30 de jun. de 2022

A negociação trabalhista portuária em andamento

 Um paro nos portos da Costa Oeste são praticamente a última coisa que a economia dos EUA precisa.

Atrasos causados pelo covid19, continuam a criar escassez generalizada de mercadorias em toda a economia e somadas às pressões inflacionárias.

"Estou extremamente nervoso. Já vi esse filme antes", Isaac Larian, CEO da MGA Entertainment. "Não há alternativa real para usar esses portos. Estou orando duas vezes por dia, em vez de uma vez."

O contrato que cobre cerca de 22.000 trabalhadores em 29 portos de San Diego a Seattle, expira em 1º de julho. Neste momento, é improvável que um acordo seja alcançado antes dessa data. Os estivadores operam guindastes e empilhadeiras que movimentam contêineres de carga dentro e fora dos navios.

A administração e o sindicato emitiram um comunicado. "As partes continuam focadas e comprometidas em chegar a um acordo."

Mas especialistas dizem que as empresas que dependem dos portos têm todos os motivos para se preocupar.

"Definitivamente há nervosismo, e deveria haver", disse Peter Tirschwell, vice-presidente da S&P Global Intelligence. Ele destacou que o presidente Joe Biden tirou um tempo durante uma viagem a Los Angeles no início deste mês para se reunir com os membros da ILWU e da Pacific Maritime Association (PMA). "A percepção de risco é tão grande que o presidente dos Estados Unidos sentiu que precisava se encontrar e bater um papo", disse Tirschwell. "Mais problemas no porto é a última coisa que ele precisa."

Os gestores apontam que não seria necessária uma greve ou um bloqueio administrativo para retardar, ou interromper o fluxo de carga. No passado, os estivadores faziam operação tartaruga, em vez de tentar trabalhar de maneira eficiente.

"Talvez eles não façam greve, mas podem desacelerar tudo", Larian, CEO da fabricante de brinquedos.

Quando um colapso nas negociações resultou em um bloqueio de 11 dias em 2002, a economia dos EUA perdeu cerca de US$ 11 bilhões. O presidente George W. Bush interveio e o bloqueio foi suspenso. Em 2015, quando as negociações duraram nove meses, o governo Obama interveio depois que o impasse levou a uma operação, padrão.

"Uma greve é muito improvável. Um lockout é muito improvável", Tirschwell. "Mas há uma possibilidade definitiva de um zinabre que interrompa o fluxo de carga. Foi o que aconteceu por seis meses em 2014 e 2015."

A intervenção precoce de Biden pode ajudar a evitar atrasos graves, Geraldine Knatz, professora de prática de política e engenharia da Universidade do Sul da Califórnia.

 


“No passado, o governo federal aparecia no final quando as negociações estavam em um impasse”, disse Knatz, que foi diretora-executiva do Porto de Los Angeles de 2006 a 2014. “A relação que se desenvolveu entre os portos e o governo Biden como resultado da crise da cadeia de suprimentos é algo que não existia antes.”

O histórico de conversas entre os dois lados é outra coisa que causa nervosismo.

"Não é nenhum segredo que as negociações anteriores entre a PMA e a ILWU nem sempre foram tranquilas. É por isso que ouvi de importadores e exportadores preocupados em todo o nosso país", Jim McKenna, CEO da PMA. "Assegurei a eles, e vou reiterar agora, que o compromisso da PMA é chegar a um novo contrato com o ILWU sem interrupção."

Este é o horário nobre durante a temporada de embarque para empresas que desejam importar mercadorias que podem vender durante o período de férias de fim de ano. Larian transferiu cerca de 10% de seus embarques para os portos da Costa Leste, mas há atrasos e custos mais altos envolvidos nessa mudança.

Sua maior esperança é que a liderança sindical não queira causar problemas para Biden, que geralmente é visto como o maior amigo dos sindicatos a se sentar no Salão Oval.

Automação é questão chave

A PMA disse que o salário médio dos membros da ILWU é de US$ 194.350.

Mas as companhias de navegação e os operadores de terminais estão obtendo enormes lucros graças ao aumento da carga e das taxas.

Os portos da Costa Oeste movimentaram o equivalente a 17,3 milhões de contêineres de 20 pés cheios de carga no ano passado, um recorde e um aumento de 6% em relação ao ano de pandemia de 2019. E as cargas aumentam este ano.

