A organização da
atividade portuária, segundo Silva, está diretamente vinculada à base
tecnológica da indústria marítima, que se baseia em três componentes
fundamentais: os tipos de cargas a serem transportadas , variedade na dimensão
e estado de conservação das embarcações e instrumentos de trabalho necessários
para o desenvolvimento da atividade de movimentação das mercadorias. A
variabilidade dos componentes leva à construção singular do trabalho portuário.
Historicamente, o trabalho portuário santista e exercido por diferentes
categorias profissionais num sistema de trabalho ocasional, com ritmo irregular
e controle do mercado de trabalho pelos trabalhadores organizados em
sindicatos. Com o advento
da Lei 8.630 25 /2/1993, o processo de modernização e a nova gestão do trabalho
portuário abalam profundamente essa cultura. Machin analisa que o impacto
dessas mudanças no processo e na organização do trabalho e suas implicações na
saúde dos trabalhadores demandam maiores investigações.
A diminuição do número
de trabalhadores por equipe a intensificar a produtividade do trabalho, a
extinção de algumas funções, o trabalho em turnos menores e noturnos se
manifestam nas experiências de saúde, adoecimento e acidentes de trabalho. Nos
estudos sobre a organização do trabalho, a partir do olhar sobre a saúde e a
doença, tem se privilegiado entender como o estabelecimento de uma proposta de
estruturação, planejamento, execução, supervisão e avaliação pode abrigar
aspectos que interfiram na saúde do trabalhador conduzindo a uma determinação
de adoecimento.
Assim, Queiróz refere que todos os aspectos que compõem o
trabalho portuário estão dependentes de uma organização própria histórica, que
necessita ser reconhecida em sua complexidade. Doenças decorrentes da execução de
tarefas determinadas por uma organização de trabalho rígida se mostram
frequentes, como é o caso de: fadiga generalizada, lombalgia, distúrbios
musculoesqueléticos e acidentes de trabalho. A importância do trabalho
portuário em Santos, porto e cidade, tem relações imbricadas, e a necessária
vigilância em saúde leva ao desenvolvimento do PET-Saúde/Vigilância em Saúde do
Trabalhador Portuário, compartilhando conhecimentos entre a
universidade-serviço e a comunidade portuária.
Objetiva desenvolver intervenções
que contribuam no fortalecimento das ações de Vigilância em Saúde do
Trabalhador na cidade de Santos, e compreender a ocorrência de agravos à saúde
da população trabalhadora portuária.
O método desenvolvido contempla a Epidemiologia, que, de
acordo com Bloch e Coutinho que tem por
objetivo final melhorar o perfil de saúde das populações. Os estudantes
envolvidos no projeto têm a oportunidade de vivenciar: a Vigilância em Saúde, a
Epidemiologia, a Saúde do Trabalhador e o Trabalho Portuário, em um projeto que
favorece a reflexão crítica e a aprendizagem coletiva e interdisciplinar.
Assim, o desenvolvimento do Grupo PET contempla: conhecimento
da realidade territorial e ações do CEREST-Santos; rodas de conversas
temáticas; mapeamento dos serviços de
saúde da rede municipal relacionados ao CEREST e ao Pró-Saúde, e das ações de
Vigilância desenvolvidas pelo CEREST; desenvolvimento de pesquisas; conhecimento
dos agravos à saúde dos trabalhadores portuários cadastrados no CEREST-Santos; busca
bibliográfica; visita aos serviços de saúde da rede municipal; análise de dados
e construção do relatório final; construção de eventos que abordem a vigilância
em saúde do trabalhador e o trabalhador portuário; avaliação do desenvolvimento
do Projeto, O grupo PET encontra-se há um ano e meio em desenvolvimento, tendo
realizado ações importantes no âmbito da Saúde do Trabalhador Portuário, que
carrega transformações tanto para os trabalhadores portuários como para os
serviços de saúde, além da formação ampliada dos estudantes envolvidos.
