30 de nov. de 2016

Do saco nas costas ao controle remoto


Trabalhadores portuários comemoram seu dia em tempos de muita tecnologia
Naquele tempo era saco de 60 quilos nas costas, hoje é um portêiner de 50 metros de altura operado através de um controle e monitores de computador. Chinelo de dedo era o calçado mais comum entre a peãozada que pisava no cais e nem se falava em  EPI. Pá era ferramenta usual e se alguém conseguisse olhar para o futuro e visse o gigantesco RTG, poderia pensar que estaria havendo uma invasão de extraterrestres. Nem precisou 30 anos para que o complexo portuário de Itajaí desse um pulo tecnológico que espanta até mesmo alguns de seus principais personagens, os trabalhadores portuários
Ah! E se você passar por um nesta quarta-feira, 28 de janeiro, lhe dê os parabéns, porque hoje se comemora o dia do Trabalhador Portuário.
O estivador Niraldo José da Silva, 54 anos, viu essa radical transformação acontecer. “Era muito arcaico quando eu comecei. Quando entrei, em 81, o serviço era todo braçal, quando entrei pela primeira vez no porto e subi no navio pra minha primeira pegada, me assustei quando vi aquele monte de homens sem camisa e só de cueca, descalços, em cima de uma pilha de sal”.
Hoje, Niraldo é operador de equipamentos na Portonave

Comanda um RTG, que anda pelo pátio do porto dengo-dengo empilhando e arrumando os contêineres. O monstro amarelão, que só tem lá no Portonave, tem altura de um prédio de seis andares e é todo informatizado.
E sabe o joystick, pra games de computador? Pois é com esse equipamento, que exige uma coordenação motora fina, que Niraldo e outros
portuários usam pra operar os RTG ou os portêineres, aqueles guindastões azuis que de longe parecem girafas mecânicas. 

Uma mudança e tanto pra quem, até a década de 80 e comecinho dos anos 90 tinha que carregar saco de açúcar ou empunhar o cabo de uma pá pra carregar os navios.
O arrumador Valdevino Walmor do Amaral, o Gibi, começou a trabalhar nos anos 90. “A gente entrava de chinelo de dedo, sem camisa e às vezes até de bicicleta. Hoje não, hoje tem que entrar de EPI, com capacete, luvas, sapatão, colete refletivo, protetor auricular”, essa foi uma das grandes mudanças que impactaram a vida do trabalhador
portuário

“Já vi cinco acidentes graves. Num deles um colega perdeu a perna e em três deles os portuários perderam a vida”, conta, pra dar idéia da importância das exigências dos equipamentos de segurança individual fazem a diferença.
Mas não é só isso. A tecnologia que hoje faz parte da vida desses trabalhadores que por muitos anos foram brutalizados pelo esforço físico, também trouxe resultados positivos para a atividade. “Na década de 90, num período de seis horas se movimentava 50 contêineres. Hoje, o máximo que um navio tá ficando pra movimentar 2000 contêineres é um dia”, ressalta Fernando Ney da Hora, presidente do sindicato dos Arrumadores.
O que diz a velha guarda sobre as mudanças
Tudo mudou na vida dos
portuários. Até o jeito como eles se chamam. 

Até os anos 90, os avulsos eram conhecidos pelo número de registro que tinham no sindicato, lembra o estivador aposentado Idemar Mendonça, o Branco, 75 anos. Ou então, diz ainda, eram os apelidos: Sardinha, Sapinho, Tamanduá, Zé do Urso, Tiriva ou Percotia.
Percotia era o apelido de seu José Geraldo da Silva, hoje com 92 anos.

 Seu Zé Geraldo começou na estiva nos anos 50 e é pai do estivador Niraldo. A memória anda meio abalada, mas, do que lembra, dá pra perceber que a vida de portuário naqueles idos eram bem diferentes de hoje. 

