5 de jan. de 2014

O que Representa os Estivadores Santistas 2


A cultura é uma estrutura significativa interposta entre as circunstâncias e os costumes o que deixa explicita a ordem simbólica na atividade material. 
O trabalho, enquanto atividade material e social, é produtor de símbolos construtores de significados 
Os esquemas culturais são por aí ordenados porque os significados são reavaliados quando realizados na prática.  O  significado ou a razão significativa é uma qualidade distintiva do homem não pelo fato dele viver num mundo material, mas porque ao compartilhar com todas as forças que se objetivam materialmente, o faz a partir de esquemas significativos criados por si próprios.
A cultura não é expressão das formas de produção, pelo contrario, as formas de produção é que se desdobram em termos da cultura, ou seja, não é mais a sua própria forma, mas incorporada como significado. As estruturas significativas, produto da atividade material, são entendidas como o resultado do conjunto de ações dos agentes interessados, expressam “a realização prática das categorias culturais, em um contexto histórico”  Na experiência dos estivadores elas foram duplamente vivenciadas por um tipo de sociabilidade que inclui o comunitário e o associativo.
 A noção de comunidade implicando em sentimento de solidariedade que está vinculado a ordem emocional e a noção de associativismo vinculando a união e equilíbrio de interesses racionalmente motivados em relação a valores e resultados. 
Dado o tempo em que foi vivida, tem raízes profundas.
 As pessoas usam as ordens culturais para moldar sua construção e ação no mundo e este, normalmente está sempre em consonância com elas. 
Quando ocorre uma transformação estrutural as pessoas tendem a reproduzir alguns aspectos da cultura tradicional, pois  consideram que elas ainda estão em ação.
 A consequência de ver o mundo através de sua cultura é a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. 
A cultura enquanto definidora de todo um modo de vida tem a qualidade de conformar-se as pressões materiais a partir de significados definidos que nunca são os únicos possíveis, que se multiplicam. 
Nesse sentido as implicações sociais da atual transformação, não estão inscritas no processo tecnológico nem nas suas demandas por uma nova forma de organização do trabalho, mas nas relações sociais que presidem a utilização de ambas, a forma e significação criada pela transformação  são articuladas sob a condição de meios e fins. 
As categorias culturais são colocadas em jogo e, nesse contexto, só se atualizam através de uma estrutura de reciprocidades que não está inscrita no quadro da atual mudança, pois maior comprometimento com o trabalho, sem compensação financeira, e redução do contingente, são elementos desestruturadores da sua cultura.  
   A presença de um novo paradigma tecnológico e organizacional no porto ao modificar o padrão de distribuição do trabalho, e demandar pelo surgimento de um ‘novo trabalhador portuário’ agora com maiores habilidades cognitivas, multifuncional, e participativo, inaugura uma cultura de empresa que se opõe à cultura portuária vigente. Sobrepondo a cultura anterior onde o Porto esta acima de seus arrendatários .
  Experiência e cultura são termos que reforçam o estatuto da ação humana. 
A experiência traz em si a descoberta da condição efetiva do homem na sociedade e só se revela pelas vivências postas na vida cotidiana. 
As adversidades, os  estranhamentos, os inconformismos, vividos pela experiência possibilitam cada um conhecer melhor a sua condição de vida. 
A experiência, portanto, é um conceito utilizado neste trabalho com o objetivo de relacionar ação e cultura.
 A cultura como experiência vivida compreende, portanto, a luta dos trabalhadores no processo produtivo com a finalidade de perceberem-se no interior da  organização do trabalho, onde as estruturas objetivas não são determinadas a priori e, portanto, se apresentam como uma questão aberta, pelo fato de nascer da ação desses trabalhadores ao mesmo tempo em que é condição dessa ação. São eles que experimentam suas ações e relações produtivas determinadas como interesses, necessidades e antagonismos, tratando-os em seguida em sua consciência e sua cultura das mais complexas maneiras e em seguida agem, por sua vez, sobre sua situação determinada.
A história do homem é caracterizada pela sua capacidade de exercer domínio sobre a natureza, 
procurando transformá-la em algo útil, e que atenda às suas necessidades.
 Esse controle ao longo da história vem se complexificando e culmina hoje na busca do controle do trabalho através da apropriação do seu conteúdo subjetivo. Isto implica numa transferência dos saberes e fazeres dos trabalhadores para o espaço do capital. 
Os conhecimentos dos trabalhadores são incorporados aos elementos mecânicos do processo de trabalho, através das máquinas.
 A base técnica em transformação resulta na constatação de que máquinas passam a sintetizar de modo sistêmico um conjunto de tarefas anteriormente realizadas pelos trabalhadores
Estes por sua vez passam a se ajustar às características das máquinas.
 O grau de liberdade e de autonomia que estavam presentes nos processos anteriores, passa por nova reconfiguração e o trabalhador perde a condição de sujeito do processo de trabalho, transformando-se em objeto do processo de trabalho .

O  controle sobre conteúdo subjetivo do trabalho, torna-o mais concreto e possibilita o desenvolvimento de melhores formas de planejamento, elemento necessário para a estratégia competitiva das empresas. 
Diante dessa realidade, o trabalho dos estivadores que no passado se caracterizava pela atividade produtiva vinculada à experiência prática e manual, vem sofrendo forte impacto com a transformação.
 Há uma tensão permanente através da quais resistências e negociações estão continuamente presentes.
 As ações dos estivadores são motivadas pelos contrastes e conflitos que daí emergem e quase sempre a análise sobre o problema busca ênfase nos aspectos econômicos, materiais e estruturais que revestem os conflitos.
 Os conflitos se justificam, pois a reestruturação produtiva a partir da conjuntura política e econômica da década de 70 do século XX, analisada por GITAHY, LEITE e RABELO é um processo que se deu no marco de um padrão de concorrência basicamente dirigido a um mercado interno em expansão onde o padrão de gestão da força de trabalho se caracterizava pela rotinização  e formas predatórias de uso da força de trabalho. 
FONTE
 Seminário Temático Numero 16 
TRANSFORMAÇÃO DO TRABALHO  E 
A CULTURA DOS ESTIVADORES DE   SANTOS
João Carlos Gomes  

Nenhum comentário:

Postar um comentário