Mas os portos dizem que precisam de mais automação para lidar com a crescente quantidade de carga.

"Vimos... nos últimos 18 meses que os terminais automatizados são os mais eficazes no manuseio de volumes históricos, ao mesmo tempo, em que expandem as oportunidades de trabalho para os membros da ILWU", McKenna, da PMA. As estatísticas da associação mostram que o emprego sindical nos portos aumentou mais de 1.000 empregos, ou 7%, desde 2008, quando o sindicato concordou com maior automação em meio à crise econômica da Bolha Imobiliária.

Com as companhias marítimas e os terminais lucrando muito com a atual enxurrada de cargas, o sindicato não está inclinado a dar à PMA o maior uso de automação que ela busca.

"A automação passou de um problema que eles concederam aos empregadores em 2008 para um problema ao qual se opõem militantemente", Tirschwell.

Em uma carta aberta postada no Facebook no mês passado, o presidente do sindicato, Willie Adams, “o que é melhor para a América”. “A automação representa um grande risco à segurança nacional, pois, coloca nossos portos em risco de serem invadidos, como outros portos automatizados experimentaram”. A exemplo de Durban, o terminal marítimo mais movimentado na África Subsaariana e a APM Terminals, interrompeu as operações em seu terminal Maasvlakte II totalmente automatizado no porto de Rotterdan.

O Wall Street Journal informou no início deste mês que a automação “está se tornando um ponto chave nas negociações de contratos de alto risco”. Os trabalhos programados para automação incluem alguns dos cargos mais cobiçados e bem remunerados, como operadores de guindastes e motoristas de caminhão. Já, dois dos 13 terminais de contêineres nos portos de Los Angeles e Long Beach são automatizados, com planos para mais dois em andamento.



A Beira do cais concordara com qualquer acordo alcançado?

E mesmo que a liderança sindical e a PMA cheguem a um acordo com o qual ambos possam conviver, os membros de base concordarão com tal acordo? Alguns acordos alcançados entre negociadores sindicais e gerenciais de outros empregadores falharam porque os próprios membros do sindicato votaram não.

Em outubro, 90% dos membros do sindicato United Auto Workers da John Deere votaram contra um acordo lucrativo que incluía um bônus de assinatura de US$ 8.500, aumentos de 20% durante a vigência do contrato de seis anos e um ajuste do custo de vida prevista para protegê-los da inflação. Os membros entraram em greve por cinco semanas e rejeitaram um segundo acordo trabalhista provisório antes de finalmente votarem a favor de um terceiro acordo e retornarem ao trabalho, com mais respeito social e econômico.

Um cenário semelhante poderia acontecer nas negociações sobre o trabalho portuário, Todd Vachon, professor assistente e diretor de educação trabalhista da Rutgers University, pois, muitas bases não estão dispostas a aceitar acordos com os quais concordaram no passado, devido à pressão da inflação.

Portanto, mesmo que a liderança sindical queira solidificar seus amigos no governo Biden e chegar a um acordo sem interrupções, acrescentou Vachon, "a parte complicada é vender isso aos membros".

O mês de junho já viu greves portuárias na Alemanha e na Grécia, uma greve de caminhoneiros na Coreia do Sul, que praticamente fechou os portos do país, bem como a primeira greve nacional ferroviária em décadas na Grã-Bretanha. Enquanto isso, um voto de greve para os trabalhadores ferroviários foi convocado nos EUA. Por outro lado, manter os estivadores no trabalho também prejudicaria a posição dos trabalhadores em indústrias relacionadas, como caminhões, ferrovias e armazéns.

Os empresários portuários não compartilham a comovente preocupação dos estivadores com o suposto “bem maior”, mas aproveitaram a escassez para se envolver na manipulação de preços e elevar os lucros a níveis recordes. De fato, apesar dos problemas contínuos da cadeia de suprimentos, o Los Angeles Times informou no início deste mês que os lucros entre as empresas representadas pela PMA ultrapassaram US$ 150 bilhões somente no ano passado.

https://edition.cnn.com/2022/06/20/economy/west-coast-port-labor-talks/index.html

https://www.nytimes.com/2022/06/30/business/economy/ports-workers-union-california.html

https://www.wsws.org/en/articles/2022/06/28/grtj-j28.html

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