

Diversas são as perspectivas de mudanças na formação dos profissionais, as quais incluem a reflexão e transformação da interface ensino/trabalho, ou seja, 
das relações entre o ensino e os serviços e tem-se visto movimentos na direção de transformações dos velhos modelos de ensino para formação, os quais se mostram incapazes de responder adequadamente  às necessidades apresentadas pela população. 
Tais movimentos oscilaram, ao longo das duas últimas décadas, na intensidade e na concentração nas diferentes áreas profissionais.
Neste sentido, a formação e o trabalho dos profissionais na América Latina  vêm sendo decisivamente impactados pela reorganização dos sistemas, pelas pressões para a reforma da universidade e pelo processo de reforma e descentralização político-administrativa do Estado.
 As iniciativas comprometidas com a relevância social da universidade e dos processos de formação no campo têm historicamente procurado  articular esses dois contextos, aparentemente desconectados -
 universidade e serviços , buscando ligar os espaços de formação aos diferentes cenários da vida real
 e de produção de cuidados à saúde.
Considerando a experiência acumulada nos últimos quarenta anos, particularmente no campo da educação  e reconhecendo a inadequação  dos modelos de formação para enfrentar os desafios atuais  da atenção à saúde  se basea na relação de parceria entre a universidade, os serviços locais  e a comunidade, 
como o alicerce sobre o qual devem estar fundados 
os processos de transformação da educação dos profissionais.

Uma análise do Programa UNI permite observar aquela que assume  o processo é de construção e de desconstrução permanente. Nesse caminho, são abordados os avanços inquestionavelmente alcançados, destacando-se a conformação dos projetos enquanto espaços  de construção democrática e a conformação de sujeitos orientados  por projetos coletivos que resgatam valores como a solidariedade e  a responsabilidade compartilhada.
Langaná, em 1986, já apontava, como um dos entraves para a interação ensino-serviço, a metodologia baseada na transmissão de conhecimentos, com maior ênfase no ensino do que na aprendizagem, ou seja, reforçando a ideia de que a universidade não tem outro papel e/ou compromisso  com a sociedade a não ser o de criar, preservar ou transmitir o saber, deixando de lado a missão de atuar na produção de serviços.
Olschowsky complementa, apontando as políticas e estruturas dos serviços  e de ensino como outro fator dificultador dessa interação, já que, muitas vezes, impossibilitam a participação mais efetiva tanto dos profissionais  como dos docentes na integração ensino-serviço.
Ganha destaque, nesta contextualização da integração ensino-serviço, a discussão de redes como espaços de conformação de um novo ator social.
No Brasil, a participação da Rede Unida no processo de definição das diretrizes curriculares, promovido pelo Ministério da Educação, exemplifica o potencial desta articulação.
Cabe ressaltar, ainda, que algumas políticas públicas,
 como as formuladas pela Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde (SGETS), do Ministério da Saúde, apresentaram recentemente possibilidades que se abrem para um conjunto de debates que têm permitido  avançar em reflexões e proposições, e que não raro geram novos desafios 
para continuarmos nossa luta para configurar,
 nos serviços e nos cursos  os ideais de sociedade justa, ética e igualitária.
Os espaços onde se dá o diálogo entre o trabalho e a educação assumem lugar privilegiado para a percepção que o estudante vai desenvolvendo acerca do outro 
no cotidiano do cuidado.
São espaços de cidadania, onde profissionais do serviço e docentes, usuários e o próprio estudante vão estabelecendo seus papéis sociais na confluência de seus saberes, modos de ser e de ver o mundo.
Centrando a discussão nas relações entre ensino e trabalho, há de se reconhecer que os espaços de interseção entre serviços e ensino são de grande importância para a formação e para a consolidação do Sistema.

 Neste sentido, as consequências das práticas que transcendem os cenários de aprendizagem.
 O conhecimento ali construído, a partir da reflexão sobre o vivido em um cenário de aprendizagem, 
pode se difundir por intermédio dos sujeitos que por ali passam como estudantes.
 Desse modo, são espaços privilegiados para a transformação e consolidação dos modelos de atenção à saúde mas é neles onde também se explicitam conflitos, dificuldades, estratégias e táticas desencadeadas para a ocupação de espaços na rede 
de cuidados que vai sendo configurada.
Deparamo-nos com muitos conflitos decorrentes de problemas e dificuldades na interseção desses dois mundos.
 Há queixas que dizem respeito, muitas vezes, ao fato de a universidade estar no serviço  sem levar em consideração os trabalhadores que lá estão.
 Tal crítica se amplia quando entra em cena a percepção
 de que os objetivos acadêmicos estão definidos a priori
 e não podem se afastar da estrutura já estabelecida.
 Ou, ainda, que não há participação do profissional do serviço, a não ser na supervisão do estudante, feita em alguns casos de modo assistemático e solitário, sem uma discussão ou presença mais efetiva do docente. 
Por outro lado, há críticas à diferença marcante entre a lógica da organização dos serviços, muito centrada na produtividade de seus procedimentos técnico-operativos, e a lógica do trabalho da instituição
formadora, muito centrada na produção de seus conhecimentos teóricos e metodológicos  dos campos pedagógicos e núcleos específicos.

 Fonte A integração ensino-serviço no contexto dos processos de mudança na formação superior dos profissionais da saúde


 Verônica S Albuquerque; Andréia P Gomes; Carlos H A de Rezende; Marcelo X Sampaio; Orlene V Dias; Regina M Lugarinho

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