A realidade vivenciada pelos trabalhadores não deve ser ponto de partida para críticas taxativas a estes serviços
e seus profissionais; deve funcionar como elemento instigador para uma prática problematizadora no sentido da aprendizagem e também da reflexão sobre a
produção .É importante que a condução de qualquer análise sobre a relação entre ensino e serviço não busque culpados.
Afinal, o que vemos
acontecer hoje nos cenários onde se desenvolvem as práticas de formação é fruto
de anos de construção que foi traçada, conduzida e consolidada em direções
diferentes, com interesses diversos, embora nem sempre antagônicos.
O currículo integrado valoriza o espaço de
articulação entre ensino, serviço e comunidade como cenário do processo
ensino-aprendizagem, devendo o trabalhador refletir sobre sua ação e a realidade
em que está inserido, buscando problematizar o seu cotidiano, tomando o que tem
para ser aprendido como mola propulsora do processo de formação, na perspectiva
de uma aprendizagem crítica e reflexiva.
Se considerarmos que os cenários de aprendizagem
são de potencial importância como locus da formação, espaços
privilegiados para a incorporação da integralidade no processo de
ensino-aprendizagem, a redefinição das práticas e estágios e do seu local de
desenvolvimento ganha importância como professores profissionais da area .
Mas também precisam ser olhados pelos gestores e atores do
processo de produção como espaço concreto em que as mudanças podem
acontecer mutuamente, influenciando e trazendo novos sentidos às suas práticas.
O momento de imersão do estudante no cotidiano dos
serviços pode trazer recursos riquíssimos para o aprendizado da
organização dos processos de trabalho e gestão.
Devem-se aproveitar as
experiências vivenciadas e observadas nos serviços durante as aulas práticas e
estágios, como momento pedagógico, para refletir sobre a prática do que
ali é produzida e suas repercussões. É preciso trazer sentidos para a maneira como se
organiza e desenvolve naquele espaço.Neste sentido a formação a partir do processo de
trabalho. A formação deveria ter como objetivos a transformação das práticas
profissionais e da própria organização do trabalho e estruturar-se a partir da
problematização do processo de trabalho e sua capacidade de dar entendimento às várias dimensões e necessidades.
A melhor síntese para essa
designação à educação dos profissionais é a noção de integralidade, pensada
tanto no campo da atenção, quanto no campo da gestão de serviços e sistemas.Quando discutimos as mudanças que se fazem cada vez
mais necessárias no processo de formação na área , torna-se essencial que
também nos esforcemos por introduzir a discussão de forma mais solidária e
companheira sobre as necessidades de mudança na organização dos serviços e de
como, na articulação essencial entre os dois mundos da educação e do trabalho , temos que definir
princípios e valores éticos acerca da qualidade dos serviços prestados na área. Percebesse
a necessidade de um olhar mais elaborado para a questão da interseção entre
trabalho e educação, em que os conflitos dispositivos de poder na construção de
modelos e na relação trabalhista presentes nessa interação se devem, parcialmente, aos objetivos e intenções que movem os dois processos.
O processo educacional na formação dos profissionais deve ter em vista o desenvolvimento tanto de capacidades gerais, quanto as
especificidades .
Entretanto, todo processo educacional
deveria ser capaz de desenvolver as condições para o trabalho em conjunto
valorizando a necessária interdisciplinaridade para a composição de uma atenção que se desloque do eixo - recortado e reduzido - corporativo-centrado, para
eixo - plural e complexo - usuário-centrado.As propostas de formação e de exercício do trabalho
em equipe multiprofissional já estão colocadas como realidade em nossa
sociedade para a área, não cabendo legitimidade a qualquer apelo em contrário.
Prova disso é a constância da designação do trabalho em equipe em qualquer
circunstância propositiva de elevação da qualidade do trabalho e da formação.
Este movimento de interseção na equipe multiprofissional
teria, nos recursos e instrumentos de conhecimentos e atos de uma profissão, a
oportunidade de compor e inventar a intervenção coletiva, constituindo-se cada
desempenho ampliado ou modificado em um desempenho protegido pela condição da
equipe.No aspecto da formação e das ações profissionais às
transformações devem se dar simultaneamente nos dois processos.
Algumas questões, que se apresentam com frequência, se referem ao modo como os profissionais da área não vivenciam, ao longo de sua
formação, estratégias que articulem suas atividades e saberes com as dos outros
profissionais da equipe. Sempre é referido como um dos momentos de dificuldade, quando se iniciam as atividades profissionais, o aprendizado em que se torna
necessário compartilhar com outros profissionais os espaços de atuação e os
sujeitos daquela atuação.
O
aprendizado gera, muitas vezes, situações extremamente conflituosas diante disso, torna-se ainda mais significativo colocar o trabalhador no centro do debate, pois
assim é possível criar um terreno comum para o diálogo.
O espaço de interseção entre serviço e formação é
rico em possibilidades para a produção de novos saberes e práticas e também
para a aquisição de condutas interprofissionais na produção.
Fonte
A integração ensino-serviço no
contexto dos processos
de mudança na formação superior dos profissionais
Nenhum comentário:
Postar um comentário