7 de out. de 2015

O que pretende a Atribuna



Um quarto dos trabalhadores avulsos usa crack ou cocaína, diz estudo,Dado integra pesquisa inédita desenvolvida pelo Campus Baixada Santista da Unifesp
Uma parcela de 25% dos trabalhadores avulsos do Porto de Santos utiliza crack ou cocaína, muitas vezes no ambiente profissional. Pouco mais de um terço (34%) confessou fumar maconha. E uma parcela de 88% consome bebidas alcoólicas
Esta realidade foi constatada a partir de um levantamento inédito feito por alunos e professores do Campus Baixada Santista da Unifesp no complexo marítimo, durante dois anos. E é um dos destaques do livro Porto de Santos - Saúde e Trabalho em Tempos de Modernização, organizado pelas professoras Maria de Fátima Queiróz, Rosana Machin e Marcia Thereza Couto e lançado no último dia 2, na Capital.
A obra investigou as transformações socioeconômicas ocorridas no País – especialmente no setor portuário – a partir da década de 90. Neste período, foi promulgada a primeira Lei 8.630/93, que mudou drasticamente a realidade do cais santista e, com isso, a saúde dos trabalhadores portuários avulsos TPA, entre outros profissionais.
Para a realização dessa pesquisa sobre o uso de drogas, os alunos entrevistaram cerca de 780 TPA. Eles aplicaram os questionários na zona portuária, especificamente nas proximidades dos postos de escalação do Ogmo, onde o trabalho do cais é distribuído aos avulsos. As perguntas foram elaboradas por professores de nove cursos da instituição e algumas delas eram direcionadas apenas para verificar os percentuais de uso de álcool e drogas. 
“Nas idas a campo, os alunos percebiam que esse consumo de substâncias existia dentro do Porto liberadamente. Inclusive, eles detectaram que, durante algumas entrevistas, os trabalhadores estavam usando maconha. E o álcool também, quando eles aplicavam os questionários próximo a algum bar”, explicou a psicóloga Adriana Tucci, professora do Departamento de Saúde, Educação e Sociedade da Unifesp-Baixada Santista.
Segundo Adriana, os relatos dos alunos mostraram que o consumo de álcool e drogas era mais frequente em determinadas áreas do cais santista. “Em alguns pontos do Porto, onde eles pegam trabalho, era mais intenso do que em outros. Perto das unidades do Ogmo até existia. Mas nos pontos mais distantes, era completamente liberado, o que causou certo estranhamento esse tipo de situação, como se fosse uma liberação desse consumo mesmo”, explicou a professora. 

Levantamento aponta que consumo de drogas ocorre inclusive no ambiente de trabalho dos portuários avulsos
O consumo de álcool e drogas entre os trabalhadores portuários é mais frequente do que entre outros grupos, segundo a pesquisa. Enquanto 10% da população confirma o fumo da maconha, entre os TPAs entrevistados, a quantidade de usuários da droga chega a 37%. 
Os números são ainda mais impactantes quando é analisado o volume de trabalhadores que utilizam crack e cocaína, drogas consideradas altamente viciantes e prejudiciais. Na população geral, o índice de consumo é de 4,6%. Entre os portuários, é de 25%, um em cada quatro.
Motivos
Entre os motivos apontados para o consumo de álcool e drogas durante as operações no Porto de Santos, estão a forma de organização do trabalho e o tipo de atividade exercida no cais santista. 
Todos os dias, os TPAs são escalados para os turnos de trabalho às 7, 13 e 19 horas. Em alguns casos, não há vaga para todos e alguns precisam aguardar a próxima chamada. Esta situação causa incerteza ou até mesmo frustração no portuário que não consegue ter o nome designado. “Ele vai na expectativa e não consegue trabalho. Aí, como mora longe ou não tem como pagar a condução, acaba ficando por ali até a próxima escalação. Nesse tempo, pode consumir álcool ou drogas”, explica a professora. 
Outra possibilidade levantada pelos próprios trabalhadores é a necessidade de algum tipo de estímulo para o trabalho, que é braçal e exige energia. Nesses casos, a cocaína e o crack são drogas que atuam no sistema nervoso central de forma estimulante. 
“Na nossa visão, o consumo de álcool e drogas está diretamente associado à realidade do trabalho. Esta é uma questão complexa que envolve muitos fatores. É gritante a diferença”, destaca a professora universitária. 

