Em palestra sobre o Ebola, promovida pela CODESP com a
participação da ANVISA, facilitou-se o conhecimento da doença em suas
vertentes, e permitiu o conhecimento da condição vulnerável em que se encontram
os trabalhadores portuários que desenvolvem suas atividades em navios de várias
nacionalidades que atracam no cais santista.
A compreensão da rede de serviços de saúde
contemplou o conhecimento do território do CEREST, um serviço regional que
abrange três cidades da Baixada Santista: Santos, São Vicente e Praia Grande. O
CEREST, de acordo com a RENAST, atua oferecendo à população trabalhadora:
assistência específica, VISAT e a educação em saúde. Dentre as ações
desenvolvidas pelo grupo PET no CEREST, inclui-se: acompanhamento do
atendimento médico, que pesquisa e confere o nexo causal, a relação
entre o adoecimento e o trabalho. A roda de conversa versou sobre o nexo causal
para Burnout, Fadiga Generalizada e Lombalgia.
Entender o adoecimento pelo
trabalho, as doenças mais frequentes e o caminho para firmar o nexo é
fundamental para as ações em vigilância em saúde do trabalhador. Também se
abordou a coleta e registro de dados realizados pelo CEREST. A importância da
Vigilância e da coleta de dados é apontada pelo grupo: A coleta e a alimentação
dos bancos de dados, segundo o CONASS, representam entraves nas ações do
CEREST.
Um dos maiores desafios para a área de vigilância diz respeito à
informação, uma vez que os sistemas nacionais implantados ainda não contemplam
de forma adequada os registros sobre os agravos ocorridos. O aprofundamento da
temática da participação da comunidade aconteceu com a participação do Grupo
PET na 12ª Conferência Municipal de Saúde e 3ª Conferência de Saúde do
Trabalhador.
A atuação no CEREST possibilitou vivenciar eventos, como, por
exemplo: o “Seminário em Rede de Cuidados”, a “Oficina de Vigilância em
Saúde-SMS-Santos” e a “II Mostra Municipal de Experiência Acadêmica”.
Os estudantes do Grupo PET desenvolvem quatro pesquisas em duplas sobre a saúde
dos trabalhadores portuários.
O porto e o trabalho portuário, por sua natureza,
complexidade e momento histórico de transformação instiga à pesquisa. O momento
de constante processo de modernização do porto levou à construção dos projetos
com as temáticas: “Os trabalhadores portuários de Santos: Motivos e anseios
para permanecerem ‘Avulsos’”; “A modernização no Porto de Santos e suas implicações
na cultura do trabalhador portuário”; “Saúde em foco: estresse e lombalgia na
vida do trabalhador portuário” e “O que mantem os trabalhadores do mais
movimentado porto brasileiro exercendo suas funções em condições de
adoecimento? ”.
Os temas expressam como o grupo percebe a relação
trabalho-agravos à saúde e as transformações na cultura e trabalho portuário. A
familiaridade e aprofundamento do conhecimento em relação ao trabalho
portuário, inclusive a atual conjuntura portuária, propiciou a construção de um
Fórum que discutisse a Vigilância em Saúde dos Trabalhadores.
Desta forma, como
fruto do aprendizado proporcionado pela experiência do PET ocorreu, no mês de
maio de 2014, o I Fórum de Vigilância em Saúde do Trabalhador Portuário, que
contou com a participação de representantes das organizações envolvidas com o
porto de Santos.
Essas discorreram sobre assuntos portuários referentes ao
processo de trabalho e determinantes de agravos à saúde. O encontro
possibilitou a exposição das demandas trazidas pelos trabalhadores e foi palco
de importantes discussões acerca das ações que são e devem ser tomadas em
relação às questões das condições de trabalho e saúde no exercício da profissão
portuária.
Por exemplo, foram apresentadas as exposições a que os trabalhadores
estão submetidos enquanto realizam suas tarefas no porto de Santos, por atores:
do OGMO-Santos, da SEP, da CPATP, do Estivador do Porto de Santos, da
Vigilância em Saúde-SMS, da representação Sindical dos Trabalhadores da Orla
Portuária do Espirito Santo.
