5 de jan. de 2014

O que Representa os Estivadores Santistas 1

A ausência de programas que levem em consideração  a existência da ordem cultural que orientava os estivadores  no período anterior a lei 8630onde o mercado orientado pelos padrões de competitividade da época, demandava pela presença do Estado nas atividades do porto  e na própria presença do sindicato como controlador do mercado de trabalho,
 impede a atualização dos significados desenvolvidos, o que só poderá ocorrer por intermédio de motivações  e interesses localizados na própria objetivação do processo de transformação.

 O problema da permanente resistência está vinculado a essa prevalência da ordem econômica sobre a cultural.
 A nova estrutura social portuária que opera como reflexo direto da legislação que regulamenta as relações de trabalho após 1993, não leva em consideração que os significados  construídos por esses trabalhadores no passado  têm existência cultural efetiva integrada a um esquema simbólico historicamente constituído, e, portanto não é a mudança que faz a cultura, mas a cultura que faz a mudança. 
Este trabalho, ao resgatar a noção de experiência vivida na forma de representações culturais  propõe um diálogo entre antropologia e história com o objetivo  de compreender as formas de  posicionamento da força de trabalho estivadora  diante de um novo paradigma tecnológico e organizacional.
 A preferência teórica se deve a evidência de que a trajetória dos estivadores se inscreve na relação entre a ação produtiva no mundo  e a organização simbólica da experiência
o que nos remete à investigação das relações entre ordem cultural e mudança. 
O cultural entendido como aquele que tem como especificidade de seu conteúdo, o significado. 
A investigação de suas vidas centra-se na noção de experiência, pois é por ela que experimentaram suas relações produtivas como interesses , necessidades e antagonismos,
 tratando-os em sua consciência  e sua cultura das mais complexas maneiras e agiram, 
por sua vez, sobre sua situação determinada.
 Suas ações pressupunham uma noção de necessidades objetivas   que os movia com as mediações simbólicas que as instituíam enquanto necessidades sociais.
 Esse caminho permite identificar pontos ainda não percebidos  nas formas como os estivadores lidam com a mudança  a partir das relações entre a ordem cultural e a particularidade e, das contingências da ação e da situação.
 A analise da “cultura”, tem o objetivo de dar embasamento às referências significantes  que se desenvolvem na trajetória de vida dos estivadores 
o que permite entendê-los no processo de transformação.
 A abordagem sobre a “experiência” procura dar forma à constituição da identidade e representação  que experimentaram e viveram. 
Considera-se que a descoberta da sua condição efetiva, na sociedade e na economia, 
só pode ser entendida pela experiência no trabalho e nos conflitos postos pelo cotidiano. 
A análise sobre a reestruturação produtiva procura colocar em evidência os aspectos sociais que presidem nas relações de trabalho que emergem de novos paradigmas produtivos com o objetivo  de situar as contradições e ambiguidades que impactam a vida dos estivadores 
contempla a cultura e a experiência portuária procurando  delinear as especificidades do trabalho e das vivencias e  significados daí extraídos as questões conjunturais e estruturais 
que envolvem a mudança e os significados que os mesmos  atribuem à elas .
Entrevistas realizadas com lideranças do sindicato dos estivadores em 2007.  
O campo de observação contempla dois grandes pilares da transformação:
 de um lado a forma de utilização da força-de-trabalho, e do outro, o sistema de governança no porto
Finalmente, analisam-se os impasses a partir da evidência  de que a transformação no porto não contempla elementos que articulam os componentes culturais que se desenvolvem em termos  de propriedades materiais e sociais.  
Cultura é um conceito que na perspectiva antropológica percorreu um longo caminho em busca do entendimento sobre a natureza do homem.
 Os evolucionistas do século XIX postulavam a ideia de que as sociedades seguiam o seu curso histórico através de três estágios, a selvageria, o barbarismo e a civilização.
 Franz Boas , elabora sua reação ao evolucionismo e funda a abordagem multilinear 
que considerava cada grupo humano se desenvolvendo através de caminho próprio.
 As modernas teorias sobre a cultura seguem dois caminhos.
 Um considera a cultura como sistemas de padrões e comportamentos socialmente transmitidos que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos, incluindo tecnologias e modos de organização econômica, padrões de estabelecimento, de organização social e política, crenças e práticas religiosas e assim por diante. 
Segundo Laraia , comungam dessa visão um grupo  seleto de antropólogos como
 Sahlins, Harris, Carneiro, Vayda, entre outros. 
O outro é aquele que considera a cultura como sistemas simbólicos.
 Para Gertz os símbolos e significados são desenvolvidos entre os atores, membros do sistema cultural,  mas não dentro deles. 
  Marshall Sahlins, aponta  “o significado” como a propriedade essencial do objeto cultural, 
assim como o uso de símbolos como uma faculdade específica do homen. 
Para Sahlins, cada tipo de sociedade é definido por uma fonte privilegiada de simbolismo.
 A sociedade tribal baseava-se na metáfora do parentesco, e o foco simbólico das chefias são as religiões oficiais, enquanto na cultura ocidental a economia constitui a primeira área de produção simbólica. 
 Sahlins, analisando a atualidade do conceito de cultura, mostra
“a resistência das culturas frente à expansão capitalista ocidental”
Algumas culturas não apenas sobrevivem como estão se tornando mais fortes, pois os atores dessas culturas estão interagindo com o capitalismo sem perder o sentido de si mesmo.

Atribuem às coisas novas desta interação novos significados a partir de suas tradições.
 Eles vêm tentando incorporar o sistema mundial a uma ordem  ainda mais abrangente: seu próprio sistema de mundo. 
A cultura dos estivadores se apresenta como um desses tipos de cultura
 tratada por Sahlins. 
Ainda permanece o espaço exclusivamente masculino, a ostentação de virilidade, 
as disputas pelas oportunidades de emprego, a ausência demarcada entre tempo de trabalho e de lazer, o trabalho eventual e autônomo, elementos que atuam como força de resistência à perda de controle da mão-de-obra pelo sindicato  às dificuldades para realização de greves, de formas de sociabilidade forjadas em um conjunto de redes 
de relações tecidas nas relações com outras categorias profissionais, igualmente esvaziadas.
 Estudar a sua cultura, nos remete a imersão nesse “modo de ser” onde estão embutidos múltiplos significados e sentidos  que extraem a partir das suas condições reais de existência. 
A percepção que adquirem de si próprio e dos objetivos da suas vidas, durante as transformações produtivas do mundo,  são determinantes para a construção de sua cultura.

FONTE
Seminário Temático Numero 16 
TRANSFORMAÇÃO DO TRABALHO  E  A CULTURA DOS ESTIVADORES DE   SANTOS
João Carlos Gomes  

E de uma olhada em
http://joresimao.blogspot.com.br/2014/01/o-que-representa-os-estivadores.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário