Sem convite, sem sapatos de cristal e sem carro alegórico, os bagrinhos do Porto de Bilbau aproximaram-se da sala árabe da Câmara Municipal de Bilbau para a recepção que foi dada à Associação de Agentes de Navios e Estivadores (ACBE) por ocasião do centenário de sua criação. Onde Inclusive os trabalhadores compartilharam sua situação com alguns de seus ilustres membros.
O desabafo.
Levei a porrada minha vida inteira na precariedade do trabalho, sim. Comecei trabalhando preto aprendendo o ofício de pintor, descendo sacos de escombro e subindo sacos de areia e cimento. Compaginei com arranjos de computadores e projetos diversos. Meu próximo trabalho foi elenco de propaganda e guias, onde tive a sorte de trabalhar com pessoas de todo o campo social (O que te ajuda a ter uma perspectiva muito ampla de realidades). Quando finalmente consegui ser estivador continuei bem fodido (no primeiro ano trabalhei e cobrei 30 dias). Tive que dar aulas de guitarra ao domicílio, pintar, caixa de correio e coisas que eu guardo para mim... Hoje depois de 14 anos, estou mais fora do porto do que dentro, muito cansado e derrotado, com um sentimento de abandono e de uma traição terrível.
E na música, que posso contar, toquei com os melhores e em
lugares que muitos sonhariam, mas também na merda da lama, em lugares e condições
que nunca tocariam. Eu gravei em muitos estúdios (os bons e não tão bons) e com
músicos de meio mundo. Eu compus e consertei cerca de 200 músicas espalhadas
por alguns discos e tocando acho que vou passar das 500 atuações, sem contar a
infinidade de vídeos de rua, videoclipes, sessions... Fazendo malabarismo e
acrobacias para poder financiar certos discos e músicas, colocando a saúde em
risco, até mesmo a vida na estrada... ganhando dezenas de inimigos e bons
amigos...
Não sei se tudo isso me fez melhor ou pior pessoa, mas se
construiu minha realidade e mantive os pés na terra. Eu sei o que sou, um
humilde, mas orgulhoso TRABALHADOR.
No dia 3 de fevereiro, convocados pela presidência da
autoridade portuária do porto de Bilbau, reunimo-nos na qual no "argot
portuário" é conhecido como A Selva de Cristal e expusemos a situação
limite que vivemos os estivadores eventuais (bagrinhos) e suas famílias após 14
anos de precariedade no trabalho.
O mercado de todos os países festejaram a reforma trabalhista é na Espanha não seria diferente. Mas esta reforma abrangente do mercado de trabalho levou o, pais a ser o país mais precário da Europa Ocidental, com salários muito baixos e condições de trabalho draconianas, com o preço da habitação e outros bens básicos em alta uma lástima, não só para as questões humanas e sociais, mas, sobretudo, econômica. Quem vive precariamente dificilmente paga impostos e consome muito pouco.
Por este motivo e por vários exemplos da aplicação deste
procedimento operacional de espirito empresarial. Na Espanha se voltou atras
para banir a inquietação que a precariedade tem causado em várias gerações de
trabalhadores espanhóis. Corrigindo decididamente essa temporalidade excessiva,
numa rotina perniciosa que explica o fato de no porto de BILBAU ter
trabalhadores há 14 anos sendo bagrinhos.
Então como reverter os instrumentos que mantém um estivador nesta situação e contribuir para a melhoria das condições de trabalho neste porto. Nesse sentido, as empresas, em sua maioria associada ou simpatizantes da Asoport, devem deixar de utilizar trabalhadores de outras áreas econômicas, trabalhistas e condições de trabalho. E devolver as tarefas de recepção/partida de navios. Além de serem revistas as sentenças judiciais proferidas nos últimos anos que precarizam o trabalho na beira do cais deste porto em questão.
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