A cultura é uma estrutura
significativa interposta entre as circunstâncias e os costumes o que deixa
explicita a ordem simbólica na atividade material.
O trabalho, enquanto
atividade material e social, é produtor de símbolos construtores de
significados
Os esquemas culturais são por aí ordenados porque os significados
são reavaliados quando realizados na prática. O significado ou a
razão significativa é uma qualidade distintiva do homem não pelo fato dele
viver num mundo material, mas porque ao compartilhar com todas as forças que se
objetivam materialmente, o faz a partir de esquemas significativos criados por
si próprios.
A cultura não é expressão das formas de produção, pelo contrario, as formas de produção é que se desdobram em termos da cultura, ou seja, não é
mais a sua própria forma, mas incorporada como significado. As estruturas
significativas, produto da atividade material, são entendidas como o resultado
do conjunto de ações dos agentes interessados, expressam “a realização prática
das categorias culturais, em um contexto histórico” Na experiência dos estivadores elas foram
duplamente vivenciadas por um tipo de sociabilidade que inclui o comunitário e
o associativo.
A noção de comunidade implicando em sentimento de solidariedade que está vinculado a ordem emocional e a noção de associativismo vinculando a
união e equilíbrio de interesses racionalmente motivados em relação a valores e
resultados.
Dado o tempo em que foi vivida, tem raízes profundas.
As pessoas usam as ordens culturais para moldar sua construção e ação
no mundo e este, normalmente está sempre em consonância com elas.
Quando
ocorre uma transformação estrutural as pessoas tendem a reproduzir alguns
aspectos da cultura tradicional, pois consideram
que elas ainda estão em ação.
A consequência de ver o mundo através de sua
cultura é a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o
mais natural.
A cultura enquanto definidora de todo um modo de vida tem a
qualidade de conformar-se as pressões materiais a partir de significados
definidos que nunca são os únicos possíveis, que se multiplicam.
Nesse sentido
as implicações sociais da atual transformação, não estão inscritas no processo
tecnológico nem nas suas demandas por uma nova forma de organização do
trabalho, mas nas relações sociais que presidem a utilização de ambas, a forma
e significação criada pela transformação são articuladas sob a condição de
meios e fins.
As categorias culturais são colocadas em jogo e, nesse contexto, só se atualizam através de uma estrutura de reciprocidades que não está
inscrita no quadro da atual mudança, pois maior comprometimento com o trabalho, sem compensação financeira, e redução do contingente, são elementos
desestruturadores da sua cultura.
A
presença de um novo paradigma tecnológico e organizacional no porto ao
modificar o padrão de distribuição do trabalho, e demandar pelo surgimento de
um ‘novo trabalhador portuário’ agora com maiores habilidades cognitivas, multifuncional, e participativo, inaugura uma cultura de empresa que se opõe à
cultura portuária vigente. Sobrepondo a cultura anterior onde o Porto esta acima de seus arrendatários .
Experiência e
cultura são termos que reforçam o estatuto da ação humana.
A experiência traz
em si a descoberta da condição efetiva do homem na sociedade e só se revela
pelas vivências postas na vida cotidiana.
As adversidades, os estranhamentos, os inconformismos, vividos
pela experiência possibilitam cada um conhecer melhor a sua condição de vida.
A
experiência, portanto, é um conceito utilizado neste trabalho com o objetivo de
relacionar ação e cultura.
A cultura como experiência vivida compreende,
portanto, a luta dos trabalhadores no processo produtivo com a finalidade de
perceberem-se no interior da organização
do trabalho, onde as estruturas objetivas não são determinadas a priori e,
portanto, se apresentam como uma questão aberta, pelo fato de nascer da ação
desses trabalhadores ao mesmo tempo em que é condição dessa ação. São eles que
experimentam suas ações e relações produtivas determinadas como interesses,
necessidades e antagonismos, tratando-os em seguida em sua consciência e sua
cultura das mais complexas maneiras e em seguida agem, por sua vez, sobre sua
situação determinada.
A história do homem é caracterizada pela sua capacidade de
exercer domínio sobre a natureza,
procurando transformá-la em algo útil, e que
atenda às suas necessidades.
Esse controle ao longo da história vem se
complexificando e culmina hoje na busca do controle do trabalho através da
apropriação do seu conteúdo subjetivo. Isto implica numa transferência dos
saberes e fazeres dos trabalhadores para o espaço do capital.
Os conhecimentos
dos trabalhadores são incorporados aos elementos mecânicos do processo de
trabalho, através das máquinas.
A base técnica em transformação resulta na
constatação de que máquinas passam a sintetizar de modo sistêmico um conjunto
de tarefas anteriormente realizadas pelos trabalhadores.
Estes por sua vez
passam a se ajustar às características das máquinas.
O grau de liberdade e de
autonomia que estavam presentes nos processos anteriores, passa por nova
reconfiguração e o trabalhador perde a condição de sujeito do processo de
trabalho, transformando-se em objeto do processo de trabalho .
O controle sobre
conteúdo subjetivo do trabalho, torna-o mais concreto e possibilita o
desenvolvimento de melhores formas de planejamento, elemento necessário para a
estratégia competitiva das empresas.
Diante dessa realidade, o trabalho dos
estivadores que no passado se caracterizava pela atividade produtiva vinculada
à experiência prática e manual, vem sofrendo forte impacto com a transformação.
Há uma tensão permanente através da quais resistências e negociações estão
continuamente presentes.
As ações dos estivadores são motivadas pelos
contrastes e conflitos que daí emergem e quase sempre a análise sobre o
problema busca ênfase nos aspectos econômicos, materiais e estruturais que
revestem os conflitos.
Os conflitos se justificam, pois a reestruturação
produtiva a partir da conjuntura política e econômica da década de 70 do século
XX, analisada por GITAHY, LEITE e RABELO é um processo que se deu no marco de
um padrão de concorrência basicamente dirigido a um mercado interno em expansão onde o padrão de gestão da força de trabalho se caracterizava pela rotinização e formas predatórias de uso da força de
trabalho.
FONTE
TRANSFORMAÇÃO DO TRABALHO
E
A CULTURA DOS ESTIVADORES DE
SANTOS
João Carlos Gomes
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