O portuário ficou pobre
(e trabalhou mais)
O sanduíche de ovo enfeitado - pão, ovo e uma folha de alface - passou a ser um dos pratos mais populares no Porto de Santos. Geralmente é acompanhado de uma Caracu, ou meia cerveja, ambas sempre "estupidamente" geladas. O trabalhador portuário, seja ele de capatazia ou avulso, não tem mais o poder aquisitivo de 16 anos atrás, quando podia entrar em qualquer restaurante, principalmente aqueles instalados na faixa portuária, e pedir um prato sofisticado.
(e trabalhou mais)
O sanduíche de ovo enfeitado - pão, ovo e uma folha de alface - passou a ser um dos pratos mais populares no Porto de Santos. Geralmente é acompanhado de uma Caracu, ou meia cerveja, ambas sempre "estupidamente" geladas. O trabalhador portuário, seja ele de capatazia ou avulso, não tem mais o poder aquisitivo de 16 anos atrás, quando podia entrar em qualquer restaurante, principalmente aqueles instalados na faixa portuária, e pedir um prato sofisticado.
A lagosta - que ficou famosa no Chave de Ouro - considerada uma das melhores da América Latina, passou a ser um prato exclusivo dos sofisticados restaurantes da orla da praia.
O trabalhador portuário come arroz com feijão.
Essa diminuição considerável no poder aquisitivo começou em 1965, atingindo principalmente os empregados da Companhia Docas de Santos. Até então, trabalhar na empresa era uma espécie de ideal, uma chance de fazer carreira, garantir bons salários e cargos importantes, bastando paciência e muito trabalho.
Essa diminuição considerável no poder aquisitivo começou em 1965, atingindo principalmente os empregados da Companhia Docas de Santos. Até então, trabalhar na empresa era uma espécie de ideal, uma chance de fazer carreira, garantir bons salários e cargos importantes, bastando paciência e muito trabalho.
Os trabalhadores avulsos - conferentes, estivadores, consertadores e vigias - também sofreram o mesmo problema, só que em menor intensidade. Afinal, não são empregados de ninguém, seus sindicatos não estão atrelados a uma só empresa, mas às agências de navegação. Conseqüentemente, suas lideranças têm maior capacidade de penetração política junto aos órgãos federais.
Isso não significa que eles tenham hoje um bom poder aquisitivo. Ganham salários razoáveis, mas para isso são obrigados a trabalhar horas seguidas, enfrentar jornadas diurnas e noturnas consecutivas, única fórmula de aumentar os ganhos, sem uma garantia salarial no fim do mês.
Isso não significa que eles tenham hoje um bom poder aquisitivo. Ganham salários razoáveis, mas para isso são obrigados a trabalhar horas seguidas, enfrentar jornadas diurnas e noturnas consecutivas, única fórmula de aumentar os ganhos, sem uma garantia salarial no fim do mês.
Os empregados da Companhia Docas nem mesmo essa possibilidade encontram. Vivem de salários engordados com horas extras, trabalhos noturnos, aos domingos e feriados, e presos aos reajustes semestrais e dissídios coletivos anuais. Seu poder aquisitivo foi diminuindo, perdendo terreno para a inflação. A cada ano que passa eles ganham menos e, conseqüentemente, consomem menos.
Há aproximadamente 20 anos a simples apresentação de uma carteira preta - documento da estiva - era mais do que suficiente para a abertura de crédito, para garantir pagamentos em dia. Os próprios empregados da CDS tinham orgulho de mostrar suas carteiras funcionais a gerentes e lojas e bancos, conscientes de que ela lhes conferia status. Todos tinham orgulho de trabalhar na CDS.
Com a Revolução de 1964, os papéis sofreram uma reviravolta. A partir de 1966, os empregados da concessionária perderam regalias conquistadas em 1934 e 1937, resultado de uma nova política salarial.
Há aproximadamente 20 anos a simples apresentação de uma carteira preta - documento da estiva - era mais do que suficiente para a abertura de crédito, para garantir pagamentos em dia. Os próprios empregados da CDS tinham orgulho de mostrar suas carteiras funcionais a gerentes e lojas e bancos, conscientes de que ela lhes conferia status. Todos tinham orgulho de trabalhar na CDS.
Com a Revolução de 1964, os papéis sofreram uma reviravolta. A partir de 1966, os empregados da concessionária perderam regalias conquistadas em 1934 e 1937, resultado de uma nova política salarial.
