20 de set. de 2017

Um Relatório contra a Austeridade e o Rentismo

 O relatório da UNCTAD, Trade and Development Report, 2017: Beyond Austerity – Towards a Global New Deal (Relatório de Comércio e Desenvolvimento 2017: descreve uma rota para a construção de economias mais inclusivas e solidárias.
O documento pede que as pessoas tenham prioridade frente aos lucros. Para isso e necessário o fim da austeridade fiscal e do “rentismo” .
O principal obstáculo a uma recuperação robusta das economias é a austeridade fiscal, que é ainda a opção macroeconômica padrão. De acordo com dados da UNCTAD, 13 das 14 principais economias do mundo adotaram políticas de austeridade entre 2011 e 2015.
 China e Índia evitam  a austeridade .
Para Richard Kozul-Wright, “duas das principais tendências socioeconômicas das últimas décadas foram a explosão do endividamento e a ascensão das ‘super-elites’ – grosso modo, o 1% no topo da pirâmide”. Estas tendências, segundo o relatório, estão ligadas à desregulação dos mercados financeiros, à ampliação das desigualdades na propriedade de ativos financeiros e ao foco nos retornos de curto prazo.
Desigualdade e instabilidade estão conectadas à hiperglobalização. Decorre de empregos precários sem poder de compra . Em um círculo vicioso, os rendimentos no topo decolam durante as trajetórias que culminam nas crises; na esteira dessas, sobrevêm a austeridade e a estagnação dos rendimentos na base.Passada uma década da crise global que absorveu trilhões de dólares dos contribuintes em operações de salvamento, do setor financeiro, por ela responsável, praticamente nada mudou. De fato, os níveis de endividamento estão mais altos do que nunca.

O relatório também debate à robotização e à discriminação de gênero, que afetam as perspectivas do emprego no mundo, favorecendo grandes corporações, instituições financeiras e indivíduos ricos. A incapacidade de corrigir os excessos da hiperglobalização, adverte o relatório, prejudicará a coesão social; mais que isso, diminuirá a confiança tanto nos mercados como nos políticos.
Muito devido a utilização dos cofres públicos para impedir a quebra do setor financeiro em 2007/2008, mas as causas profundas da instabilidade financeira não foram abolidas ou punidas .
Nas últimas décadas, o controle de economias inteiras pelas finanças se intensificou, como mostram múltiplos indicadores. Os ativos totais do setor bancário mais do que duplicaram, desde a década de 1990, na maioria dos países, com picos de mais de 300% do Produto Interno Bruto (PIB) em algumas economias da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O Relatório da UNCTAD estima que os ativos do setor bancário em países desenvolvidos chegam a 100 trilhões de dólares, o que agora excede a renda global. De forma semelhante, as tendências para economias em desenvolvimento e em transição mostram picos acima de 200% do PIB em alguns casos.

Um exemplo claro e a perda de renda da classe media brasileira nos últimos 2 anos frente a uma década de ganho .

Os mecanismos são complexos e variam de país para país, mas o resumo da história é simples: a "grande escapada" dos rendimentos no topo da pirâmide produz subconsumo, dívida privada e investimento especulativo .
A crescente concentração dos mercados – com consequências potencialmente corrosivas para o sistema político – é uma das questões centrais do relatório.
Enquanto os governantes continuarem a brandir a bandeira da austeridade e a avaliar o sucesso das políticas pelo preço dos ativos e pelos níveis de lucro, com setores vitais sob o domínio do grande negócio, as já significativas desigualdades poderão se agravar.
Sim, existe uma alternativa

- Pôr fim à austeridade por meio de investimento público, programas que aprimorem a infraestrutura e gerem emprego com renda .
- Aumentar a receita governamental: um maior recurso a impostos progressivos (inclusive sobre a propriedade e renda) pode combater a desigualdade social. Reduzir isenções , brechas fiscais e os subsídios.
- Estabelecer um novo registro financeiro global, identificando a propriedade de ativos financeiros, como primeiro passo para a taxação equitativa.
- Aumentar os salários e diminuir a insegurança no emprego .
- Domar o capital financeiro: regular de forma apropriada o setor financeiro, desde o private banking até os produtos financeiros “tóxicos”.
- Melhorar a capitalização dos bancos de desenvolvimento multilaterais e regionais.
- Manter o controle sobre o “rentismo” e combater práticas comerciais restritivas .

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