Um paro nos portos da Costa Oeste são praticamente a última coisa que a economia dos EUA precisa.
Atrasos causados pelo covid19, continuam a criar escassez
generalizada de mercadorias em toda a economia e somadas às pressões
inflacionárias.
"Estou extremamente nervoso. Já vi esse filme
antes", Isaac Larian, CEO da MGA Entertainment. "Não há alternativa
real para usar esses portos. Estou orando duas vezes por dia, em vez de uma
vez."
O contrato que cobre cerca de 22.000 trabalhadores em 29
portos de San Diego a Seattle, expira em 1º de julho. Neste momento, é
improvável que um acordo seja alcançado antes dessa data. Os estivadores operam
guindastes e empilhadeiras que movimentam contêineres de carga dentro e fora
dos navios.
A administração e o sindicato emitiram um comunicado.
"As partes continuam focadas e comprometidas em chegar a um acordo."
Mas especialistas dizem que as empresas que dependem dos
portos têm todos os motivos para se preocupar.
"Definitivamente há nervosismo, e deveria haver",
disse Peter Tirschwell, vice-presidente da S&P Global Intelligence. Ele
destacou que o presidente Joe Biden tirou um tempo durante uma viagem a Los
Angeles no início deste mês para se reunir com os membros da ILWU e da Pacific
Maritime Association (PMA). "A percepção de risco é tão grande que o
presidente dos Estados Unidos sentiu que precisava se encontrar e bater um
papo", disse Tirschwell. "Mais problemas no porto é a última coisa
que ele precisa."
Os gestores apontam que não seria necessária uma greve ou um
bloqueio administrativo para retardar, ou interromper o fluxo de carga. No
passado, os estivadores faziam operação tartaruga, em vez de tentar trabalhar
de maneira eficiente.
"Talvez eles não façam greve, mas podem desacelerar
tudo", Larian, CEO da fabricante de brinquedos.
Quando um colapso nas negociações resultou em um bloqueio de
11 dias em 2002, a economia dos EUA perdeu cerca de US$ 11 bilhões. O
presidente George W. Bush interveio e o bloqueio foi suspenso. Em 2015, quando
as negociações duraram nove meses, o governo Obama interveio depois que o
impasse levou a uma operação, padrão.
"Uma greve é muito improvável. Um lockout é muito
improvável", Tirschwell. "Mas há uma possibilidade definitiva de um
zinabre que interrompa o fluxo de carga. Foi o que aconteceu por seis meses em
2014 e 2015."
A intervenção precoce de Biden pode ajudar a evitar atrasos
graves, Geraldine Knatz, professora de prática de política e engenharia da
Universidade do Sul da Califórnia.
“No passado, o governo federal aparecia no final quando as
negociações estavam em um impasse”, disse Knatz, que foi diretora-executiva do
Porto de Los Angeles de 2006 a 2014. “A relação que se desenvolveu entre os
portos e o governo Biden como resultado da crise da cadeia de suprimentos é
algo que não existia antes.”
O histórico de conversas entre os dois lados é outra coisa
que causa nervosismo.
"Não é nenhum segredo que as negociações anteriores
entre a PMA e a ILWU nem sempre foram tranquilas. É por isso que ouvi de
importadores e exportadores preocupados em todo o nosso país", Jim
McKenna, CEO da PMA. "Assegurei a eles, e vou reiterar agora, que o
compromisso da PMA é chegar a um novo contrato com o ILWU sem
interrupção."
Este é o horário nobre durante a temporada de embarque para
empresas que desejam importar mercadorias que podem vender durante o período de
férias de fim de ano. Larian transferiu cerca de 10% de seus embarques para os
portos da Costa Leste, mas há atrasos e custos mais altos envolvidos nessa
mudança.
Sua maior esperança é que a liderança sindical não queira
causar problemas para Biden, que geralmente é visto como o maior amigo dos
sindicatos a se sentar no Salão Oval.
Automação é questão chave
A PMA disse que o salário médio dos membros da ILWU é de US$
194.350.
Mas as companhias de navegação e os operadores de terminais
estão obtendo enormes lucros graças ao aumento da carga e das taxas.
Os portos da Costa Oeste movimentaram o equivalente a 17,3
milhões de contêineres de 20 pés cheios de carga no ano passado, um recorde e
um aumento de 6% em relação ao ano de pandemia de 2019. E as cargas aumentam
este ano.