Assim, os estudos realizados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos - DIEESE -, em 1978, demonstram que os reajustes deixaram de acompanhar a evolução do custo de vida. O poder aquisitivo do funcionário da CDS caiu em 1966, 67, 68, 69, 72, 74 e 77, apresentando pequenas recuperações apenas em 1970, 75 e 76. Antes de sofrer o reajuste de 1977, o salário real de cada trabalhador representava apenas 48% do poder aquisitivo que ele desfrutava em 1965.
Portanto, para que cada salário voltasse ao mesmo poder de compra daquele ano (1965), seria necessário um reajuste de 108% sobre os índices de 1977.
Isso sem se levar em consideração a produtividade. Nesse caso, para se evitar que a distribuição de renda fosse feita em prejuízo do operário portuário, existia a necessidade de que os salários, além de manter determinado poder de compra, incorporassem os aumentos de produtividade. Os estudos realizados pelo DIEESE mostram que os dois - salário real e produtividade - comportaram-se, ao longo destes 15 anos, em sentido contrário: enquanto a produtividade aumentava, os salários decresciam. Assim, para que esses salários passassem a incorporar os ganhos de produtividade relativos ao período de 1965 a 1977, os trabalhadores precisariam ter um aumento de 308 por cento.
Esses estudos vão mais longe ainda.
Isso sem se levar em consideração a produtividade. Nesse caso, para se evitar que a distribuição de renda fosse feita em prejuízo do operário portuário, existia a necessidade de que os salários, além de manter determinado poder de compra, incorporassem os aumentos de produtividade. Os estudos realizados pelo DIEESE mostram que os dois - salário real e produtividade - comportaram-se, ao longo destes 15 anos, em sentido contrário: enquanto a produtividade aumentava, os salários decresciam. Assim, para que esses salários passassem a incorporar os ganhos de produtividade relativos ao período de 1965 a 1977, os trabalhadores precisariam ter um aumento de 308 por cento.
Esses estudos vão mais longe ainda.
Chegam à conclusão de que no período de 1965 a 77, o poder aquisitivo dos portuários empregados da CDS foi reduzido em 45 por cento, ou seja, de 100 para 55. O salário nominal cresceu no mesmo período em apenas 28 vezes - 100 para 2.807 -, considerando-se o reajuste de janeiro de 1978. Paradoxalmente, a produtividade desses mesmos trabalhadores cresceu em 98%, provando que cada um vem produzindo cada vez mais, em troca de salários cada ano menores, deteriorando continuamente a sua condição e a qualidade de vida.
Os reajustes salariais fixados pelo Conselho Nacional da Política Salarial - CNPS - provam que esse fenômeno agravou-se muito nos últimos 15 anos. Em 1965, os aumentos foram de 57%, diminuindo para 27%, cinco anos mais tarde. Os dois menores aumentos registrados nesse período foram em 1973/74, fixados respectivamente em 19,6 e 17,07%. No ano seguinte, 1975, o índice foi de 43 por cento, o mesmo conseguido em 1979.
Portanto, o comportamento da política salarial a partir de 1964 vem refletindo diretamente na vida econômica da Cidade.
Os reajustes salariais fixados pelo Conselho Nacional da Política Salarial - CNPS - provam que esse fenômeno agravou-se muito nos últimos 15 anos. Em 1965, os aumentos foram de 57%, diminuindo para 27%, cinco anos mais tarde. Os dois menores aumentos registrados nesse período foram em 1973/74, fixados respectivamente em 19,6 e 17,07%. No ano seguinte, 1975, o índice foi de 43 por cento, o mesmo conseguido em 1979.
Portanto, o comportamento da política salarial a partir de 1964 vem refletindo diretamente na vida econômica da Cidade.
Mais de 100 mil homens que mantêm uma ligação direta com o porto sofreram as conseqüências das constantes diminuições do poder aquisitivo de seus salários. E consumiram menos, provocando uma queda razoável no comércio local. O trabalhador portuário foi obrigado a deixar de lado o orgulho e a se dedicar mais ao trabalho, aumentando a produção e vendo pratos como a lagosta, cada dia mais inacessíveis. Ela foi substituída pelo sanduíche de ovo enfeitado, e nem poderia ser de outra forma.
O trabalhador do porto, nestes últimos 15 anos, ficou cada dia mais pobre. Mas seu patrão, cada dia mais rico
Fonte site novo milênio
Mesmo com anos de distancia continua um assunto atual .
O trabalhador do porto, nestes últimos 15 anos, ficou cada dia mais pobre. Mas seu patrão, cada dia mais rico
Fonte site novo milênio
Mesmo com anos de distancia continua um assunto atual .
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