16 de jun. de 2014

Esqueceram de mim na beira do cais

Trabalhador portuário, “peça” esquecida no sistema

Enquanto cada vez mais as empresas, mesmo no Brasil,
 valorizam seu “patrimônio humano”, que consideram ser a garantia de seu futuro,
 os portos nacionais fazem justamente o contrário: 
não promovem o treinamento dos trabalhadoresnão oferecem condições mínimas de segurança no trabalho, ou mesmo instalações adequadas às necessidades dos trabalhadores.

Em sua palestra, Dina da Luz Monteiro e Aguiar, 
presidente do Instituto Nacional de Desenvolvimento Portuário Indep, 
foi bastante contundente, ao mostrar o problema.

 Lembrou que os cursos para treinamento de portuários, por exemplo, dão conhecimento teórico,mas o aluno não tem a prática necessária para manobrar um transtêiner 
e outros equipamentos mais sofisticados porque o empresário tem medo de entregar equipamentos caros nas mãos dos alunos. 
Ao mesmo tempo, não investe na aquisição de simuladores
A falta de preparo dos trabalhadores gera acidentes graves, com prejuízos para as empresas, e até mesmo no controle da poluição ambiental, o despreparo do trabalhador está na raiz de casos de poluição (uma válvula aberta por engano, gerando uma mancha de óleo, por exemplo) que resultam em elevadas multas e indenizações,

Outro grave problema é a segurança no trabalho:
 “Não há segurança do trabalho nos portosela não integra o plano de negócio das empresas, só como obrigação legal. Perde-se com isso qualidade de vida, e o primeiro efeito disso é na saúde, então o trabalhador sofre e se revolta. Isso prejudica muito as relações entre Capital e Trabalho no ambiente portuário”.

As condições de trabalho nos portos são péssimas, sendo elevados os casos de tuberculose e de pressão arterial elevada; o treinamento deficiente; os conflitos interpessoais 
(nem sempre todos concordam em paralisar uma operação com elevados riscos pessoais, pois precisam daquele ganho, mesmo correndo grande risco).
 Formam-se máfias (lideranças negativas) para manobrar o trabalho, e é dentro dos Ogmo’s que tais conflitos são evidenciados.

A falta de proteção do INSS para os trabalhadores que atuam sem registro na área portuária (“carteirões”, na gíria do Rio, ou “bagrinhos”, na forma santista). 
O passivo ambiental é usado politicamente contra o empregador, gerando conflitos.

“Não há outro lugar onde a notícia corra mais no boca-a-boca entre os trabalhadores que no portoSe ocorre um acidente com morte, em instantes a história se espalha e a comoção resultante faz o rendimento do trabalho ser reduzido em todo o porto, nesse dia e nos subseqüentes”, disse ela.
Uma crítica à lei 8.630/93, de modernização dos portos, se refere à inabilidade dos legisladores, que tiraram dos trabalhadores os seus sindicatos e no lugar colocaram o Ogmoque passou a ser visto como um inimigo, a serviço das empresas.
Dados de uma pesquisa feita  no porto do Rio de Janeiro entre trabalhadores e lideranças do setor. 
Ali, o porto é considerado uma área de extrema negatividade perante a família, que não o conhece, não entende seu funcionamento, por ser impedida de entrar nesse ambiente, 
e isso é uma fonte de problemas familiares.
O trabalhador tem plena consciência dos riscos que corre e dos problemas de saúde que seu trabalho acarreta, mas ignora propositalmente essas questões, por ter de garantir ali o seu ganha-pão. 
Evita as consultas médicas, que evidenciariam problemas de estresse e o obrigariam a reduzir o ritmo de trabalho, conseqüentemente o seu rendimento. 
Enfrenta o risco de manipular de forma inadequada certas cargas perigosas, pela mesma razão. A média de idade é alta, há trabalhadores no cais com 81 anos de idade e sem a aposentadoria especial do INSS.

“Os trabalhadores do OGMO não recebem equipamentos adequados, pois são caros e os empresários temem que os trabalhadores avulsos poderiam vendê-los. 
Na mesma função, um funcionário de um terminal no retroporto usa equipamentos mais adequados que os trabalhadores avulsos", citou Dina.

"Poderíamos fazer a revitalização dos portos com o emprego dos TPAs, dando-lhes assim um novo mercado de trabalho", lembrou, dizendo ser necessário criar condições de fixar a mão-de-obra portuária, pois as péssimas condições estão afastando esse pessoal para outras atividades e nos próximos anos os portos terão problemas com a falta de gente para o trabalho no cais.
E a reabilitação profissional é a principal falha (por ausência) da lei 8.630. 
É preciso mudar a cultura no cais, estabelecendo novos valores, hábitos e procedimentos, com a implantação de estruturas de segurança, saúde, treinamento, em ambiente de qualidade total – essa é uma reivindicação de todos os participantes da pesquisa.

 Fonte http://portogente.com.br/noticias/transporte-logistica/radar-portuario/trabalhador-portuario-peca-esquecida-no-sistema-10617

Muitos anos após o debate do painel quais foram as mudanças
 para o crescimento do tpa na comunidade portuária.
Quando sera implantada as normas e convenções que favorecem os trabalhadores portuarios a exemplo da Convenção 137 ,Resolução 145 da Organização Internacional do Trabalho OIT e os Artigos das leis brasileiras .

Um comentário:

  1. Ótimo texto!
    Triste realidade!
    E onde estão os representantes sindicais para brigar por isso?
    Tenho certeza que todos estão brigando, mas o apelo do poder econômico sempre fala mais alto!
    Ainda acredito que as coisas melhorarão!

    Parabéns pelo texto!

    Silvio Menezes
    Rio Grande - RS.

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