29 de nov. de 2020

Não consigo tirar meus olhos

 Dedilhando minha dor a cada degrau do agulheiro.

Me matando suavemente com sua carga.

Contando minha vida inteira

Eu senti toda a força do tempo no meu rosto.


Continuo olhando através da boca do agulheiro

como se eu não estivesse lá.


Faz 8 messes que você vem procurando e levando

o estivador para longe de sua família.

Agindo como o cevador você não deu hipótese a vida na beira do cais.


Não consigo tirar meus olhos das memórias.

Desde que você atracou neste porto.

Agradeço à Deus por estar vivo.

Perdoe o jeito com que desabafo.

Não há palavras para descrever.

Perdoe o jeito que encaro.

Não há nada que se compare.


Não consigo tirar meus olhos das memórias.

A batalha da fê, os bates papos na parede.

A correria na beira do cais.

Os argumentos para agilizar a operação no porão.


Incerteza e um balança real da vida na estiva

Agora na pandemia o anjo vem todo dia.

Numa circunstância louca.


O mundo parece tão pequeno.

A pandemia veio pelo mar e pelo céus.

Ainda não há cura

A máscara e o álcool em gel fazem parte da minha identidade.


De olhar para o cais religiosamente

Ao entrar para fazer lingada.

Tenho que encontrar a paz de espírito.

Constantemente me prendendo, me segurando.


Dedilhando minha dor a cada degrau do agulheiro.

Me matando suavemente com sua carga.

Contando minha vida inteira

Eu senti toda a força do tempo no meu rosto.


Me mantendo na beira do cais

encontro minha mente.

Num Filme passa tudo.

Que alegria é estar vivo!

Para poder fazer minha lingada.

Honrando os que a pandemia levou.

Pedindo proteção para o ganha-pão de cada dia e que todos 

os tpas vão para seu trabalho e voltem para o aconchego de sua família.

Nenhum comentário:

Postar um comentário