O
diário de campo permite aos estudantes refletirem sobre seu envolvimento e
compreenderem o processo de formação; e às preceptoras e tutora, fornece um
retrato da vivência dos estudantes. A avaliação final contempla todo o processo
de trabalho e a contribuição gerada tanto para o CEREST, como para a formação
no âmbito da UNIFESP, no que diz respeito à Vigilância em Saúde do Trabalhador.
Formação no âmbito das instituições ligadas ao Trabalhador Portuário - Porto de
Santos .
Nas rodas temáticas, o grupo PET compartilha conhecimento sobre a
história do Porto de Santos e do trabalho Portuário com base em leituras, debates
e palestras, além de abordar a vigilância em saúde do trabalhador e políticas
de saúde do trabalhador.
Em campo, as visitas ao porto de Santos, articuladas
com a CODESP, tanto no cais como no canal, percorrendo todo o estuário do porto
de Santos, sendo possível a observação da movimentação de carga em várias
operadoras portuárias. Os trabalhadores são convidados à Unifesp para abordarem
questões sobre seu trabalho no porto de Santos, discorrendo sobre os fatores
determinantes de adoecimento presentes no trabalho.
Esta aproximação mostra-se
fundamental, pois o trabalho portuário é complexo, e cabe, aos trabalhadores,
contarem sua trajetória e seu trabalho. A discussão permite, aos participantes,
a apropriação de conhecimentos sobre o trabalho portuário e seu significado em
uma conjuntura de transformações. Outra abordagem em relação às instituições
ocorreu com a presença do gerente das operações portuária do OGMO-Santos na
Unifesp. Foi indicado o caminho trilhado na vigilância em saúde dos
trabalhadores portuários e o histórico do OGMO, órgão esse criado pela Lei
8.630. É notório que as conversas ocorreram com representações distintas, pois
o OGMO é representante dos interesses das Operadoras Portuárias, e os
trabalhadores são aqueles que sofrem com os ritmos de trabalho e exposições a
fatores determinantes que compõem a organização do trabalho das operadoras. Foi
possível a compreensão da contradição entre o capital e o trabalho, observando
as expressões dela geradas, que tanto interferem na condição de vida e trabalho
no porto.
Em campo, pode-se vivenciar o momento de “tomada de
trabalho” dos trabalhadores portuários avulsos no posto de escalação para o
trabalho P3. As paredes como são conhecidas devido a fatos históricos, são
basicamente postos onde os trabalhadores portuários disputam vagas de trabalho
diariamente. Os trabalhadores são divididos em turmas para melhor organização,
as vagas de trabalho são apresentadas a eles, e de um em um vão sendo
selecionados, sendo que estes têm a opção de aceitar ou não a vaga proposta,
podendo optar pela sorte de conseguir uma vaga melhor numa próxima seleção.
Tudo é bem organizado e passado para os trabalhadores através da fala e também
de uma tela digital, contudo para nós que não somos acostumados foi bem difícil
entender o funcionamento e andamento da seleção, já que aparentemente tudo
parecia bem confuso unido ao barulho e movimentação do lugar. Fato importante é
compreender que a própria escalação já confere um momento de tensão, expondo os
trabalhadores à condição de “ter ou não ter trabalho”, fazendo com que muitos
procurem a escalação apesar de condições de saúde visivelmente desfavoráveis.
Na análise dos fatores determinantes de adoecimento, estes processos são
carregados de ansiedades, frustrações e angústias, pois “ter trabalho” é
garantia de “ter salário”. A atuação com o trabalhador portuário possibilita
discussões sobre temas atuais em epidemiologia, por exemplo, as doenças
transmissíveis.
fonte Grupo PET-Saúde/Vigilância em Saúde
do Trabalhador Portuário: vivência compartilhada
Maria de Fátima F Queiróz,
Ana Paula N V Valeiras,
Rafaela dos S Lerin,
Francine de S Lino,Vivian de C P Fornazier,Ubiratan de S Dias Junior,
Vinicius Akio Yano,
Juliana R C Imperatore Nogueira
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