A começar pelos cais. “Era trapiche de madeira, ainda ali perto do mercado público”, diz.
Equipamento pra carregar e descarregar mercadoria nos navios não tinha. “Era tudo na mão, carregava tudo na mão”, era do tempo em que as mercadorias ainda chegavam no
porto de carroça.
Também era do tempo que palavras como ‘prevenção’ e ‘segurança’ não eram faladas por lá. “Fui pegar a madeira pra botar no porão, escorreguei e caí lá embaixo, de uma altura de mais de 10 metros”. Não tinha qualquer equipamento de segurança e o acidente lhe rendeu fraturas na bacia, nas duas pernas e no tornozelo. Mal entrou a década de 70 e seu Zé Geral precisou se aposentar por invalidez.
Seu branco também sofreu um acidente. Algumas caixas de frango caíram sobre ele. Levou 23 pontos na cabeça, tirou a coluna do lugar, fraturou duas costelas e trincou outra, além de “estourar o ouvido”. “Se tivesse capacete, naquela época, podia ter sido menor”.
Pra ele, uma das grandes mudanças que ocorreram pros
portuários foi justamente a segurança no trabalho. Seu Branco trabalhou até a década de 90, operou guindastes mas nunca largou o trampo pesado enquanto tava na ativa. Até porque, segundo ele, deixar de pegar no pesado também é outra característica que faz a diferença entre trabalhar no porto atualmente e até antes da década de 90.

Depois da nova lei, os chamados trabalhadores avulsos, ligados aos sindicatos, continuaram existindo mas os terminais privados podem agora contratar funcionários diretamente, com outros nomes para as funções e, claro, com outros salários. ‘Auxiliar de movimentação’ ou ‘operador de equipamentos’ são os novos nomes para os
portuários, com salários que variam entre R$ 1,5 mil até pouco mais de R$ 2,5 mil. O Portonave tem cerca de 700 funcionários no setor operacional e o Teporti tem 200, que são terceirizados.


Já os clássicos trabalhadores avulsos são contratados  pelo OGMO, são chamados quando há navio na APM Terminals, no cais do porto público, em Itajaí. As categorias avulsas que atuam no complexo portuário  são: 

Arrumadores – Atuam no cais do porto. Recebem as mercadorias que chegam, fazem o transporte interno, tocam a arrumação das cargas no cais ou nos armazéns, e operam guindastes e guinchos instalados em terra. 
É a maior das categorias, com 253 trabalhadores registrados no OGMO.
 A média salarial no ano passado foi de R$ 4.118,05.

Estivadores Trabalham no navio. São responsáveis por organizar as cargas tanto no convés quanto no porão. Se o cargueiro tiver um guindaste à bordo, são eles quem o operam. Hoje são em 212 homens. A média salarial do ano passado foi de R$ 3.576,13.

Conferentes A nata dos portuários. Fazem a contagem de volumes, anotam procedência ou destino, verificam o estado das mercadorias e conferem a documentação básica da movimentação de carga e descarga nas embarcações. São 42 conferentes. O salário médio no ano passado foi de R$ 6.330.33.

Consertadores - A responsa deles é o reparo e restauração das embalagens de mercadorias, nas operações de carregamento e descarga de embarcações, reembalam uma mercadoria. Martelo, serra circular ou tico-tico, estilete e durex são alguns de seus instrumentos de trabalho. Também são eles os únicos que podem abrir uma mercadoria pros homidalei averiguarem o que tem dentro. São oito trabalhadores. Têm a menor média salarial: R$ 1.704,38.

Vigilantes – Ficam de olho em quem entra e sai dos navios, tanto os atracados quanto os fundeados na boca da barra. Também vigiam a movimentação das mercadorias. São10 trabalhadores. Media Salarial R$ 2.010,13 .

Pessoal do bloco São eles quem amarram ou desamarram os contêineres no convés dos navios. A categoria tem hoje 30 portuários . A média salarial no ano passado foi de R$ 3.014,16.

No complexo
portuário de Itajaí, a 1500 pessoas trabalhando , incluindo os avulsos e os funcionários dos terminais Portonave, de Navega, e o Teporti, de Itajaí.

Fonte  http://www.diarinho.com.br/materias.cfm?caderno=25&materia=98606
Imagens diarinho e BemParana .

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