25 de abr. de 2016

Sou mulher de Estivador

SOU MULHER DE ESTIVADOR e sinto-me profundamente REVOLTADA!
É injusta a forma como têm vindo a denegrir a imagem dos estivadores através da Midia!
É urgente esclarecer os motivos da greve dos estivadores, serão eles realmente os "malandros" como o povo e a midia os tem vindo a rotular?
Sou mulher de estivador e até à bem pouco tempo educava praticamente sozinha as nossas crias para que o meu marido, de baixo de sol, calor, frio e chuva trabalhasse 16h por dia, colocando em risco a sua vida (sim, em 8 anos de trabalho do meu marido 3 colegas perderam a vida) para trazer para casa um ordenado, por sinal a anos de luz dos valores que se fala... 
Sim digo TRABALHASSE pois o meu marido desde Novembro de 2015 assim como mais 39 homens EVENTUAIS está em casa sem trabalhar... Sem terem sustento para as famílias... 
Estivadores eventuais que mesmo em situação precária NUNCA digo NUNCA se recusaram a trabalhar mesmo nas condições que lhes era oferecida, pois nunca sabiam se eram ou não chamados para o dia seguinte ou se ficavam em casa. Que passavam o mês a contar os turnos e a fazer contas à vida pois muitas meses não traziam sequer salário suficiente para meter comida na mesa e na boca dos filhos.
Como mulher de estivador muitos meses nos vimos privados de poder comprar até um bife para dar aos meus filhos pois não tínhamos dinheiro para isso e ao invés de vaca comemos frango. 
E mesmo assim com dificuldades nunca lhes faltou nada desde pois desde que haja trabalho e sejam escalados já ficam satisfeitos para que possam no mínimo fazer turnos suficientes para trazer um salário em condições para casa.Mas ainda assim, ninguém os ouve queixar, da falta de condições de trabalho, ninguém os ouve pedir aumentos como tantos falam (do que não sabem, é a mentalidade do nosso pais, falar do que não se sabe e fazer juízos de valor), os estivadores só querem TRABALHAR em PAZ, 
repito... em PAZ!
No pré-aviso de greve os estivadores comprometeram-se a trabalhar 8h por dia como qualquer cidadão, desde que a empresa não  trabalhe com trabalhadores de fora do sistema e mal remunerados, sem condições de trabalho, de um  pull de estivadores que o próprio patrão criou para extinguir a pull pré-existente, a pull destes "malandros" que só querem manter os seus postos de trabalho e trabalhar em PAZ. A empresa preferiu escalar os porlis 10 trabalhadores em vez dos 120 trabalhadores da aetp e desde então o porto está totalmente parado. 
É de salientar que não tem nada contra os porlis, pelo contrário, querem que estes possam trabalhar com as mesmas condições que eles possuem, todos juntos, na mesma pull!
Estes homens só querem que assinem dê uma vez por todas o CCT para que todos os estivadores possam ter trabalho independente de tudo.
Sou MULHER de ESTIVADOR e estou com ele nesta luta, pelo seu posto de trabalho, pelo sustento da nossa família, ao que o povo está contra, fazendo juízo de valor, do que não sabe! 
O patrão assiste e esfrega as mãos de contente, afinal só o estão a ajudar a afundar mais o país e a encher mais os bolsos, sim, não são os estivadores que afundam o país com a greve... 
eles só querem trabalhar em PAZ!


As palavras fortes e sinceras, na primeira pessoa, da mulher de um estivador de Lisboa, partilhadas pela mulher de outro estivador, despedido há quase 6 meses, para que as gananciosas empresas portuárias estendam ,precariedade e miséria que os mesmos grupos empresariais já conseguiram implantar nos outros portos nacionais.
Sempre que há uma greve, seja em que setor, os empresarios e o governo, difunde uma quantidade avassaladora de mentiras para jogar a sociedade contra os  trabalhadores. As manobras para manipular a opinião pública são conhecidas: multiplicação de comentários adversos, ausência de contraditório, difusão de mentiras e, não raras vezes, de calúnias, uma interminável panóplia de estratagemas desenhadas para gerar um sentimento contrário a quem quer que se levante para defender os seus direitos.
Há disso muitos exemplos mas poucos são tão claros como o dos estivadores. Agora   desde 2014, os patrões repetem à exaustão que os pré-avisos de greve são greves quando não foram, que os armadores estão a mudar de rota quando a verdade é que estão a ser desviados pelos próprios, que os estivadores querem é impedir o acesso de outros à profissão quando estes sempre foram os primeiros a dizer que abrem mão das horas extraordinárias para que sejam contratados mais estivadores com direitos. Vale tudo para concretizar um desligamento coletivo encapotado, demonstrando que mais não se pretende do que substituir trabalhadores especializados por outros com salários miseráveis.
Como se conclui com facilidade sempre que a palavra é dada, sem manobras, aos estivadores, o que está em causa é um desligamento coletivo ilegal e imoral. Ilegal, porque outros trabalhadores são contratados para os substituir em empresas paralelas, imoral porque toda a operação é fabricada pelos mesmíssimos patrões. 
Um e outro provam não só a falta de motivo para o desligamento coletivo encapotado, como revelam a má-fé de quem, para maximizar lucros e reduzir a fatura portuária, apenas olha para a parte que pode roubar aos salários dos estivadoresCuriosamente,  tudo isto acontece num porto que não tem parado de crescer, seja em volume de cargas seja nos milhões arrecadados pelos patrões do porto de Lisboa, números que ainda assim não evitaram o congelamento do salário há vários anos e sistemáticos e punitivos atrasos de pagamentos dos salários, apenas e só dos trabalhadores que se levantam contra toda esta máfia. 
É assim fácil verificar que o caminho defendido pelos estivadores é o único que impede a generalização do trabalho precário e a desvalorização salarial, e por mais jogos de espelhos que os patrões usem para ocultar a realidade, a verdade não muda só porque se mascaram as intenções.
 Fontes Texto de outra esposa de estivador com alterações para o meu campo pessoal sendo o meu marido estivador eventual
texto de Ana Sofia e
 https://obeissancemorte.wordpress.com/2016/04/23/a-razao-dos-estivadores/

Imagem Patrícia Rosa 

2 comentários:

  1. Estamos juntos nesta luta... Como mulher de estivador apoio a vossa luta e a vossa causa por melhores condições de trabalho.

    Patrícia Rosa

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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