Frente a essa contextualização, que justifica o interesse
pelo tema proposto, alguns questionamentos foram se definindo aos interesses da
pesquisa:
A LMP foi benéfica aos TPA?
Como esses trabalhadores visualizam
oportunidade de crescimento profissional?
Há impactos – positivos ou não – no
desenvolvimento e futuro profissional dos TPA?
Qual é o grau de satisfação
quanto às boa utilização do potencial profissional desses trabalhadores?
Assim, os questionamentos definiram o que
configura e define o problema da pesquisa: qual a percepção dos TPA do Porto de
Santos, quanto à utilização, desenvolvimento de sua capacidade e crescimento
profissional?
No presente estudo, o problema central gestou o
objetivo geral que buscou analisar como os Trabalhadores Portuários Avulsos
percebem e registram os efeitos em sua perspectiva de vida
profissional, a partir da LMP.
Já os objetivos específicos pretenderam
identificar e traçar o perfil profissional dos Trabalhadores Portuários Avulsos
do Porto de Santos, enfocando principalmente:
o tempo de experiência
profissional, ou seja, de permanência em atividades avulsas no Porto de Santos;
o perfil de sua condição familiar e fornecer subsídios para
aprofundamento de estudos futuros que busquem compreender a correlação entre a
LMP e os reais interesses pessoais e profissionais dessa categoria de
trabalhadores.
Os efeitos advindos da globalização, resultantes da abertura
de mercados, intensificaram os processos de importações e exportações,
nascendo, então, a necessidade premente de modernizar o sistema portuário
brasileiro.
Na concepção de Oliveira a questão de modernizar os portos brasileiros
corresponde a colocá-los em termos operacionais em nível dos países mais
adiantados, visto que existe grande diferença, por exemplo, entre o porto de
Santos e outros portos estrangeiros.
Não reconhecer ou ignorar a necessidade
dessa modernização é deixar de lado as condições de sobrevivência das
organizações, dos indivíduos e do país, uma vez que se trata de reduzir custos,
aprimorar serviços e apresentar alto índice de qualidade nos mesmos.
Freddo : JUNQUEIRA, destaca que no município de Santos havia o
principal porto brasileiro, mas estatizado, cujos serviços se encontravam sob
monopólio sindical, fato esse que inibia completamente investimentos privados
de qualquer origem.
Dada essa influência dos sindicatos, foram estabelecidas
resistências à implantação de uma lei que visasse à modernização dos portos. Acredita-se que essa postura poderia ser resultante até mesmo de um
desconhecimento maior quanto aos benefícios que uma legislação pertinente
poderia oferecer a todos.
Nesse contexto, Vidal JUNQUEIRA, salienta que, na cidade de Santos, onde eram
maiores as resistências, o processo de modernização da atividade portuária se
deu em ritmo lento, causando um evidente prejuízo para os usuários e para a
própria cidade.
Akabane defendem que a
expansão portuária oportuniza a viabilização de pelo menos dois objetivos:
crescimento econômico e desenvolvimento de empregos ligados às atividades
portuárias.
Porém, a garantia do passado sobre os
benefícios econômicos e dos empregos gerados por um porto, já não condizem com
a realidade e a necessidade atual, sendo percebidos de forma completamente
diferente.
Essa observação dos autores se dá pela divergência de compromissos e
ideologias, manifestada, principalmente, através do Sindicato dos Estivadores
do Porto de Santos, uma vez que, conforme esclarece Aguiar : Junqueira, o poder mudou de mãos, foi
transferido para o recém-criado Órgão Gestor de Mão-de-Obra OGMO .
Reforçando
as observações de Akabane os
esclarecimentos de Aguiar, Freddo : JUNQUEIRA, ressaltam que no processo de
modernização dos portos, a entrada do OGMO, mesmo em um cenário de conflito,
criou um momento histórico, passando ele a substituir, de forma integral, os
sindicatos dos portuários no que se refere à elaboração das escalas de
serviços.
É possível refletir, pois, que a resistência dos sindicatos de
trabalhadores portuários a respeito da modernização não se dá apenas por uma
questão econômica ou técnica, mas em razão de uma cultura vivenciada desde
muito tempo.
O segmento portuário possui valores, ideais e características
próprias. Logo, é compreensível quando Junqueira e Gomes sinalizam que se faz necessária uma pesquisa
mais profunda sobre a cultura dos trabalhadores e das organizações portuárias,
ao se pensar em processos de mudança e de modernização.
A globalização e a Lei de Modernização dos Portos no Porto
de Santos
As novas demandas decorrentes do processo de globalização
das economias mundiais exigiram, pois,
a implantação da Lei nº 8.630/93 que
trata da modernização dos portos, sendo um dos primeiros passos no processo que
transformaria por completo o setor portuário.
No entanto, esta reestruturação
portuária não implica somente na base legal de funcionamento do porto, mas
também em um amplo conjunto de mudanças de conceitos, percepções e comportamentos, conforme ensinamentos de Limongi-França .
