10 de set. de 2016

O PET-Saúde/Vigilância em Saúde do Trabalhador Portuário


 A organização da atividade portuária, segundo Silva, está diretamente vinculada à base tecnológica da indústria marítima, que se baseia em três componentes fundamentais: os tipos de cargas a serem transportadas , variedade na dimensão e estado de conservação das embarcações e instrumentos de trabalho necessários para o desenvolvimento da atividade de movimentação das mercadorias. A variabilidade dos componentes leva à construção singular do trabalho portuário
Historicamente, o trabalho portuário santista e exercido por diferentes categorias profissionais num sistema de trabalho ocasional, com ritmo irregular e controle do mercado de trabalho pelos trabalhadores organizados em sindicatos. Com o advento da Lei 8.630 25 /2/1993, o processo de modernização e a nova gestão do trabalho portuário abalam profundamente essa cultura. Machin analisa que o impacto dessas mudanças no processo e na organização do trabalho e suas implicações na saúde dos trabalhadores demandam maiores investigações.
 A diminuição do número de trabalhadores por equipe a intensificar a produtividade do trabalho, a extinção de algumas funções, o trabalho em turnos menores e noturnos se manifestam nas experiências de saúde, adoecimento e acidentes de trabalho. Nos estudos sobre a organização do trabalho, a partir do olhar sobre a saúde e a doença, tem se privilegiado entender como o estabelecimento de uma proposta de estruturação, planejamento, execução, supervisão e avaliação pode abrigar aspectos que interfiram na saúde do trabalhador conduzindo a uma determinação de adoecimento. 
Assim, Queiróz refere que todos os aspectos que compõem o trabalho portuário estão dependentes de uma organização própria histórica, que necessita ser reconhecida em sua complexidade. Doenças decorrentes da execução de tarefas determinadas por uma organização de trabalho rígida se mostram frequentes, como é o caso de: fadiga generalizada, lombalgia, distúrbios musculoesqueléticos e acidentes de trabalho. A importância do trabalho portuário em Santos, porto e cidade, tem relações imbricadas, e a necessária vigilância em saúde leva ao desenvolvimento do PET-Saúde/Vigilância em Saúde do Trabalhador Portuário, compartilhando conhecimentos entre a universidade-serviço e a comunidade portuária
Objetiva desenvolver intervenções que contribuam no fortalecimento das ações de Vigilância em Saúde do Trabalhador na cidade de Santos, e compreender a ocorrência de agravos à saúde da população trabalhadora portuária.