A Leopoldo Figueiredo    Editor de Porto & Mar
Ao Jornal A Tribuna 
Como organizadoras do livro Porto de Santos: Saúde e Trabalho em Tempos de Modernização” gostaríamos de manifestar nossa preocupação com a matéria veiculada no dia 15 de setembro de 2015, no Caderno Porto & Mar, C 5, no jornal A Tribuna, intitulada “Um quarto dos trabalhadores avulsos usa crack ou cocaína - Dado integra pesquisa inédita desenvolvida pelo Campus Baixada Santista da Unifesp”.
A referida matéria faz uso inadequado dos dados produzidos pela pesquisa, descontextualiza os resultados e não considera o que, ao nosso ver, deve ser alvo de reflexão a partir dos achados do estudo realizado sob nossa coordenação.
É importante considerar que a pesquisa desenvolveu uma investigação aprofundada das condições de trabalho no Porto de Santos e das transformações operadas pela modernização portuária em termos de formas de organização, processos de trabalho, identidades, formas de sociabilidade e suas repercussões nas experiências de saúde e adoecimento e igualmente nas estratégias de cuidado desses trabalhadores.
Para sua realização o estudo contou com a aplicação de alguns instrumentos de pesquisa diferenciados como análise ergonômica do trabalho (AET), observação etnográfica sobre a tomada e distribuição do trabalho, entrevista em profundidade e questionário com trabalhadores portuários avulsos. Em relação ao componente quantitativo do estudo, o instrumento questionário foi aplicado seguindo cálculo amostral contemplando a representatividade dos trabalhadores portuários avulsos de diferentes categorias. Assim foram entrevistados 453 trabalhadores avulsos e não 780 conforme mencionado por A Tribuna. 
Os resultados do estudo revelam de que forma o processo de modernização e as mudanças na organização do trabalho repercutem em termos de fadiga, distúrbios osteomusculares, lombalgia, experiências de adoecimento, acidentes de trabalho, saúde mental e uso de álcool e drogas. 
 Assim, apresentar o uso de álcool e drogas de forma desarticulada com as demais questões relacionadas ao processo de saúdeadoecimento densamente tratadas no livro acaba por apresentar o tema de forma superficial, não ancorado numa perspectiva de saúde pública, reificando uma atribuição de culpa aos trabalhadores envolvidos. Além do que, tal apropriação segmentada e superficial dos dados desconsidera o contexto de vulnerabilidade que influencia fortemente as experiências de adoecimento e uso de álcool e drogas entre os trabalhadores. 
É importante destacar ainda, que os resultados do estudo não permitem afirmar que o uso de álcool e drogas esteja ocorrendo no ambiente de trabalho, conforme mencionado por A Tribuna.
A questão de uso de álcool e drogas foi incluída na pesquisa por ser um problema já sabidamente em toda a sociedade brasileira, e internacional, não restrito a trabalhadores portuários e relativo ao qual pouca atenção tem sido dada, seja por parte de políticas de saúde dos municípios da Baixada Santista, seja por organizações responsáveis pela contratação e gestão do trabalho no setor portuário e nas empresas no geral. Entendemos que este aspecto merece ações intersetoriais e integradas para uma efetiva resolução.
Lamentamos que A Tribuna, na referida matéria, acabou por fazer um uso midiático dos dados cuidadosamente produzidos pela pesquisa relativamente ao aspecto do uso de álcool e drogas. Trazer ao público os resultados da pesquisa de maneira superficial, desconsiderando sua relação com as condições de trabalho vigentes no setor portuário e com outros processos de adoecimento investigados expressa uma visão parcial e pouco fidedigna da realidade que apresentamos na obra Porto de Santos:  saúde e trabalho em tempos de modernização”.  
Santos, 16 de setembro de 2015. 
Atenciosamente,
Profa. Dra. Maria de Fátima Ferreira Queiroz – Instituto Saúde e Sociedade - Universidade Federal de São Paulo/Unifesp  
Profa. Dra. Rosana Machin – Faculdade de Medicina - Universidade de São Paulo/USP
Profa. Dra. Marcia Thereza Couto – Faculdade de Medicina - Universidade de São Paulo/USP

Devo lembrar que Estivadores que estiveram no lançamento do livro foram e vem sendo ameaçados por alguns incautos infectados pela materia do Jornal a Atribuna . E a mesma ate o momento não buscou da unica maneira possivel reverter tal dano causado  aos trabalhadores .
Fonte atribuna 

Nenhum comentário:

Postar um comentário