Enquanto as
técnicas quantitativas focam coisas que possam ser contadas, utilizando categorias predeterminadas
que podem ser tratadas como dados internos ou ordinários e sujeitos à análise estatística, as técnicas
qualitativas focam a experiência das pessoas e seu respectivo significado em relação a eventos,
processos e estruturas, inseridos em cenários sociais (SKINNER; TAGG; HOLLOWAY, 2000).
Mas como ajudar a refinar conceitos, conhecer reações gerais, aprender a
linguagem dos atores envolvidos ou explorar novas áreas de oportunidade para explicar situações particulares e fornecer conclusões
específicas para estabelecer a frequência e a probabilidade nas quais um fenômeno pode ocorrer em determinada
comunidade portuária .
Neste contexto, o caso do porto de Valência ,Espanha, considerado Best-in-Class em
clusters portuários pelo Port Cluster Governance Committee (PCGC) do Global Institute of
Logistics (GLI) projeto denominado Proyecto GLIPORT: Estrategias para la Capacitación Portuária (DAVIU
et al., 2010) .
Autoridade Portuária de Valência,
considerada ponto-chave para o desenvolvimento do cadeia logístico-portuária da região:
a) Exploração e Gestão Portuária:
1. realização de planejamento estratégico; 2. gestão
econômico-financeira e coordenação, elaboração e controle orçamentário; 3. sistema de gestão por
indicadores de desempenho (BSC – Balance Scorecard); 4. busca de novos tráfegos e relações com
clientes; 5. estudos mercadológicos e identificação de oportunidades; 6. gestão da eficiência dos
fluxos logísticos no porto (tempo); 7. gestão da eficiência dos fluxos logísticos entre os diferentes
atores da comunidade portuária (tempo); e 8. redução dos custos operacionais no porto;
b) Formação de Mão-de-Obra:
1. atividades de formação na autoridade portuária; 2.
atividades de formação para a comunidade portuária;3. atividades de formação entre distintas
comunidades portuárias; 4. atividades de cooperação e formação em nível internacional; e 5.
desenvolvimento de uma mentalidade que favorece a geração de valor futuro e a inovação;
c) Qualidade:
1. estrutura de decisão na comunidade portuária; 2. relacionamento e
interação entre os agentes da comunidade portuária; 3. manual de procedimentos logísticos e
operações, englobando as atividades dos diferentes atores da comunidade portuária; e 4.
procedimentos de garantia de qualidade para a comunidade portuária (Marca de Garantia);
d) Inovação:
1. liberação de saída e entrada de cargas sem papel (documentação física);
2. documentação eletrônica entre os diferentes atores; 3. follow-up das mercadorias na importação e
na importação; 4. controle operacional e geração de indicadores; 5. objetivos integrados dos atores;
6. desenvolvimento de visão sistêmica entre os atores; 7. foro que favorece a discussão e a integração dos atores da comunidade (Sistema de Qualidade e Marca de Garantia); e 8. tomada de
decisões comuns, orientada pela autoridade portuária;
e) Gestão Ambiental: 1. projetos de eficiência energética; 2. plano de segurança portuária
segundo normas locais e internacionais; 3. avaliação dos riscos ambientais segundo padrões
internacionais vigentes; 4. monitoramento do impacto ambiental; e 5. planos de investimento para a
gestão ambiental portuária.
Analisando-se as ações listadas anteriormente, observa-se uma série de relações de causa efeito
e uma série de sobreposições entre os fatores citados.