O Fórum contou com várias instituições, desde os
serviços de saúde e segurança ligados às operadoras portuárias, aos membros das
universidades, além de representantes dos serviços de vigilância em saúde da
rede municipal da Baixada Santista.
Ao final do evento, escutou-se os
trabalhadores portuários, possibilitando compreender as impressões em relação
ao fórum e o que aquele momento representou no seu trabalho no porto:
“[...] o
fórum apresentou-se como experiência positiva, já que os trabalhadores puderam
mostrar seu trabalho e as suas necessidades em prol da Saúde e Segurança do
Trabalhador Portuário, aos representantes da Secretária de Portos, Centro de
Referência em Saúde do Trabalhador-Santos, Unifesp Campus Baixada Santista e
Sindicato Unificado da Orla Portuária do Espirito Santo-SUPORTES”.
O I Fórum
juntou no mesmo ambiente a comunidade acadêmica e portuária da qual o estivador
faz parte. O melhor foi poder conversar com pessoas do OGMO, CENEP, operadores
portuários e de órgãos público diretamente, olho no olho [...]”.
Desta forma,
com base nas respostas, foi possível detectar que o evento propiciou o
conhecimento compartilhado e maior aproximação entre os trabalhadores e o Grupo
PET, somada a uma adesão ao evento por parte dos trabalhadores. Acredita-se que
o desenvolvimento do PET foi permeado por uma série de fatores, positivos à
formação, que se tornaram presentes no decorrer das atividades desenvolvidas,
os quais geraram inquietações e motivações que culminaram na realização do
evento.
O desenvolvimento do Grupo PET Vigilância em Saúde do Trabalhador
Portuário tem confirmado a importância da relação entre
serviço-universidade-comunidade na formação universitária. Vislumbra se que o
desenvolvimento do PET tem contribuído nas atividades dos trabalhadores do
CEREST, diante da importância nacional da vigilância em saúde no SUS, e
apontado na direção de aproximação com a rede básica de atenção à saúde.
Os
trabalhadores portuários têm-se aproximado da universidade e do CEREST a partir
do Grupo PET; e o I Fórum de Vigilância em Saúde do Trabalhador Portuário
desempenhou papel fundamental nesta aproximação. Verificou-se, como resultado
positivo, a aproximação que foi construída com as organizações e os
trabalhadores portuários, já que o Fórum foi uma maneira de problematizar as
questões apresentadas pelos trabalhadores, que consideraram necessários novos
encontros para a continuação da discussão demandada.
Contudo, o diálogo entre
os profissionais da saúde e a universidade ainda é bastante desafiador.
Construir novos paradigmas enfrenta, em instâncias intermediárias, a rígida
conformação burocrática e hierárquica dos serviços . Transformam-se os projetos políticos pedagógicos e esses são os agentes da ação. A valorização
do SUS e a produção de conhecimento compartilhado entre serviço-universidade
dependem de uma nova visão destas instituições. Na vigilância em saúde do
trabalhador, a construção de bancos de dados epidemiológicos é fundamental, bem
como a valorização da informação gerada pelos sistemas de dados oficiais. Tão
importante quanto a informação é o compartilhamento destas com os profissionais
da saúde e a comunidade, para que estas gerem ações em vigilância em curto,
médio e longo prazo.
Na formação da graduação, a temática sobre vigilância em
saúde dos trabalhadores ainda é insipiente, mas ações do Grupo PET têm ocupado
espaços que repercutem de forma ampliada e colocado a discussão ao alcance dos
estudantes. Os projetos PET, tendo por base nossa abordagem em Vigilância em
Saúde do Trabalhador, representam uma inovação no caminho da construção
coletiva de promoção/prevenção em saúde.
É um momento incentivo para
proposições tanto no campo do saber compartilhado como das relações grupais; e,
ainda, por sua objetividade, estimula a formação dos profissionais em todos os seus níveis de complexidade.
fonte Grupo PET-Saúde/Vigilância em Saúde do Trabalhador Portuário: vivência compartilhada
Maria de Fátima F Queiróz, Ana Paula N V Valeiras, Rafaela dos S Lerin, Francine de S Lino,Vivian de C P Fornazier,Ubiratan de S Dias Junior, Vinicius Akio Yano, Juliana R C Imperatore Nogueira
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