O método desenvolvido contempla a Epidemiologia, que, de acordo com Bloch e Coutinho que  tem por objetivo final melhorar o perfil de saúde das populações. Os estudantes envolvidos no projeto têm a oportunidade de vivenciar: a Vigilância em Saúde, a Epidemiologia, a Saúde do Trabalhador e o Trabalho Portuário, em um projeto que favorece a reflexão crítica e a aprendizagem coletiva e interdisciplinar.
Assim, o desenvolvimento do Grupo PET contempla: conhecimento da realidade territorial e ações do CEREST-Santos; rodas de conversas temáticas;  mapeamento dos serviços de saúde da rede municipal relacionados ao CEREST e ao Pró-Saúde, e das ações de Vigilância desenvolvidas pelo CEREST; desenvolvimento de pesquisas; conhecimento dos agravos à saúde dos trabalhadores portuários cadastrados no CEREST-Santos; busca bibliográfica; visita aos serviços de saúde da rede municipal; análise de dados e construção do relatório final; construção de eventos que abordem a vigilância em saúde do trabalhador e o trabalhador portuário; avaliação do desenvolvimento do Projeto, O grupo PET encontra-se há um ano e meio em desenvolvimento, tendo realizado ações importantes no âmbito da Saúde do Trabalhador Portuário, que carrega transformações tanto para os trabalhadores portuários como para os serviços de saúde, além da formação ampliada dos estudantes envolvidos.
 O diário de campo permite aos estudantes refletirem sobre seu envolvimento e compreenderem o processo de formação; e às preceptoras e tutora, fornece um retrato da vivência dos estudantes. A avaliação final contempla todo o processo de trabalho e a contribuição gerada tanto para o CEREST, como para a formação no âmbito da UNIFESP, no que diz respeito à Vigilância em Saúde do Trabalhador. Formação no âmbito das instituições ligadas ao Trabalhador Portuário - Porto de Santos .
Nas rodas temáticas, o grupo PET compartilha conhecimento sobre a história do Porto de Santos e do trabalho Portuário com base em leituras, debates e palestras, além de abordar a vigilância em saúde do trabalhador e políticas de saúde do trabalhador. 
Em campo, as visitas ao porto de Santos, articuladas com a CODESP, tanto no cais como no canal, percorrendo todo o estuário do porto de Santos, sendo possível a observação da movimentação de carga em várias operadoras portuárias. Os trabalhadores são convidados à Unifesp para abordarem questões sobre seu trabalho no porto de Santos, discorrendo sobre os fatores determinantes de adoecimento presentes no trabalho.
 Esta aproximação mostra-se fundamental, pois o trabalho portuário é complexo, e cabe, aos trabalhadores, contarem sua trajetória e seu trabalho. A discussão permite, aos participantes, a apropriação de conhecimentos sobre o trabalho portuário e seu significado em uma conjuntura de transformações. Outra abordagem em relação às instituições ocorreu com a presença do gerente das operações portuária do OGMO-Santos na Unifesp. Foi indicado o caminho trilhado na vigilância em saúde dos trabalhadores portuários e o histórico do OGMO, órgão esse criado pela Lei 8.630. É notório que as conversas ocorreram com representações distintas, pois o OGMO é representante dos interesses das Operadoras Portuárias, e os trabalhadores são aqueles que sofrem com os ritmos de trabalho e exposições a fatores determinantes que compõem a organização do trabalho das operadoras. Foi possível a compreensão da contradição entre o capital e o trabalho, observando as expressões dela geradas, que tanto interferem na condição de vida e trabalho no porto.



Em campo, pode-se vivenciar o momento de “tomada de trabalho” dos trabalhadores portuários avulsos no posto de escalação para o trabalho P3. As paredes como são conhecidas devido a fatos históricos, são basicamente postos onde os trabalhadores portuários disputam vagas de trabalho diariamente. Os trabalhadores são divididos em turmas para melhor organização, as vagas de trabalho são apresentadas a eles, e de um em um vão sendo selecionados, sendo que estes têm a opção de aceitar ou não a vaga proposta, podendo optar pela sorte de conseguir uma vaga melhor numa próxima seleção. Tudo é bem organizado e passado para os trabalhadores através da fala e também de uma tela digital, contudo para nós que não somos acostumados foi bem difícil entender o funcionamento e andamento da seleção, já que aparentemente tudo parecia bem confuso unido ao barulho e movimentação do lugar. Fato importante é compreender que a própria escalação já confere um momento de tensão, expondo os trabalhadores à condição de “ter ou não ter trabalho”, fazendo com que muitos procurem a escalação apesar de condições de saúde visivelmente desfavoráveis. Na análise dos fatores determinantes de adoecimento, estes processos são carregados de ansiedades, frustrações e angústias, pois “ter trabalho” é garantia de “ter salário”. A atuação com o trabalhador portuário possibilita discussões sobre temas atuais em epidemiologia, por exemplo, as doenças transmissíveis. 
fonte Grupo PET-Saúde/Vigilância em Saúde do Trabalhador Portuário: vivência compartilhada 
Maria de Fátima F Queiróz, Ana Paula N V Valeiras, Rafaela dos S Lerin, Francine de S Lino,Vivian de C P Fornazier,Ubiratan de S Dias Junior, Vinicius Akio Yano, Juliana R C Imperatore Nogueira

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