Quais são as boas ações desenvolvidas pela Autoridade Portuária de Valência:
I. Formação e Gestão do Conhecimento:
1. nítida integração entre o porto e o
meio acadêmico (universidades); 2. existe no porto um órgão responsável pela realização de
atividades de formação na autoridade portuária em diferentes níveis; 3. são oferecidas e realizadas
atividades de formação para toda a Autoridade Portuária; 4. são oferecidas e realizadas atividades
de formação para toda a comunidade portuária (armadores, forwarders, despachantes aduaneiros,
transportadores terrestres, exportadores e importadores, etc.); 5. as atividades de formação
fomentadas pelo porto integram pessoas de distintas comunidades portuárias, relacionadas com
outros portos; 6. são realizadas atividades de cooperação e formação em nível internacional; 7. a
mentalidade dos funcionários do porto favorece a geração de valor futuro e a inovação; e 8. a
mentalidade dos atores da comunidade portuária favorece a geração de valor futuro e a inovação no
sistema portuário;
II. Gestão e Operações Portuárias:
1. existe um sistema de gestão estratégica, integrado e
flexível, orientado por um conjunto equilibrado de indicadores de desempenho (BSC); 2. existe um sistema de gestão econômico-financeira estabelecido, o qual permite coordenar, elaborar e controlar
o orçamento portuário; 3. existe uma estratégia comercial estabelecida e pró-ativa para a busca de
novos tráfegos, cargas e relações com os clientes em nível nacional e internacional; 4. o porto
desenvolve ativamente atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação, o que apóia seu
posicionamento e permite a identificação de novas oportunidades comerciais; 5. as infra-estruturas
portuárias apresentam-se adequados para as operações atuais e seu crescimento futuro; 6. os fluxos
logísticos no porto são eficientes em termos de tempo; 7. os fluxos logísticos entre os diferentes
atores da comunidade portuária são eficientes em termos de tempo; e 8. os custos operacionais no
porto são baixos e as tarifas são competitivas;
III. Qualidade dos Serviços e Alinhamento da Comunidade Portuária:
1. há no porto
um sistema de informação comum aos atores da comunidade portuária que permitem a gestão e o
controle fidedigno das operações. Esse sistema de informações permite aos usuários o follow-up das
cargas na importação e na importação, o controle operacional e a geração de indicadores de
desempenho; 2. as tarifas referentes ao conjunto dos serviços logísticos prestados pela comunidade
portuária são claras, explícitas e uniformes entre os diferentes atores da comunidade; 3. o porto
conhece as necessidades e expectativas dos clientes no que se refere ao serviço global relacionado à
comunidade portuária e existe uma clara preocupação de melhoria dos fluxos logístico-portuários na
exportação e na importação; 4. existe integração entre os diferentes atores da comunidade portuária,
a qual é fomentada pelo porto; 5. existe uma estrutura estabelecida (foro, assembléia, conselho) que
apóia o relacionamento, a interação entre os atores e a tomada de decisão para o aumento da
qualidade e a resolução de problemas da comunidade portuária; 6. há um sistema de qualidade
devidamente estabelecido e formalizado em um manual que inclui procedimentos logísticos e de
operações que englobam as atividades dos diferentes atores da comunidade portuária; 7. a
documentação é emitida, transmitida, apresentada e fiscalizada eletronicamente e o sistema de
informação do porto permite a liberação de saída e entrada de mercadorias sem papel
(documentação física); e 8. há compensações pecuniárias estabelecidas e efetivamente pagas em
casos de descumprimento dos procedimentos de garantia de qualidade;
IV. Segurança, Responsabilidade Social Corporativa e Gestão Ambiental:
1. o porto
avalia seus riscos ambientais segundo a legislação local e os padrões internacionais vigentes; 2. o
porto possui planos de investimento para a gestão ambiental portuária; 3. o porto possui planos de
contingência para acidentes ambientais, riscos e emergências, orientado pela legislação local e pelas
normas internacionais vigentes; 4. o porto faz monitoramento constante do impacto ambiental por
ele causado (emissão de partículas, resíduos, consumo de água e energia, ruído e odores, impacto
visual, etc.); 5. o porto tem projetos de eficiência energética e de sustentabilidade em andamento;
6. o porto desenvolve constantemente programas integrados de melhoria das condições de trabalho
Revista Gestão Industrial
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e da qualidade de vida, incluindo aspectos como prevenção à saúde física e mental (tais como
combate à ansiedade, estresse), desenvolvimento de habilidades interpessoais, gestão de pessoas,
etc.; 7. há uma boa integração porto-cidade e o porto desenvolve projetos sociais e comunitários; e
8. existe uma efetiva comunicação interna e externa da ações de responsabilidade social
desenvolvidas em seus distintos âmbitos (laboral, social e ambiental) e voltadas à comunidade
portuária.
imagem olhar do cais
PROPOSIÇÃO DE UM MODELO CONCEITUAL EM TORNO DA PRÁTICA
DA GOVERNANÇA EM CADEIAS LOGÍSTICO-PORTUÁRIAS
Gabriel Sperandio Milan ; Guilherme Bergmann Borges Vieira
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