‘Álbum portuário: as figurinhas da beira do cais

 Tem cromo de operador de bordo, craque no olhar na boca do porão, do ex-presidente eterno, da picareta de isopor e, claro, do carregador de mala da MP dos porcos, e como todo álbum muita figurinha repetida.

O menino criado no pé do morro, no Jabaquara, junto a curva da onça, João, comoveu os parceiros do terno de sua turma, por transformar seu primeiro salário de carteira preta em doces, na casa rios e dar para as crianças nas ruas. E somente após os 30 anos começou a colecionar as figurinhas da copa do mundo e de seu clube de coração.

 No país de aparências onde o agro vive da benesse do estado, qualquer troco faria a diferença para a sociedade. O trabalho avulso foi o primeiro empreendedorismo do trabalhador, que transforma seu suor em dignidade social e compromisso coletivo econômico com seus vizinhos. Voltando a Glória, do álbum portuário, o tumulto em busca da “Legends”, se forma até agora na espera de ter um bagrinho ou o contra mestre geral. No bairro do Macuco e da Areia Branca , em Santos, o corre-corre é para ser o cara a postar nas redes sociais o feito, sob o olhar invejoso dos demais garimpeiros, uma “ostentação”.

 

Mais quais são os personagens do álbum portuário . A começar por uma figurinha fácil: o especialista portuário, craque em respostas curtas e automatizadas, sempre na mídia contando história. Outra e o sindicalista amarelo um conciliador que defende a ideia do patrocinador. Assim claro tem os cargos: o gestor portuário, supervisor, o da casa, guarda portuário, amarrador, conferente, colaborador, do bloco, consertador, caixeiro, tratorista, técnico de segurança, mecânico, doqueiro, guindasteiro, portaló, vigia e os lingadeiros: Benigmo Pulga, Mão de Onça, Cabelo duro, Helio Bomba, Silvio Pisca,  Motademostenes, Don Simão, Das Cabras, Pagão, PH, capoeira, cebolinha e o 3 corações. Uma figurinha rara e o lingadeiro, músculo da turma, xerife do terno, primeiro cartão na batalha da fe na parede, os “Legends” da beira do cais.

Manjada desde a lei de modernização portuária Lei 8630 de 1993, o OGMO segue como a figurinha que só muda o porto, mas tem o mesmo patrão. Os cromos de várias cargas que são suspensas nos portos em terminais mecanizados.

Vamos abrir mais um pacote. Saiu ele, o eterno sindicalista, sempre ao lado do homem de confiança do acionista, um guincheiro, um doqueiro e um conferente. No segundo pacotinho vem dois operadores de bordo, um OGMO e o tratorista. No terceiro, dois colaboradores, um do bloco e um guarda portuário.

 Difícil mesmo, diria impossível, é tirar o cromo de um lingadeiro, baluartes da beira do cais.

Claro não posso esquecer, que  o Brasil não e um pais para principiantes e na área portuária não seria diferente, por isso o álbum e dividido em duas partes a do porto organizado e do porto desorganizado divididos pela muralha invisível  “a linha da poligonal”.

Para facilitar os pais e avos a locais nos bairros da comunidade portuária , bancas, praças e garagens para trocar figurinhas repetidas.

O que se vê no local de aguardo para a margem esquerda do porto, companheiros jogando bafo e contando histórias sobre as proezas dos lingadeiros, mas também se vê o fator, mas presente na beira do cais a solidariedade, com a generosa atitude de dividir os cromos raros “Legends” na roda de amizade.