Mas os portos dizem que precisam de mais automação para
lidar com a crescente quantidade de carga.
"Vimos... nos últimos 18 meses que os terminais
automatizados são os mais eficazes no manuseio de volumes históricos, ao mesmo
tempo, em que expandem as oportunidades de trabalho para os membros da
ILWU", McKenna, da PMA. As estatísticas da associação mostram que o
emprego sindical nos portos aumentou mais de 1.000 empregos, ou 7%, desde 2008,
quando o sindicato concordou com maior automação em meio à crise econômica da Bolha
Imobiliária.
Com as companhias marítimas e os terminais lucrando muito
com a atual enxurrada de cargas, o sindicato não está inclinado a dar à PMA o
maior uso de automação que ela busca.
"A automação passou de um problema que eles concederam
aos empregadores em 2008 para um problema ao qual se opõem
militantemente", Tirschwell.
Em uma carta aberta postada no Facebook no mês passado, o
presidente do sindicato, Willie Adams, “o que é melhor para a América”. “A
automação representa um grande risco à segurança nacional, pois, coloca nossos
portos em risco de serem invadidos, como outros portos automatizados
experimentaram”. A exemplo de Durban, o terminal marítimo mais movimentado na
África Subsaariana e a APM Terminals, interrompeu as operações em seu terminal Maasvlakte
II totalmente automatizado no porto de Rotterdan.
O Wall Street Journal informou no início deste mês que a
automação “está se tornando um ponto chave nas negociações de contratos de alto
risco”. Os trabalhos programados para automação incluem alguns dos cargos mais
cobiçados e bem remunerados, como operadores de guindastes e motoristas de
caminhão. Já, dois dos 13 terminais de contêineres nos portos de Los Angeles e
Long Beach são automatizados, com planos para mais dois em andamento.
A Beira do cais concordara com qualquer acordo alcançado?
E mesmo que a liderança sindical e a PMA cheguem a um acordo
com o qual ambos possam conviver, os membros de base concordarão com tal acordo?
Alguns acordos alcançados entre negociadores sindicais e gerenciais de outros
empregadores falharam porque os próprios membros do sindicato votaram não.
Em outubro, 90% dos membros do sindicato United Auto Workers
da John Deere votaram contra um acordo lucrativo que incluía um bônus de
assinatura de US$ 8.500, aumentos de 20% durante a vigência do contrato de seis
anos e um ajuste do custo de vida prevista para protegê-los da inflação. Os
membros entraram em greve por cinco semanas e rejeitaram um segundo acordo
trabalhista provisório antes de finalmente votarem a favor de um terceiro
acordo e retornarem ao trabalho, com mais respeito social e econômico.
Um cenário semelhante poderia acontecer nas negociações
sobre o trabalho portuário, Todd Vachon, professor assistente e diretor de
educação trabalhista da Rutgers University, pois, muitas bases não estão
dispostas a aceitar acordos com os quais concordaram no passado, devido à
pressão da inflação.
Portanto, mesmo que a liderança sindical queira solidificar
seus amigos no governo Biden e chegar a um acordo sem interrupções, acrescentou
Vachon, "a parte complicada é vender isso aos membros".
O mês de junho já viu greves portuárias na Alemanha e na
Grécia, uma greve de caminhoneiros na Coreia do Sul, que praticamente fechou os
portos do país, bem como a primeira greve nacional ferroviária em décadas na
Grã-Bretanha. Enquanto isso, um voto de greve para os trabalhadores
ferroviários foi convocado nos EUA. Por outro lado, manter os estivadores no
trabalho também prejudicaria a posição dos trabalhadores em indústrias
relacionadas, como caminhões, ferrovias e armazéns.
Os empresários portuários não compartilham a comovente
preocupação dos estivadores com o suposto “bem maior”, mas aproveitaram a
escassez para se envolver na manipulação de preços e elevar os lucros a níveis
recordes. De fato, apesar dos problemas contínuos da cadeia de suprimentos, o
Los Angeles Times informou no início deste mês que os lucros entre as empresas
representadas pela PMA ultrapassaram US$ 150 bilhões somente no ano passado.
https://edition.cnn.com/2022/06/20/economy/west-coast-port-labor-talks/index.html
https://www.nytimes.com/2022/06/30/business/economy/ports-workers-union-california.html
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