O consultor portuário e coordenador
do grupo de tarifas do CAP de Santos, Sergio
Aquino : CUNHA, destaca que, antes da LMP, praticamente não existia competitividade
no setor, pois o crescimento ou redução do movimento de uma instalação
portuária era mais uma questão de política governamental.
Ainda para Aquino, os
portos refletem incisivamente a competitividade do Brasil,uma vez que, quanto
mais o país quiser ser competitivo no comércio exterior,terá que ter mais
portos eficientes e eficazes.
Assim, o novo porto foi dotado de
tecnologias inovadoras, novos modelos de administração,
visando a fazer frente
às exigências de adaptação ao mundo globalizado, passando a ser chamado de
porto organizado.
Nas observações de Vidal SORDI; CUNHA, apesar da transformação radical imposta ao
setor portuário, começando por sua desarticulação, a Lei, de per si, não foi
capaz, o suficiente para romper com práticas de antigos modelos de gestão, o
que redundou em um entendimento limitado sobre a nova gestão de um novo porto.
Ainda para Vidal, essa compreensão inadequada está atrelada ora à redução de
oferta de emprego direto ou indireto ora à redução da jornada de trabalho da
mão-de-obra avulsa ora à em crise institucional,
especificamente no que se
refere às novas funções atribuídas à Companhia Docas ou mesmo ao
enfraquecimento dos sindicatos das categorias de trabalhadores portuários.
Os impactos da Lei de Modernização dos Portos sobre os
Trabalhadores Portuários Avulsos no Porto de Santos TPA.
Para Aguiar e de Junqueira , a modernização
portuária trouxe riscos, contradições e abandono de tradições unidimensionais, impondo mudanças de paradigma de pensamento e o encontro com uma inusitada
complexidade.
Essa modernização remete sua importância ao cenário de um Brasil
que busca a sua inserção na economia globalizada, como já referido
anteriormente.
Assim, direcionando os impactos da LMP para os avanços
tecnológicos, Beck enfatiza que estes
provocaram mudanças profundas nos cenários do mundo, nas esferas sociais,
econômicas, industriais e política, bem como na vida das pessoas. Enfatiza,
também, que a criação da tecnologia robótica, por exemplo, permite rapidez, qualidade e exatidão, trazendo contribuições relevantes aos vários setores da
atividade produtiva, dentre eles o setor portuário.
Por conseguinte, em relação
ao trabalho, esses avanços são responsáveis por mudanças drásticas que vêm
ocorrendo na estrutura e nas características do porto, o que demanda um novo
trabalhador, do qual são exigidas novas qualificações, que envolvem diferentes conhecimentos,
habilidades, características psicológicas, socioculturais e físicas, muitas
vezes antagônicas àquelas até então demandadas.
Reforçando Beck , Santos Neto e
Ventilari afirmam que a revolução
técnico-científica nos maiores e mais avançados portos do mundo, transformou e
converteu, em sua maioria, os trabalhadores simplesmente braçais em operadores
de máquinas.
Aquela imagem do porto, onde os estivadores saiam em batalhões dos
porões dos navios com sacarias pesando toneladas às costas, foi totalmente
substituída pelo porto organizado, composto por contêineres,
içados por
guindastes eletrônicos controlados por computador, por pontes rolantes enormes,
tornando, assim, simplesmente obsoleta, a força do braço humano, outrora
símbolo do trabalhador portuário,
além de impor uma significativa redução da
demanda por mão-de-obra.
Figueiredo enfatiza que operações e
negócios bem sucedidos em mercados nacionais e globalizados pedem uma força de
trabalho diferenciada que fale a língua local, que entenda as tradições
culturais e as regras de comportamento,com a finalidade de melhor interagir
com clientes internos e externos ou mesmos com os parceiros.
A reflexão de que a inserção no processo de modernização com o
intuito de internacionalizar do Porto de Santos gerou a necessidade de maior e
melhor comunicação interna e externa, fato este que envolve diretamente a
questão da qualificação e da capacitação de todos os profissionais portuários.
Mesmo sendo considerado um dos mais importantes portos da América Latina tanto
pelo volume de carga transportada, quanto por sua abrangência em termos
geográficos, por sua capacidade global de importação e exportação JUNQUEIRA, o fato de o Porto de Santos apresentar perfil
e características de um porto organizado, remete à reflexão de quão complexa se
torna a tarefa de encontrar, no mercado de recursos humanos, pessoal preparado
quer seja em qualificação, capacitação ou mesmo em habilidades desenvolvidas
para as inúmeras tarefas que compõem o segmento portuário.
Portanto, essa
complexidade se reporta, inevitavelmente, aos TPA, enfoque deste estudo,
trazendo a eles exigências singulares como será visto a seguir.
