22 de dez. de 2013

O verdadeiro Custo Portuário

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 JOÃO, UMA HISTÓRIA DE VIDA NA ESTIVA

            João dos Santos Oliveira é imigrante nascido na cidade do Porto
 Portugal. Chegou ao Brasil em 1954 com apenas dois anos de idade em companhia de sua mãe.
 Trabalha há 23 anos na estiva. É casado, têm 3 filhos e netos.
O pai havia chegado ao Brasil dois anos antes e lhes enviou a carta de chamada obedecendo 
à política de imigração da época.Do início de sua vida no Brasil, 
Já rapaz, sua história é marcada pela intervenção oficial naquele local. 

 Foram morar em Duque de Caxias, na baixada Fluminense. Apesar disso, nunca abandonou a Zona Portuária. Casou-se com uma mulher brasileira e foi morar com a mãe, em Caxias.
                              
            Trabalhar na estiva era o destino imediato dos rapazes moradores do Cais, principalmente de imigrantes portugueses.

(...) Antigamente  você para entrar na estiva, era uma coisa de família, você botava um filho, botava um sobrinho, você tinha uma responsabilidade por aquela pessoa. 
Se a pessoa cometesse qualquer deslize, qualquer coisa... Por exemplo, quem me botou lá? Eu entrei pela Capitânia, mas se fosse um parente, um pai, se eu cometesse uma falha qualquer a cobrança não vinha a mim, a cobrança vinha na pessoa que me indicou, num parente, o parente me chamava, era uma coisa até mais respeitada do que é hoje. Hoje não, hoje não é tão respeitada como antes. 
Então, quer dizer, a Capitania ela botava um percentual de pessoas 
e o sindicato botava os outros. Eu fui na Capitania, fui indicado por uma pessoa, procurei a dona Maria e ai conversei com ela e tal. Ela me concedeu a inscrição, mandou que eu fosse fazer uns exames de saúde. Fui fazer exame de saúde, passei, ai peguei a carteirinha do candidato, você não entra como associado, entra como candidato. Nós saímos na falta do associado.
 Por exemplo, o associado efetivo não queria aquele determinado trabalho, 
que era um trabalho brabo, um trabalho penoso, então quem ia éramos nós, nós candidatos, e você tinha que angariar envelopes, quanto mais envelopes você fizesse
 quando chegasse a um determinado número, na época que fosse botar pessoas para efetivar o quadro, aqueles que tivessem o maior número de envelopes é que entravam... envelope significa o seguinte: por exemplo, quanto mais dias de trabalho eu faço, eu tenho, eu concorro àquele cargo. Por exemplo, são trinta vagas, mais dias de trabalho, por exemplo. Uma suposição: tem trinta vagas. 
Aqueles trinta candidatos que tiverem o maior número de dias trabalho durante aquele período, naquele ano, é que são efetivados como associado. 
Ainda continua assim. (...) Olha, ele é penoso ainda. Você lida com vários tipos de carga, ainda mais agora essas cargas muito perigosas. Existe muita falcatrua no meio deles, com documentação. Às vezes você está carregando uma coisa e na realidade está carregando outra, você está carregando, descarregando...

Delegado junto à federação dos estivadores. João nos explica:
(...) que não é um cargo executivo; meu cargo é mais de ligação da federação ao sindicato, é esse elo, e você vai viajar muito, vai participar de reuniões, congressos, seminários, esse tipo de coisa.

João está na comunidade de estivadores,  há 23 anos .
O nosso sindicato administra mais os diretores, administra mais a reeleição deles, agora,  ver o dia a dia... pensa que está ganhando de um lado, mas está perdendo. 
Amanhã, quando ele sair da diretoria, vai sofrer a mesma coisa que nós sofremos,
 nós trabalhadores que não somos nada, nós chamamos “da roda de baixo”, 
na gíria nossa.

Nós nos reuníamos aqui em São Cristóvão, onde é a nossa federação, agora estão fazendo diferente, se reúnem então em cada lugar do sindicato: hoje é em Paranaguá, amanhã pode ser no porto de Santa Catarina, depois pode ser no Norte...

Levaram a federação para Brasília, alugaram um prédio, uma casa lá e fizeram a sede
. na época, o pessoal até achou que é bom, mas acho que não. Brasília não tem porto, você não tem como mobilizar, você não tem. Está havendo divergências nossas com o presidente da federação, ele quer se manter como dono, dono, não quer sair. Então se a federação estivesse num outro local, não quero que ela seja necessariamente no Rio, ela tem que ser num local onde tenha sindicato de estiva, onde tem uma base, ai a forma já seria diferente, você tinha uma pressão, você tinha como cobrar. O pessoal não vai sair daqui pra Brasília, o pessoal não tem dinheiro e é muito dispendioso.

(...) Foi por causa de um projeto de lei, que depois virou lei, virou a lei n. 8.630, que fala sobre a indenização portuária.
 Então na época era importante se ficar em Brasília quase que constante, você tinha que fazer lobby com os políticos, conversar com os ministros, esse tipo de coisa, 
passar pra eles o que é a realidade, o que é o trabalho de estiva
Porque os empresários falam de uma forma, eles falam que o estivador ganha muito bem, mas em cima da estiva eles ganham muito mais, só que as coisas estão mudando e não é só no Brasil, é no mundo todo. Antigamente, eles trabalhavam com a taxa de administração, e o que é taxa de administração? 
Você tinha uma agência portuária, formava uma agência portuária e angariava trabalho para os armadores, que são os donos dos navios.
 Ele trabalhava para a tua agência, então a despesa deu X, ele ganhava 10% em cima daquele X, então para ele quanto maior fosse a despesa maior era o ganho dele,
 então o que ele fazia? 
Ele fazia um bocado de falcatruas; nós pegamos documentos e mostramos lá em Brasília: cobravam dos armadores madeira por metro cúbico e ele usava três, 
quatro metros cúbicos e cobravam quinze, vinte, usavam dez trabalhadores, cobravam trinta, é super-faturamento que eles faziam. 
Ai no final, como a coisa lá foi mudando, ela foi acabando com isso, então eles agora estão se sentindo apertados, então os ganhos deles passaram a cair também, mas só que eles querem fazer de nós escravos, nós queremos isso para o país.

   Fonte Maia, Maria Manuela Alves – Colégio Pedro II

JOÃO, UMA HISTÓRIA DE VIDA NA ESTIVA

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