5 de fev. de 2022

A Reforma Espanhola dará dignidade aos bagrinhos de Bilbau.

 Sem convite, sem sapatos de cristal e sem carro alegórico, os bagrinhos do Porto de Bilbau aproximaram-se da sala árabe da Câmara Municipal de Bilbau para a recepção que foi dada à Associação de Agentes de Navios e Estivadores (ACBE) por ocasião do centenário de sua criação. Onde Inclusive os trabalhadores compartilharam sua situação com alguns de seus ilustres membros.

O desabafo.

Levei a porrada minha vida inteira na precariedade do trabalho, sim. Comecei trabalhando preto aprendendo o ofício de pintor, descendo sacos de escombro e subindo sacos de areia e cimento. Compaginei com arranjos de computadores e projetos diversos. Meu próximo trabalho foi elenco de propaganda e guias, onde tive a sorte de trabalhar com pessoas de todo o campo social (O que te ajuda a ter uma perspectiva muito ampla de realidades). Quando finalmente consegui ser estivador continuei bem fodido (no primeiro ano trabalhei e cobrei 30 dias). Tive que dar aulas de guitarra ao domicílio, pintar, caixa de correio e coisas que eu guardo para mim... Hoje depois de 14 anos, estou mais fora do porto do que dentro, muito cansado e derrotado, com um sentimento de abandono e de uma traição terrível.

E na música, que posso contar, toquei com os melhores e em lugares que muitos sonhariam, mas também na merda da lama, em lugares e condições que nunca tocariam. Eu gravei em muitos estúdios (os bons e não tão bons) e com músicos de meio mundo. Eu compus e consertei cerca de 200 músicas espalhadas por alguns discos e tocando acho que vou passar das 500 atuações, sem contar a infinidade de vídeos de rua, videoclipes, sessions... Fazendo malabarismo e acrobacias para poder financiar certos discos e músicas, colocando a saúde em risco, até mesmo a vida na estrada... ganhando dezenas de inimigos e bons amigos...

Não sei se tudo isso me fez melhor ou pior pessoa, mas se construiu minha realidade e mantive os pés na terra. Eu sei o que sou, um humilde, mas orgulhoso TRABALHADOR.

 


 

No dia 3 de fevereiro, convocados pela presidência da autoridade portuária do porto de Bilbau, reunimo-nos na qual no "argot portuário" é conhecido como A Selva de Cristal e expusemos a situação limite que vivemos os estivadores eventuais (bagrinhos) e suas famílias após 14 anos de precariedade no trabalho.

O mercado de todos os países festejaram a reforma trabalhista é na Espanha não seria diferente. Mas esta reforma abrangente do mercado de trabalho levou o, pais a ser o país mais precário da Europa Ocidental, com salários muito baixos e condições de trabalho draconianas, com o preço da habitação e outros bens básicos em alta uma lástima, não só para as questões humanas e sociais, mas, sobretudo, econômica. Quem vive precariamente dificilmente paga impostos e consome muito pouco.

Por este motivo e por vários exemplos da aplicação deste procedimento operacional de espirito empresarial. Na Espanha se voltou atras para banir a inquietação que a precariedade tem causado em várias gerações de trabalhadores espanhóis. Corrigindo decididamente essa temporalidade excessiva, numa rotina perniciosa que explica o fato de no porto de BILBAU ter trabalhadores há 14 anos sendo bagrinhos.

Então como reverter os instrumentos que mantém um estivador nesta situação e contribuir para a melhoria das condições de trabalho neste porto. Nesse sentido, as empresas, em sua maioria associada ou simpatizantes da Asoport, devem deixar de utilizar trabalhadores de outras áreas econômicas, trabalhistas e condições de trabalho. E devolver as tarefas de recepção/partida de navios. Além de serem revistas as sentenças judiciais proferidas nos últimos anos que precarizam o trabalho na beira do cais deste porto em questão.

 Uma coisa e certa essa reforma vai ajudar? Muitos dizem que é meramente cosmético, pois, ao não revogar a reforma trabalhista de 2012, faz com que essa reforma se consolide e seja mais complicado modificá-la no futuro.

 Mas algo muda. A reforma é insuficiente, mas é um primeiro passo, no qual defende os direitos dos trabalhadores, e pelo menos é um pequeno passo para enfrentar os dois cânceres do sistema de trabalho: desemprego e o emprego temporário. Acredito que não seja hora de comemorar e nem de soltar fogos de artifício, mas de exigir, que os bagrinhos de BILBAU sejam estivadores com todo respeito social que um cidadão espanhol necessita.

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