Gestão do Conhecimento e Capacitação Profissional no
Segmento Portuário
A era da globalização trouxe em seu bojo, a necessidade de um aperfeiçoamento de talentos.
A ampliação da aldeia global,
os avanços tecnológicos, o crescimento de grande parte das economias mundiais
têm sido fatores que induzem os seres humanos a um aperfeiçoamento intelectual,
reconhecendo
que o mercado se abre aos cérebros mais completos e desenvolvidos.
Há uma necessidade premente de lapidar as ações profissionais, caminhando-se na
direção de sua excelência, sempre com “rigor e originalidade, chaves para
conquistar terreno na era da globalização” MARGARIDO. Fleury aponta que essa
gestão do conhecimento requer a criação de novos modelos organizacionais no que
tange a estruturas, processos e sistemas gerenciais. Por outro lado, implica em
uma nova visão quanto ao papel da capacidade intelectual de cada funcionário e
de uma efetiva liderança, dispostos todos a enfrentar ativamente as barreiras
existentes no processo de transformação.
O processo de modernização dos portos estabeleceu um forte impasse de
conflito entre o OGMO
e seus trabalhadores no que se refere à capacitação
profissional.
O OGMO tem como proposta convocar os trabalhadores para cursos de
capacitação, mas não tem sucesso nas freqüências dos cursos. Se essas pessoas
freqüentarem os cursos propostos, a remuneração mensal de serviços diminui e
isto implicará em comprometer o orçamento.
Em suma, quando trabalhadores
participam de treinamentos, não trabalham e, se não trabalham, não ganham.
Em função da necessidade de capacitar os trabalhadores
avulsos, o CAP, que atua como um foro de
interesses nos assuntos portuários, baixou a Resolução CAP/9 de 21/10/2008,
recomendando ao OGMO-Santos que “futuramente somente escale trabalhadores que
tenham participado de treinamentos de procedimentos operacionais padronizados”. Assim, é possível inferir que esta determinação, por si só, se comporta como
geradora de conflitos entre trabalhadores, gestores e CAP.
Não deve ter sido uma tarefa fácil ao OGMO solver os problemas relacionados à qualificação e à capacitação dos trabalhadores. Embora à época da CAP/9 houvesse uma insuficiência de estudos sobre o perfil do trabalhador avulso, estudos recentes realizados em forma de dissertações de mestrado ou trabalho de conclusão de curso apontam que o OGMO ainda encontra muitos obstáculos para treinar e capacitar sua mão-de-obra. Trabalhadores não abrem mão para perder uma hora de trabalho, ao ficar dentro de uma sala de aula.
Não deve ter sido uma tarefa fácil ao OGMO solver os problemas relacionados à qualificação e à capacitação dos trabalhadores. Embora à época da CAP/9 houvesse uma insuficiência de estudos sobre o perfil do trabalhador avulso, estudos recentes realizados em forma de dissertações de mestrado ou trabalho de conclusão de curso apontam que o OGMO ainda encontra muitos obstáculos para treinar e capacitar sua mão-de-obra. Trabalhadores não abrem mão para perder uma hora de trabalho, ao ficar dentro de uma sala de aula.
Assim sendo, é possível reafirmar a reflexão
de que essa resistência acontece porque, ao que é permitido inferir, os
trabalhadores deixam de receber salários mais significativos, vez que sua
remuneração advém do volume de horas trabalhadas.
Pastore analisou que, no início
da virada do milênio, já estava sinalizado que o Brasil assistiria a um aumento
da demanda por profissionais qualificados, polivalentes e multifuncionais, sendo este um fenômeno visível para as novas regras da economia globalizada, que conta com protagonistas cada vez mais preparados para um desempenho
competitivo.
Pastore ainda reforça que no mundo globalizado não haverá
oportunidades crescentes para os indivíduos que não se prepararem de forma
necessária e muito menos para que falhas ou lacunas deixem de ser preenchidas
pelas políticas educacionais.
Seria este
um caminho a ser seguido pelo porto de Santos, dentro do contexto da Lei de
Modernização dos Portos, ou seja, excluir indivíduos sem qualificação?
Estaria formado um círculo vicioso em que a não qualificação profissional redundaria em menos oportunidades de trabalho e, por corolário, em menor renda e em perda de qualidade de vida?
Estaria formado um círculo vicioso em que a não qualificação profissional redundaria em menos oportunidades de trabalho e, por corolário, em menor renda e em perda de qualidade de vida?
Como equacionar o desenovelar deste sutil cordel imbricado
de diferentes situações conexas?
Fonte
EFEITOS DA LEI DE MODERNIZAÇÃO DE PORTOS NA UTILIZAÇÃO, DESENVOLVIMENTO DE CAPACIDADE E CRESCIMENTO PROFISSIONAL DOS TRABALHADORES
PORTUÁRIOS AVULSOS: Um estudo no Porto de Santos MARIA CRISTINA PEREIRA MATOs
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