As condições de trabalho segundo os portuários
O porto é descrito nas falas dos trabalhadores como local
perigoso, com grande ocorrência de acidentes, alguns até fatais. Os
trabalhadores atribuem este risco à organização do trabalho, já descrita, e às
condições muito heterogêneas sob as quais ele é realizado cotidianamente.
Estas
condições relacionam-se a dois aspectos: as equipes constituídas para a
realização das atividades 'ternos e as condições diversas e precárias de
muitos navios, máquinas e equipamentos.
Sobre a constituição das equipes, os trabalhadores ressaltam o
necessário entrosamento para a condução de uma atividade reconhecida como de
trabalho coletivo, que pressupõe confiança nos parceiros como companheiros de
equipe e segurança quanto às habilidades técnicas de cada um na atividade
executada. Apontam, também, para a dimensão corporativa e legalizada para o
exercício da função, alegando que muitos terminais não respeitam a lei contratando trabalhadores sem cadastro no OGMO, portanto não habilitados, mas para estes tem treinamento e formação para os trabalhadores inscritos nos Ogmo não. Isto, segundo estes, explica grande parte dos acidentes que ocorrem em razão de
desqualificação e inexperiência. Em
consonância com estudos os entrevistados, vinculados a diferentes categorias
profissionais, mencionaram acidentes envolvendo lesões de membros superiores e
inferiores nas movimentações de cargas em contêineres, atropelamentos devido a
um fluxo intenso na faixa do cais por caminhões e máquinas empilhadeiras, quedas e fraturas nas atividades de arrumação e transbordo realizado nos porões e conveses das embarcações devido ao
piso escorregadio, principalmente quando há neblina, chuva e/ou pouca
visibilidade.
“Muitas vezes, quando
chove, você fica seis horas encharcado com a roupa e seis horas com a bota
encharcada” (Alberto, capataz).
“Contêiner é o que trabalha menos, mas só que arrisca a vida bem mais... se der uma vacilada você cai lá de cima, ai já era...” (André, estivador).
“Todo dia a gente vê acidente... é nego
perdendo os dedos, machucando a perna, caindo das escadas...” (Josias, estivador).
" Você disputa uma vaga de conferente quando tu vai ver quem fico com a vaga foi a mina da portaria , que ficava na portaria pra pegar minha pule e meu crachá " (Jorge estivador )
" Você disputa uma vaga de conferente quando tu vai ver quem fico com a vaga foi a mina da portaria , que ficava na portaria pra pegar minha pule e meu crachá " (Jorge estivador )
Somadas a estas
condições concretas para o exercício do trabalho deve-se considerar a
imprevisibilidade. Esta é exemplificada pela dificuldade de conseguir trabalho, apesar de lhes ser exigido à disponibilidade de tempo para conseguir encaixe
nas equipes, ou como eles referem o 'vai e volta de casa para o trabalho', pela
variação de turnos (dia-noite) das jornadas, pela necessidade, para alguns, de
duplicar a jornada de trabalho para aumentar os ganhos, entre outros.
Este
quadro está relacionado com a ocorrência de uma série de problemas de saúde .
O contexto da modernização portuária também foi
mencionado pelos entrevistados que,
em média, trabalham no Porto de Santos há
mais de quatorze anos. Este elemento de temporalidade implicou em falas
comparativas acerca dos dois momentos históricos:
o antes e o depois da
modernização dos portos 1993. Há um
reconhecimento de avanços no que diz respeito ao acesso mais igualitário ao
exercício do trabalho, que anteriormente era controlado e organizado pelo
sindicato, e aos direitos trabalhistas correspondentes às férias, décimo
terceiro salário, fundo de garantia, contribuição previdenciária, além de
receberem o pagamento das diárias em até 48 horas após realizarem o
serviço.
Outros benefícios apontados
advindos com a implantação do OGMO foram:
o aumento das movimentações de cargas
e navios, ainda que esse aumento não se reflita
em possibilidade de trabalho
para todas as categorias, a modernização das máquinas em alguns terminais e o
fim da chamada hierarquia sindical que regulava o acesso ao trabalho.
“Acredito que melhorou, porque regularizou a
situação, deu a oportunidade de mais gente trabalhar, oportunidade de giro, porque senão fica aquela coisa de camaradagem mesmo” (Marcos, estivador).
“Antes tinha uma discriminação quanto à
qualificação dos trabalhadores na escolha das máquinas para trabalhar, os mais
jovens, a força supletiva das Docas, sempre ficavam com as piores máquinas, as
que sobravam” (Leopoldo, operador).
"Na época da marinha os instrutores eram portuários com experiência , com o Ogmo veio os seus amigos , engenheiros e advogados e são eles que são os instrutores do PDP da OIT mesmo sem nunca terem trabalhado no cais e como um o antílope ensinar o Leão como ele tem de agir na caça" (Roberto Guindasteiro )
"Na época da marinha os instrutores eram portuários com experiência , com o Ogmo veio os seus amigos , engenheiros e advogados e são eles que são os instrutores do PDP da OIT mesmo sem nunca terem trabalhado no cais e como um o antílope ensinar o Leão como ele tem de agir na caça" (Roberto Guindasteiro )
Contudo, sobressai
das falas dos trabalhadores insatisfações quanto à existência de vários
terminais com equipamentos em condições precárias de operação e a não
fiscalização pelo OGMO dessas situações de exercício profissional.
Mencionam
também redução de renda valor das diárias o que acarreta tratar o trabalho
portuário como fonte secundária de ganho ou estar presente na “parede” com
maior frequência visando aumentar as possibilidades de obter trabalho.
É importante considerar que os ganhos por
produção no trabalho portuário podem condicionar comportamentos de risco ao
fazer o trabalhador ultrapassar muitos limites de segurança visando obter
melhores ganhos.
FONTE Ethos masculino, trabalho e cuidado à saúde entre
portuários de Santos/SP
Rosana Machin , Márcia Thereza Couto,
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