Este “mito” teve origem na década de 50. O primeiro acidente grave incêndio do porto de Santos aconteceu em 24.01.1951, quando o petroleiro Cerro Gordo, que descarregava petróleo e derivados, pegou fogo a poucos metros da ilha e foi levado ao meio do canal para controle do fogo.
Enquanto isso, “a população temia que o combustível vazado no estuário pudesse causar incêndio nos tanques da ilha”.
2 de janeiro de 1967, 14h28, sacos de salitre (3.109 ton) estavam sendo descarregados em lingadas do navio atracado no
armazém 25 do Porto de Santos, quando teve início um princípio de incêndio por combustão
espontânea no porão do navio-motor Austral que transportava carga geral, inclusive 950 caixas de
moedas cunhadas pela Casa da Moeda do Chile. Minutos depois o fogo se alastrou, gerando
labaredas de até 30 m de altura, as quais chegaram a ultrapassar as extremidades dos
mastros, ferindo três tripulantes durante a fuga .
Sucessivas explosões permitiram que as chamas se propagassem ainda mais, atingindo a
casa de máquinas. Rebocadores da empresa Wilson Sons combateram o fogo com jatos de
água. Diante da dificuldade em extinguir o incêndio, a Companhia Docas de Santos – CDS,
providenciou a desatracação e a retirada do navio até a margem oposta, em Conceiçãozinha.
Por determinação da Capitania dos Portos, o canal foi interditado.
Após 16hs o incêndio foi controlado mas, em função do ocorrido, o navio começou a
adernar deixando a água entrar. Na manhã de 4 de janeiro outro foco de incêndio teve
início na casa de máquinas, sendo necessária nova ação dos bombeiros. No final da tarde o
navio estava praticamente destruído e parcialmente afundado.
Meses depois o Austral foi desmontado e retirado do local pela empresa Grieves
.
Em 02.09.1969, o petroleiro Guaporé incendiou-se e “obrigou a equipe de segurança da ilha a trabalhar rápido no resfriamento dos tanques de estocagem”. Depois, em 29.07.1974, “houve uma explosão mecânica na própria ilha” causando a morte de um operário e ferimentos em outros e “cerca de 3.150 litros de tolueno foram despejados no estuário”.
Sete anos após em 08.01.1974, o cargueiro Ais Georgius, atracado nos armazéns 30/31 do
Porto de Santos desde 30.12.1973, descarregava mercadorias como leite em pó, óleo de
pinho, resina , produtos químicos e nitrato de sódio. Às 21h34 teve
início um “incêndio violento e incontrolável” devido à combustão espontânea do nitrato de
sódio, embarcado em vagão aberto junto ao costado do navio. Foi considerado “o maior da
história do porto”.
Os bombeiros dominaram o fogo no vagão que ficou todo destruído mas, como o casco do
navio estava aquecido, os produtos químicos dispostos nos porões se incendiaram. Meia
hora depois, as chamas se propagaram . O incêndio foi “seguido de violentas
explosões que sacudiram a cidade e espalharam pânico”e, ainda de madrugada o navio foi rebocado e encalhado perto da
margem esquerda, na direção do armazém 25.
Houve uma vítima fatal, um auxiliar de segurança da Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes da CDS que ajudava a retirar o navio do cais. As notícias informaram que o navio
queimou durante três dias e três noites. Na seqüência teve início intenso e complexo
processo de negociação entre autoridades e empresas especializadas na sua retirada. Em
1978 foram removidos os motores e metais preciosos da embarcação, que chegou a ser
desencalhada e rebocada para um estaleiro em Vicente de Carvalho, onde o desmonte seria
completado. Um forte vendaval arrebentou os cabos que o prendiam ao cais, arrastando-o
para o meio do estuário, voltando a encalhar e ficando apenas com a proa para fora da água,
na direção do armazém 16, constituindo sério perigo para a passagem de navios.
Os destroços continuaram no local por mais de dez anos, contendo tambores com produtos
químicos no seu interior, pois seu resgate era considerado de alta periculosidade , até que partes do navio foram retiradas em 1999. No entanto como ainda
restaram vestígios no local, o rebocador Pégasus naufragou, após ter colidido com estruturas
submersas do Ais Georgius, em maio de 2007 (25 anos depois do naufrágio), poluindo o
estuário e ecossistemas adjacentes, devido ao vazamento de óleo diesel marítimo, inclusive
trazendo prejuízos ao tráfego marítimo do canal .
O acidente de 10.10.1991, quando dois tanques com acetato de vinila e acrilonitrila, se incendiaram após um destes tanques ter sido atingido por um raio. Não houve vítimas, mas o episódio “causou grande apreensão em toda a Baixada Santista”.
E, em setembro de 1998, na Ilha Barnabé, margem oposta à cidade de Santos, ocorreu outro
grave acidente, durante carregamento de caminhão com produto inflamável, em um terminal
químico, conforme descreve o Jornal A Tribuna, entitulado “Fogo na Ilha Barnabé põe a
cidade em perigo” :
Labaredas de fogo tomaram conta de parte da Ilha Barnabé. O incêndio foi provocado por um
vazamento na casa de bombas instalada ao lado de 66 tanques, todos com líquidos inflamáveis.
Nesta ilha, são armazenados cerca de 170 milhões de litros de produtos químicos, o maior
volume do país. Um caminhão-tanque recebia cerca de 80 toneladas de diciclopentadieno quando começou o incêndio. As chamas foram controladas uma hora e
meia após a primeira explosão, às 12h15 e ninguém ficou ferido. Além da nuvem de fumaça
provocada pelo incêndio, o fogo podia ser avistado do outro lado do canal, em Santos. Do meio
do estuário, a visão ainda era mais assustadora segundo a matéria da Tribuna . Parte
do produto que vazou atingiu o estuário e as chamas afetaram bosques de mangues naquela
ilha. Mais de 100 homens trabalharam no combate ao fogo, “o maior da Ilha Barnabé desde
1991”, quando dois tanques de uma empresa pegaram fogo após serem atingidos por um raio.
O que os casos narrados têm em comum? Ocorreram no Porto de Santos, foram notícias de jornal e ilustram que fatos inesperados podem ocorrer no trabalho portuário .
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