A ausência de programas que levem em consideração a
existência da ordem cultural que orientava os estivadores no período anterior a
lei 8630, onde o mercado orientado pelos padrões de competitividade da época, demandava pela presença do Estado nas atividades do porto e na própria presença
do sindicato como controlador do mercado de trabalho,
impede a atualização dos
significados desenvolvidos, o que só poderá ocorrer por intermédio de
motivações e interesses localizados na própria objetivação do processo de
transformação.
O problema da permanente resistência está vinculado a essa
prevalência da ordem econômica sobre a cultural.
A nova estrutura social
portuária que opera como reflexo direto da legislação que regulamenta as
relações de trabalho após 1993, não leva em consideração que os significados construídos
por esses trabalhadores no passado têm existência cultural efetiva integrada a
um esquema simbólico historicamente constituído, e, portanto não é a mudança
que faz a cultura, mas a cultura que faz a mudança.
Este trabalho, ao resgatar
a noção de experiência vivida na forma de representações culturais propõe um
diálogo entre antropologia e história com o objetivo de compreender as formas
de posicionamento da força de trabalho
estivadora diante de um novo paradigma tecnológico e organizacional.
A
preferência teórica se deve a evidência de que a trajetória dos estivadores se
inscreve na relação entre a ação produtiva no mundo e a organização simbólica
da experiência
o que nos remete à investigação das relações entre ordem
cultural e mudança.
O cultural entendido como aquele que tem como
especificidade de seu conteúdo, o significado.
A investigação de suas vidas
centra-se na noção de experiência, pois é por ela que experimentaram suas
relações produtivas como interesses , necessidades e antagonismos,
tratando-os
em sua consciência e sua cultura das mais complexas maneiras e agiram,
por sua
vez, sobre sua situação determinada.
Suas ações pressupunham uma noção de
necessidades objetivas que os movia com as mediações simbólicas que as
instituíam enquanto necessidades sociais.
Esse caminho permite identificar
pontos ainda não percebidos nas formas como os estivadores lidam com a mudança a partir das relações entre a ordem cultural e a particularidade e, das
contingências da ação e da situação.
A analise da “cultura”, tem o objetivo de
dar embasamento às referências significantes que se desenvolvem na trajetória
de vida dos estivadores
o que permite entendê-los no processo de transformação.
A abordagem sobre a “experiência” procura dar forma à constituição da
identidade e representação que experimentaram e viveram.
Considera-se que a
descoberta da sua condição efetiva, na sociedade e na economia,
só pode ser
entendida pela experiência no trabalho e nos conflitos postos pelo cotidiano.
A
análise sobre a reestruturação produtiva procura colocar em evidência os
aspectos sociais que presidem nas relações de trabalho que emergem de novos
paradigmas produtivos com o objetivo de situar as contradições e ambiguidades
que impactam a vida dos estivadores
contempla a cultura e a experiência
portuária procurando delinear as especificidades do trabalho e das vivencias e significados daí extraídos as questões conjunturais e estruturais
que envolvem
a mudança e os significados que os mesmos atribuem à elas .
Entrevistas realizadas com
lideranças do sindicato dos estivadores em 2007.
O campo de observação contempla dois grandes
pilares da transformação:
de um lado a forma de utilização da
força-de-trabalho, e do outro, o sistema de governança no porto.
Finalmente, analisam-se os impasses a partir
da evidência de que a transformação no porto não contempla elementos que
articulam os componentes culturais que se desenvolvem em termos de propriedades
materiais e sociais.
Cultura é um conceito que na perspectiva antropológica percorreu um longo caminho em busca do entendimento sobre a natureza do homem.
Os evolucionistas do século XIX postulavam a ideia de que as sociedades seguiam
o seu curso histórico através de três estágios, a selvageria, o barbarismo e a
civilização.
Franz Boas , elabora sua reação ao evolucionismo e funda a abordagem
multilinear
que considerava cada grupo humano se desenvolvendo através de
caminho próprio.
As modernas teorias sobre a cultura seguem dois caminhos.
Um
considera a cultura como sistemas de padrões e comportamentos socialmente
transmitidos que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus
embasamentos biológicos, incluindo tecnologias e modos de organização
econômica, padrões de estabelecimento, de organização social e política, crenças e práticas religiosas e assim por diante.
Segundo Laraia , comungam
dessa visão um grupo seleto de
antropólogos como
Sahlins, Harris, Carneiro, Vayda, entre outros.
O outro é
aquele que considera a cultura como sistemas simbólicos.
Para Gertz os símbolos
e significados são desenvolvidos entre os atores, membros do sistema
cultural, mas não dentro deles.
Marshall Sahlins, aponta “o significado” como a propriedade essencial
do objeto cultural,
assim como o uso de símbolos como uma faculdade específica
do homen.
Para Sahlins, cada tipo de sociedade é definido por uma fonte
privilegiada de simbolismo.
A sociedade tribal baseava-se na metáfora do
parentesco, e o foco simbólico das chefias são as religiões oficiais, enquanto
na cultura ocidental a economia constitui a primeira área de produção
simbólica.
Sahlins, analisando a
atualidade do conceito de cultura, mostra
“a resistência das culturas frente à
expansão capitalista ocidental”.
Algumas culturas não apenas sobrevivem como
estão se tornando mais fortes, pois os atores dessas culturas estão interagindo
com o capitalismo sem perder o sentido de si mesmo.
Atribuem às coisas novas desta interação novos
significados a partir de suas tradições.
Eles vêm tentando incorporar o sistema
mundial a uma ordem ainda mais abrangente: seu próprio sistema de mundo.
A cultura dos estivadores se apresenta como
um desses tipos de cultura
tratada por Sahlins.
Ainda permanece o espaço exclusivamente
masculino, a ostentação de virilidade,
as disputas pelas oportunidades de
emprego, a ausência demarcada entre tempo de trabalho e de lazer, o trabalho
eventual e autônomo, elementos que atuam como força de resistência à perda de
controle da mão-de-obra pelo sindicato às dificuldades para realização de
greves, de formas de sociabilidade forjadas em um conjunto de redes
de relações
tecidas nas relações com outras categorias profissionais, igualmente
esvaziadas.
Estudar a sua cultura, nos remete a imersão nesse “modo de ser” onde estão embutidos múltiplos significados e sentidos que extraem a partir das
suas condições reais de existência.
A percepção que adquirem de si próprio e
dos objetivos da suas vidas, durante as transformações produtivas do mundo, são
determinantes para a construção de sua cultura.
FONTE
Seminário Temático Numero 16
TRANSFORMAÇÃO DO TRABALHO
E A CULTURA DOS ESTIVADORES DE
SANTOS
João Carlos Gomes
E de uma olhada em
http://joresimao.blogspot.com.br/2014/01/o-que-representa-os-estivadores.html
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http://joresimao.blogspot.com.br/2014/01/o-que-representa-os-estivadores.html
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